DA VUNERABILIDADE COMERCIAL
O episódio do tarifaço pode ser a grande oportunidade para que, aprendendo as lições, mudemos de atitude e comecemos a trabalhar com um projeto de Brasil orientado para mundo, aberto e competitivo. Paradoxalmente, devemos estar gratos pelo choque que o governo Trump está nos impondo, desde que estejamos preparados para mudar.
A ida de uma centena de empresários brasileiros a Washington na semana passada,com o firme propósito de defender os interesses nacionais, com algumas exceções de defesas técnicas muito bem preparadas, demonstrou mais do que nunca que o rei está nu. Simples assim. A correria atrás de lobistas e RP, que por sinal estão cobrando altíssimo, mostra cada vez mais que não estamos presentes em Washington. Batendo no peito que temos 200 anos de relacionamento com os EUA, entre os quais todos esquecem os eventos de 64, não ajuda nada porque hoje em dia nos não somos a pauta. E, vamos ser francos, não criamos uma relação doradoura e profunda com a sociedade norte-americana. Carmen Miranda, Sérgio Mendes, Pelé e mais dois milhões de brasileiros lá não substituem a presença permanente de entidades empresariais. A entidade que tivemos há 22 anos morreu e nenhuma outra entidade empresarial se estabeleceu. A APEX, que tem escritório em Miami, colocou na chefia o pai do tenente-coronel Cid, um general de quatro estrelas, amigo do Bolsonaro, que ficou conhecido pelas transações de relógios e joias. E a promoção de empresas brasileiras ficou para trás e a conta chegou.
Muitos dos que foram nessa visita se queixaram amargamente de nossa embaixada lá. Queixas justificadas ou não, o fato é que os canais diplomáticos estão “entupidos”, como disse um interlocutor. Interessante é observar que no governo Lula 1 esses canais estavam fluidos, mesmo com um presidente extremista republicano como George Bush. O que aconteceu é que mesmo no governo Biden já começamos a nos afastar de Washington e no governo Trump chegamos praticamente à ruptura.
O assustador é como estamos despreparados e desarticulados. O empresariado está se defendendo como pode, sem perceber que o tarifaço bate pelo mundo afora. No agro somos concorrentes do agro norte-americano e eles vão querer reconquistar os mercados que perderam para nós. Ha também a questão da regulamentação dos big tech, um assunto que no momento perde importância mas que é fundamental para os EUA. E na questão política temos que entender que a realidade é que os EUAnão querem governos que confrontem seus interesses. Simples.
A bandeira norte-americana nas manifestações bolsonoristas e o uso do confronto para aumentar a popularidade são dois elementos extremos que em nada ajudam a resolver os problemas econômicos que estamos enfrentando, cuja dimensão ainda não percebemos e para a qual não estamos preparados. O rei está nu.
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