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Friday, 20 December 2024

DO ACORDO SEM ACORDO MERCOSUL- UNIÃO EUROPEIA

Bateram palmas e beberam champanhe. Fecharam um acordo que dá aos 27 países da União Europeia um acesso privilegiado tanto político como comercial a cinco países do Mercosul, um mercado de mais de 300 milhões de consumidores. Um acordo que na própria Europa não foi aplaudido nem por agricultores e nem por um país como a França. E por aqui virou vitória dos governos, enquanto ainda não se acordou, fora de algumas exceções na área de agro, o que esse acordo muda na economia e na vida das pessoas.

Enquanto o processo de ratificação do acordo vai correndo pelos parlamentos nacionais lá e cá, a Comissão Europeia, representando a UE,  terá que convencer, em especial França, de que não tinha alternativa: ou fechava um acordo, após o conflito com a Rússia, o crescimento da China e a vinda de Trump, todos elementos que enfraquecem a economia europeia , acrescentando um mercado importante, ou perdia a oportunidade. O acordo é muito, mas muito mais importante para a UE do que para Brasil.

Vamos tomar como exemplo a indústria automobilística. Na Europa, numa crise sem precedentes. No Brasil, xodó do desenvolvimento, com motores de combustão, flex, etanol. Lá terão que fabricar outros modelos,  para que possam transferir para os países do MERCOSUL maquinário, peças e modelos que ainda serão bem aceitos no mercado local. E isso vale para  toda a indústria. O Brasil vai importar equipamentos e tecnologias  de segunda geração. Além do mais, a indústria europeia é mais competitiva do que a brasileira, e portanto, com a eliminação de tarifas, mesmo em 12 anos, vamos importar mais e mais.

Exportar? Os  Europeus vão continuar criando todo tipo de dificuldade para importar nossos produtos agrícolas. Mesmo com o reconhecimento de 350 produtos com origem, como alguns vinhos e queijos, teremos que fazer um esforço mercadológico, o que hoje não estamos fazendo, para colocar produtos industrializados no mercado europeu. No café, por exemplo, ao contrário dos colombianos, não temos marcas internacionais e a exportação de cafés especiais é ínfima comparando com café em grão.

Se quisermos aproveitar bem o acordo, temos um trabalho gigante à frente. Primeiro, preparar-nos do ponto de vista jurídico. Não confundir direito internacional com direito da UE. Conhecer bem a dinâmica da UE, estabelecer pontas em Bruxelas. É incrível que nossas entidades empresariais não tenham escritórios lá e nem planos pós-acordo par preparar seus associados para um modelo econômico gerado pelo acordo bem diferente dos que temos hoje.

Os belgas trouxeram uma missão de 400 pessoas para aumentar o comércio pós-acordo . Até a Eslováquia trouxe o Primeiro-Ministro. E quantas missões brasileiras foram à UE vender? Acabou, agora tem que trabalhar.

 

O governo Lula vai ficar com os louros de que assinou o acordo, más também não tem nenhum plano para fazer do limão a limonada. E se não nos prepararmos, vamos virar uma colônia diferente mas ainda colônia dos europeus, na indústria e na tecnologia.

O acordo é também um chute nos nossos melhores parceiros, China e Estados Unidos. Os dois aparentemente perderam espaço, mas vão reagir. Com a presidência Argentina do Mercosul, um aliado íntimo de Trump,  não é de estranhar se insistirem em um  acordo comercial com os Estados Unidos. A China tem um plano B e vai concorrer com todas as forças para manter seus mercados na América do Sul. E pelo visto, até agora, os europeus perderam essa batalha.

Cada empresa tem que ver como será o seu futuro. Não subestime a necessidade que os europeus têm de um mercado como o brasileiro. Croissant vem da França congelado, maçã vem da Itália, os franceses têm redes de distribuição de alimentos, hotelaria, material de construção, os espanhóis concessões de todos os tipos, italianos comunicações, automóveis , energia e os alemães, indústria de todo tipo. E você pode ter certeza de que todos eles vão aumentar as compras de suas matrizes e de seus parceiros europeus.

