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Tuesday, 25 July 2023

 OF EUROPEAN NEOCOLONIALISM AND THE EU MERCOSUR AGREEMENT

 

An agreement between the European Union and Mercosur, of which Brazil is the main partner, only has value for Brazilian society if it produces results in our social and economic development. Europeans take good care of themselves, but we need to be convinced that there will indeed be tangible benefits for Brazil. And recent studies by IPEA and an independent think tank from Germany, show the opposite.

 

What is on the table and was negotiated by the liberals of Paulo Guedes in the Bolsonaro government creates an economic imbalance between the future of development, not theoretically of the two blocks, but of the increase in income and social improvement of the populations of the countries of the two blocks. Making a long story short, Europe will grow more at the expense of the increase in our technological, service and industrial dependence. Europeans, who are already the largest investors in Mercosur, and special in Brazil, are also the largest recipients of dividends and beneficiaries of protected access to the Brazilian market. And the biggest beneficiaries of a jaboticaba system of public concessions.

 

European companies are rare in Brazil, in fact what confirms the rule, which belong to the world class of production. Or that they introduce in Brazil the latest technologies in their services. Or that they equal their management standards to the level of requirements in the environmental area or in management transparency and apply ESG equal to what they do in Europe. Here are also second-tier products, see for example the automobile industry, where it is the Chinese who lead the race for more efficient cars in Brazil, and with the quality, the recall is a daily act, different from European standards.

 

In the area of concessions and telecommunications services, as well as in financial services, the champions of complaints at Procon are European companies. To this is also added the fact that many of them, as in the case of Cassino, owner of Pão de Açúcar, theoretically do well in Brazil, but sustaining management errors in the headquarters with high profits in Brazil.

 

Of course, the business scenario is not as pessimistic as the one described above, but the agreement between the two blocks also does not guarantee that we will have an investment growth and a technological re-adequacy of our economy. In fact, the studies that exist do not prove that, in addition to greater commercial flow, we will have a qualitative growth in our development. The forecast of IPEA is that GDP will practically not grow and that deindustrialization will be brutal. The opening of the market will not be the same, for the simple reason that, if we do not improve the technological stage of our industries and reduce Brazil cost, we have little to export to the EU other than agricultural products that have more limitations and restrictions than incentives. Try to export industrialized coffee to Europe to displace Germany as the largest exporter of industrialized coffee, to see what happens. Or how are you going to export machines from a technologically strangled industry? By the way, for how much of the industry do we have stock and technological control in Brazil?

 

An agreement of this nature, whose negotiation is based on the analog economy and is being designed for an AI and digital economy, should be based on our vision of the future and its respective development project. Brazil 2050. And we don't have that.

 

The EU missed the step in the negotiations and to say that our cultural ties should be the basis for the agreement is to tell us that we should be grateful to the Europeans who eliminated the Indians to plunder the continent and continue paying the tithe. Either we find a proposal for development as much as possible egalitarian, and of reciprocal future gains, or what has been negotiated so far will be a victory for Pyrrhus, leading the country to a worse situation than the one we have today.

 

The EU's announcement to help the 33 countries of Latin America and the Caribbean with 45 billion euros over a few years, i.e. approximately 1.5 billion per country, is to cover the sun with a sieve. Or more or less, one deceives me that I like it. And where Europeans want to invest, the results will be meager or insignificant for social development.

 

Europe really needs this agreement, it needs less demanding and growing markets, but it wants everything and gives little. The EU does not recognize our ingenuity in the area of energy, especially ethanol, nor in agriculture, forest management and in the area of cellulose. We also have certain skills where we are competitors. But, in macroeconomic terms, we do not have a clear idea of how we develop, how we will face the new technological challenges, social challenges and employment, and how we will move from the frame of an agricultural and mineral power, to one of integrated power. And Europeans, which is understandable, take advantage of this. Our luck is that the greed to always want more and continue to see on the continent (where we still have European colonies such as French Guaina, Holanesian Antilles) a dairy cow that helps to sustain their economies, leads to the postponement of the negotiations and reflections that brake the agreement.

 

That we have to understand each other better and increase our ties in all fields, there is no doubt. But doubt kills, if we don't know what we want and the two parties understand that winning wins also requires moments to give in. In fact we have more in common than less, we have an excellent trajectory of cooperation and business, but we need to turn this into a partnership of equals aiming at a different world in the future.

