DA GUERRA DO AÇO À GUERRA MUNDIAL
O ano novo chinês pode ser do cão (lealdade e amizade), mas a semana do cão de fato foi do Presidente Trump. As investigações sobre a influência russa nas eleições americanas prosseguem, o Presidente da China conseguiu mudar a legislação mediante a qual se torna praticamente presidente eterno, o genro dele que atua na Casa Branca como assessor foi rebaixado ao ponto de não poder mais participar das reuniões que envolvem segurança nacional, e a Diretora de Comunicações da Casa Branca, Hicks, a “filha adotiva” de Trump, pediu demissão. E Putin, à véspera de ser eleito pela quarta vez, desafiou o mundo com armas novas, sofisticadas e mortais.
E nesta semana do cão, para dizer assim, Trump não seria Trump, se não saísse ao ataque e virasse o jogo: tudo isso não importa, o que importa é que eu mando aqui e ali. E atacou com uma atitude tola, segundo a imprensa norte-americana, estabelecendo sobretaxa para a importação de aço (25%) e alumínio (10 %). Protegeu a pouco competitiva indústria americana de aço, fez felizes os sindicatos do trabalhadores que eram tradicionalmente a favor dos democratas, enriqueceu meia dúzia de seus amigos do setor e desarranjou o mundo. Por que? Com a diferença de outras medidas
antidumping, (contra a importação de produtos a preços baixos) ele atingiu o mundo inteiro, aumentou os preços internos com imprevisível efeito na cadeia produtiva norte-americana, que usa aço e alumínio (construção civil, aviação , indústria automobilística, linha branca etc.). e desencadeou uma onda de protecionismo impar, inclusive de países amigos e aliados históricos como o Canada e a Coréia do Sul.
Em resumo, se Trump precisasse estar liderando caos mundial, parece que conseguiu. A raiz do problema, que é o excesso de produção de aço no mundo, devido à produção chinesa (que por outro lado consome nossos minérios), não vai ser resolvido por essa medida. As reclamações na Organização Mundial de Comércio também vão ficar sem efeito porque os Estados Unidos estão pouco ligando para a OMC. E o Brasil, segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, este sim vai ficar afetado. E muito. Porque de um lado se fecha nosso maior mercado, por outro lado continuamos com o nosso mercado aberto à importação de aços, no ano passado correspondente a uma Usiminas, aberto.
O que pode ser feito após a casa cair? Chorar na porta do governo dos Estados Unidos, cujo Secretário de Estado, na visita à América Latina, nem pelo espaço aéreo brasileiro passou, e perder tempo. Temos que achar produtos que os Estados Unidos, ainda maior importador do mundo, importem e nos fazem competitivos em vista das novas medidas. Ou seja, produtos que incluem aço e alumínio, como de automóveis até carrinhos de supermercado ou talheres. Ou peças fundidas.
Em segundo ponto, temos que fazer a nossa indústria de aço competitiva. A fragilidade das nossas siderúrgicas, endividas, brigando entre si, com pouca cooperação entre elas, só vai aumentar. Com importação desenfreada, e agora sobrando produto no mundo, o mercado brasileiro será invadido por produtos que estão sobrando no mercado norte-americano.
Os norte-americanos só entendem uma língua, e esse governo ainda mais: do comercio e negócios. Então, como vender a Embraer à Boeing neste momento de guerra comercial? Como comprar etanol e trigo deles, se eles não compram nossos produtos? Materiais bélicos? Temos que rever toda a nossa relação, sem bravatas, sem ameaças, mas com firmeza. Não compra meu, não compro seu. Mas o governo vai fazer isso? Mas isso resolve? Só podemos esperar o impossível:que isso não desarranje o sistema econômico mundial e crie nova recessão.