Esse acordo muda totalmente a nossa economia, principalmente porque o parceiro é muito mais eficiente e até agressivo nos negócios do que nós. Boa sorte.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Thursday, 12 December 2024

ARGENTINA AND ECONOMIC TANGO

 OF ETERNAL HOPE: Argentina

(Directly from Buenos Aires)


Arriving in the marvelous city of Buenos Aires after a meeting with Argentina’s Minister of Economy at FIESP and still savoring the Botafogo victory, during the week marking one year of flamboyant Milei’s government, is an unprecedented experience. Everything is clean, beautiful, with crowded restaurants, excellent security, and a terrible exchange rate—1 dollar equals 1,000 pesos. Everything is expensive (a breakfast at the famous La Biela costs 150 reais per person). This is an Argentina that saw 20.6% inflation in January, which dropped to 3.2% in November. The exchange rate is stable, commercial import debts have been paid, and a president who brought the conservative world to Buenos Aires for a global meeting is now the star of the moment. The entire world is watching the “second half” of the chainsaw-wielding president’s term, whose rhetoric bears striking similarities to the speeches of Hitler and Mussolini.


Countries caught in inflationary spirals and profound economic and social crises often see democratically elected saviors turn into democracy’s destroyers and eventual dictators.


The first year of budget cuts, targeting the excesses of public administration and the mismanaged public finance system accumulated over decades, was relatively easy. It’s easy to hit retirees, the unemployed, the cultural sector, universities (it’s worth watching an excellent Argentine film on the subject, Puan), researchers, and public servants. The real challenge will be to restore economic growth. The prospects for economic development in a country plagued by massive poverty, unemployment, hunger, and social disparities—favoring agriculture and mining, sectors that do not generate many jobs—are not promising.


Despite having a solid industrial base, it lacks competitiveness, and nothing suggests that the current government’s policies will create new jobs. There’s also a labor shortage, as many young, qualified professionals have emigrated. The country needs more than radical rhetoric and chainsaw-like cuts to public finances; it requires a sustainable growth plan.


Some say Milei’s violent rhetoric should be ignored, asserting that he is pragmatic, particularly in his approach to China and Brazil. Undoubtedly, he enjoys full support from Trump, which translates to the IMF, to which Argentina owes $45 billion. However, this external pragmatism is coupled with radical ideological actions internally, dividing the country, which will face its first major test in the midterm elections next year. If Milei succeeds, his example could influence Brazilian elections as well.


The Argentine people’s patience with Milei’s government—despite basic staples like beef (a dietary essential) rising 9% in November and 14% in early December—is born out of despair. While Milei’s approval ratings are high, so is the cost of living, with wages remaining frozen.


Anyone familiar with the economic patterns of South America might feel they’ve seen this movie before: Martínez de Hoz, Domingo Cavallo, Dilson Funaro, Zélia, and, last but not least, the Plano Real. After the deluge, there’s hope for sunlight. Even with Trump and the IMF’s backing, it will be harder next year to keep inflation low and sustain growth. Rhetoric must translate into concrete actions, requiring political skill, public support, and consistent technical foundations.


The results Milei’s government may achieve represent the hope of conservatives worldwide—especially in Brazil. Foreign investments might choose Argentina over Brazil, and positive economic effects could reinforce the belief that these policies are also suitable for other countries. Until 2026 arrives, watching this thousandth Argentine experiment unfold—while it chairs Mercosur and insists on deals with the U.S., failing to realize that a thriving Argentina also benefits Brazil—will remain the favorite sport of economists and those footing the bill.


Stefan Šalej

December 12, 2024

www.salejcomment.blogspot.com


DA ESPERANÇA ETERNA: Argentina

 




DA ESPERANÇA ETERNA: Argentina

(Direto de Buenos Aires )

 Chegar à maravilhosa cidade de Buenos Aires após um encontro com o Ministro da Economia da Argentina na FIESP e ainda com o cheiro da vitória  do Botafogo, na semana de um ano do governo do flamboyantMilei, é uma experiência inédita. Tudo limpo, bonito, restaurantes cheios, segurança excelente, um câmbio ruim, 1 dólar por mil pesos, tudo caro (um café da manhã na famosa La  Biela, 150 reais por pessoa). É uma Argentina que em janeiro teve inflação de 20.6 % e em novembro, 3.2 %. Câmbio estável. Dívidas comerciais de importações pagas e um Presidente que trouxe o mundo conservador a Buenos Aires para uma reunião mundial, estrela do momento. O mundo inteiro está observando como será o segundo tempo do mandato do motoserra, cujo discurso parece e muito com os discursos de Hitler e Mussolini. Países em espiral inflacionária e crise econômica e social profunda, cujos salvadores democraticamente eleitos se tornam destruidores da democracia e ditadores.