 

The agreement, as it is patched after twenty years, is simply a disaster for the Mercosur countries. Whoever signs it on this side of the Atlantic, will go down in history as a gravedigger of the country's development.

 

https://drive.google.com/file/d/1xCuMccT2rUISnqts5ZBXF7vxgapEWYZf/view? Usp=drivesdk

 

Friedrich Ebert Stiftung,2021

 

https://drive.google.com/file/d/1qqpFgbf-_Ig3wIiNHv2LxwH8A1riXn-J/view? Usp=drivesdk

 

IPEA conjuncture letter, July 2023.

Monday, 24 July 2023

 DO NEOCOLONIALISMO EUROPEU E O ACORDO MERCOSUL UE

 

Um acordo entre União Europeia e Mercosul, do qual o Brasil é principal sócio, só tem valor para a sociedade brasileira se produzir resultados no nosso desenvolvimento social e econômico. Os europeus cuidam bem de si próprios, mas nós precisamos que estar convencidosde que haverá de fato benefícios tangíveis para Brasil. E recentes estudos de IPEA e um think tank independente da Alemanha, demonstram o contrário.

 

O que está na mesa e foi negociado pelos liberais do Paulo Guedes no governo Bolsonaro cria um desequilíbrio econômico entre o futuro dodesenvolvimento, não teoricamente dos dois blocos, mas do aumento darenda e melhoria social das populações dos países dos dois blocos. Making long story short, Europa vai crescer mais às custas doaumento da nossa dependência tecnológica, de serviços e industrial. Os europeus, que já são os maiores investidores no Mercosul, e espeficiamnte no Brasil, são também os maiores receptores de dividendos e beneficiários do acesso protegido ao mercado brasileiro. os maiores beneficiários de um sistema jaboticaba de concessões públicas.

 

São raras as empresas europeias no Brasil, aliás o que confirma a regra, que pertencem à classe mundial de produção. Ou que introduzem no Brasil as últimas tecnologias nos seus serviços.Ou que igualam seus padrões de gestão ao nível de exigências na área ambiental ou na transparência de gestão e aplicam ESG igual ao que fazem na Europa.Por aqui andam ainda produtos de segunda linha, veja por exemplo a indústria automobilística, onde são os chineses que lideram corrida para automóveis mais eficientes no Brasil, e com qualidade, recall é um ato diário, diferente dos padrões europeus.

 

Na área das concessões e serviços de telecomunicaçõescomo tambémnos serviços financeiros, as campeãs de queixas no Procon são as empresas europeias. A isso se junta também o fato de muitas delas, como foi caso de Cassino, dona de Pão de Açúcar, teoricamente vão bem no Brasil, mas sustentando erros de gestão nas matrizes com altos lucros no Brasil.

 

Claro que o cenário empresarial não é tão pessimista como descrito acima, mas o acordo entre os dois blocos também não garante que nós vamos ter um crescimento de investimentos e uma re-adequação tecnológica da nossa economia. Na verdade, os estudos que existem não comprovam que, além de maior fluxo comercial, nos vamos ter um crescimento qualitativo no nosso desenvolvimento. previsão do IPEA é que PIB praticamente não vai crescer e que a desindustrialização será brutal. A abertura do mercado não será igual, pela simples razão que, se não melhorarmos estágio tecnológico de nossas indústrias e reduziríamos custo Brasil, temos pouco a exportar para UE a não ser produtos agrícolas que têm mais limitações e restrições do que incentivos. Tente exportar café industrializado para Europa para desbancar Alemanha como maior exportador de café industrializado, para ver o acontece. Ou como vai exportar máquinas de uma indústria estrangulada tecnologicamente? Aliáspara quanto da indústria seuqer temos o controle acionário e tecnológico no Brasil?

 

Um acordo dessa natureza, cuja negociação tem sua base na economia analógica e está sendo projetado para uma economia de IA e digital, deve ter a base na nossa visão de futuro e do seu respectivo projeto de desenvolvimento. Brasil 2050. E isso nos não temos.