O primeiro ano de cortes no orçamento público, que atingiram as gorduras da administração pública e o sistema corrompido do ponto  de vista da gestão temerária por dezenas de anos de finanças públicas, foi fácil. É fácil bater nos aposentados, desempregados, na cultura, nas universidades ( vale a pena ver um filme argentino excelente sobre  o assunto, Puan), pesquisadores e funcionários públicos. Complexo e difícil será recompor o crescimento da economia. As indicações de desenvolvimento econômico num país de enorme miséria, desemprego, fome e diferenças sociais, que privilegia o agro e a mineração, que não geram emprego, não são muito auspiciosas.

Apesar de uma base industrial boa, mas não competitiva, nada indica que o projeto da atual governo vá criar novos empregos. Há também uma crise de mão de obra, já que houve uma enorme emigração de jovens qualificados. O país precisa mais do que de discurso radical e motoserra nas financas públicas, um projeto de crescimento sustentável.

Dizem que o discurso violento de Millei é para ser ignorado. Que ele é pragmático e que assim age em relação à China e ao Brasil. Sem dúvida tem todo o apoio de Trump, leia-se FMI, ao qual a Argentina deve 45 bilhões de dólares. Mas, o pragmatismo externo é também uma ação ideológica muito radical no plano interno, que divide o país que terá seu teste nas eleições intermediárias daqui a um ano. E Millei dando certo, o exemplo dele terá reflexo também nas eleições brasileiras.

A santa paciência dos argentinos com o governo Millei, a carne, que é alimento básico, subiu em novembro 9 %, e no início de dezembro, 14 %, é resultado do desespero. A aprovação de Millei  é alta, mas o custo de vida, também, e os salários estão congelados.

Alguém que já vagou pelas economias sul americanas, tem impressão que já viu este filme. Martinez de Hoz, Domingos Cavallo, Dilson Funaro, Zélia, last but not least Plano Real. Depois de dilúvio, esperança do sol.Mesmo com apoio do Trump e FMI, no próximo  ano será mais difícil para manter a inflação baixa e manter crescimento. O discurso terá que se transformar em ações concretas exigindo habilidade política, apoio de população e bases técnicas consistentes.

Os resultados que governo Millei pode obter são a esperança dos conservadores no mundo inteiro. E em especial dos brasileiros. Os investimentos estrangeiros podem escolher Argentina invés do Brasil, mas os efeitos econômicos positivos podem também gerar a certeza que essas políticas são as mais adequadas também para outros países. Enquanto não chega 2026, observar o experimento número mil na Argentina presidindo Mercosul e insistindo fazer acordo com Estados Unidos e não no final de contas entender que se Argentina vai melhor, também o Brasil melhora, será um esporte preferido dos economistas e dos que pagam a conta.

 

Stefan Šalej

12.12.2024.

Www.salejcommment.blogspot.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Friday, 6 December 2024

DO REAL QUE BALANÇA E DO DÓLAR QUE FICA

 DO REAL QUE BALANÇA E DO DÓLAR QUE FICA

 

Nos últimos dias tremeu a República econômica com a paridade do dólar dos EUAestar a 6 reais. A desvalorização do real neste ano foi das maiores entre as moedas dos países emergentes, mas no Brasil as variações cambiais passam de efeito econômico para o campo da percepção tanto política como econômica. E em qualquer circunstância, real valorizado (dólar baixo) ou desvalorizado (dólar alto), sempre há insatisfeitos: os exportadores querem real desvalorizado e osimportadores, valorizado. Assim as importações ficam baratas e as exportações competitivas. E em um país onde o custo de produzir é alto, a manipulação da taxa de câmbio faz parte da política de oferecer aos exportadores melhores condições de competir. Também é mais atrativo para a vinda de investimentos estrangeiros.

A moeda é um ativo sujeito a especulações. A recente “subida” do dólar, ou seja, a desvalorização do real em função do debate sobre o corte de despesas públicas, foi sim aproveitada por especuladores e deu um valor mais real à moeda brasileira. Não devemos também esquecer que houve, com a eleição de Trump, umfortalecimento do dólar e que muitas moedas se desvalorizaram, não só o real.

Olhando as contas externas do Brasil, em geral vistas com euforia, mas com pouco realismo, www.bcb.gov.br, verificamos um déficit persistente nas contas correntes2023, 42.8 bilhões e em 2024, 49.2 bilhões de USD para o mesmo período de dez meses no ano. Nosso balanço comercial ainda é positivo, mas as despesas no exterior têm aumentado. A vinda de investimentos estrangeiros, 63.8 bilhões, se mantém, como também as remessas de lucros das empresas multinacionais em torno de 40 bilhões é igual nos dois últimos anos. Ou seja, vale a pena investir no Brasil.

A guerra comercial anunciada por Trump vai se tornar uma guerra de moedas. Odólar é ainda a moeda de trocas e totalmente administrada pelos EUANão temos qualquer interferência. E quando o Brasil começou a falar em fazer uma moeda dos BRICS, levou um soco preliminar de Trump, determinando as regras do jogo.

Em uma economia volátil politicamente como a nossa, o dólar se torna, na classe média, moeda de poupança, de segurança e por isso a sua volatilidade se torna um problema político. Enquanto o Brasil tem 366 bilhões de reservas cambiais, os brasileiros, número não confirmado oficialmente, 500 bilhões nos EUA e na Suíça. 

O valor do real em relação a outras moedas tem também influência na inflação,porque para cada dólar que entra há emissão correspondente em real. E como importamos muitohá aumento do custo de vida. 

O jogo de moedas, sobe e desce, será, no próximo ano, devido às políticas norte-americanas, ainda mais emocionante. Para termos serenidade é bom distinguirmosquê o governo pode fazer, e o quê não.

Sunday, 1 December 2024

FRANÇA : BRASIL, da guerra de lagosta à guerra da carne

 Q DA GUERRA DA LAGOSTA À GUERRA DA CARNE

 

francês arrogante, cuja empresa no Brasilque emprega 130 mil pessoasproduz um quarto do lucro da matriz parisiense, fez uma declaração inadequada, impropria e inoportuna. O que disseque não vão comprar mais carnes do MERCOSULfoi interpretado como ofensa e a reação no Brasil levou a um pedido de desculpas. Em outros países do cambalido MERCOSUL não houve a mesma reação, mas aqui se aproveitou para unir setor o agrícola e demonstrar que o governo cuida dointeresses dos fazendeiros, que andam muito desconfiados do pessoal de Brasília.

Tivemos certa sorte para que guerra do boi e do porco terminasse nas desculpas. O conflito sobre pesca da lagosta no início de 60 virou quase batalha naval entre Brasil e França. E durou três anos para ser resolvido. Da época, atribuem ao Presidente francês De Gaulle a frase de que Brasil não é um pais sério. Mas os dois conflitos na essência mostram que mesmo tendo a maior fronteira terrestre, a da França com Brasil, e interesses econômicos que vão além das ligações culturais e educacionais, com 500 mil brasileiros empregados nas empresas francesas, não existe uma parceria de desenvolvimento entre os dois países. Presidente Macron recebeu há um mês um grupo grande de empresários brasileiros no palácio do governo, para jantar comme il faut, liderados pela Lide do ex-governador de São Paulo, João Doria, onde só tinha amor regado a champanhe.

Mas isso não impede os franceses, unidos nessa questão da extrema direita aos ecologistas, de ser contra o acordo entre a UE e MERCOSUL. Os franceses preferem perder esse acordo e continuar fornecendo ao Brasil tecnologia nuclear, aviões e manter seus investimentos dominando o mercado brasileiro, como é o setor alimentar e de construção, além do de hotelaria. 

Quem precisa mais do acordo, por sinal em discussão sigilosa está semana em Brasília, são outros países da Europa, como a Alemanha. A crise profunda na UE e o novo protecionismo de Trump, além da ameaça russa e da invasão industrial chinesa, enfraqueceram Europa, que está demitindo milhares de trabalhadores.Ela precisa de novos mercados. E o MERCOSUL é esse mercado.

Brasil, aceitando esse acordo, destrói, com raras exceções, a sua indústria e não aumenta seu acesso ao mercado da UE. Torna-se uma colônia tecnológica da Europa em atraso e sem rumo para alcançar China ou os Estados Unidos. E nos afasta de outros mercados que hoje sustentam nosso desenvolvimento. De fato, aUE teve chance de fazer o acordo, mas exigiu demais, e perdeu o timing. E fazer o acordo sem França, que não é Chipre, é quebrar União Europeia.

O melhor caminho é achar um outro caminho para prosperar. O atual já era.