 

A UE perdeu o passo nas negociações e dizer que nossos laços culturais devem ser a base para o acordo é nos dizer que devemos ser gratos aos europeus que eliminaram os índios para saquear o continente e continuar pagando o dízimo. Ou achamos uma proposta de desenvolvimento tanto que possível igualitária, e de ganhos futuros recíprocos, ou então o que foi negociado até agora será uma vitória de Pirro, levando o país a uma situação pior do que a que temos hoje.

 

O anúncio da UE de ajudar aos 33 países da América Latina e Caribe com 45 bilhões de euros ao longo de alguns anos, ou seja aproximadamente 1 bilhão e meio por país, é tapar o sol com a peneira.Ou mais ou menos, um me engane que eu gosto. E onde os europeus querem investir, os resultados serão pífios ou insignificantes para o desenvolvimento social.

 

Europa precisa muito desse acordo, precisa de mercados menos exigentes e em crescimento, mas quer tudo e dá pouco. UE não reconhece nem nossa engenhosidade na área de energia, espeficiamnte etanol, nem na agricultura, no manejo florestal e na área de celulose.bNos também temos certas competências onde somos concorrentes. Mas, em termo macroeconômicos, não temos uma ideia clara de como nos desenvolvemos, como enfrentaremos os novos desafios tecnológicos, os desafios sócias e emprego, e como sairemos da moldura de uma potência agrícola e mineral, para uma de potência integrada. E os europeus, o que é compreensível, se aproveitam disso. A nossa sorte é que a ganância de querer sempre mais e continuar vendo no continente (onde ainda temos colônias europeias como Guaina Francesa, Antilhas Holanesas) uma vaca leiteira que ajuda sustentar suas economias, leva ao adiamento das negociações e reflexões que freiam o acordo.

 

Que temos nos entender melhor e incrementar nossos laços em todos os camposnão há dúvida. Mas a dúvida mata, se não soubermos o que queremos e as duas partes entenderem que ganha ganha também requer momentos de ceder. De fato temos mais em comum do que menos, temos uma trajetória de cooperação e negócios excelente, mas precisamos transformar isso numa parceira de iguais visando um mundo diferente no futuro. 

 

O acordo como está remendado depois de vinte anos, é simplesmente um desastre para os países de Mercosul. Quem o assinar deste lado do Atlântico, ficará na história como coveiro de desenvolvimento do país.

https://drive.google.com/file/d/1xCuMccT2rUISnqts5ZBXF7vxgapEWYZf/view?usp=drivesdk

Friedrich Ebert Stiftung,2021

 

https://drive.google.com/file/d/1qqpFgbf-_Ig3wIiNHv2LxwH8A1riXn-J/view?usp=drivesdk

Carta conjuntura IPEA, julho 2023.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sunday, 9 July 2023

 DO FOGO LENTO NA FRANÇA E ONDE MAIS

 

Saímos de Paris sãos e salvos. Salvos de quê? Do caos que não nos atingiu numa semana em St. Germain des Près. Não vi um distúrbio a não ser na TV. O único aborrecimento ocorreu na saída da Ópera de Paris Bastille, às 11 horas dnoite, quando o transporte público havia sido suspenso táxi que nos atendeu se perdeu e o motorista  que insistia falar num inglês difícil de entender, nós pedindo para falar francês, se exaltou e nos chamou de racistas. Voilà.

 

Mas, ter escapado à desordem que atingiu a França não diminui o medo que envolveu o país. É mais por milagre que por competência que não houve mais mortes. E que a situação ficou sob controle. Mas ficaram feridas e situações longe de serem resolvidas. A justiça funcionou de uma forma rápida. Os jovens foram julgados com ato sumárioou seja,em 30 minutos o juíz declarava a sentença, na maioria das vezes serviço comunitário, mas também detenção quando comprovado o ato de vandalismo. As seguradoras estão examinando os prejuízos, os impostos estão sendo postergados e bancos terão que ter  paciência para receber.

 

Calma após a tempestade, com debate do que aconteceu aindafervilhando. O fato é que todos os problemas continuam e que os políticos franceses não indicaram como vão resolvê-los. A ênfase sobrereforma da polícia e sua atenção, o pivô de revolta foi a morte de um jovem por um policial, é parte de problema. A profunda divisão racial e religiosa, pode se dizer de duas Franças, dos brancos e dos outros, permaneceNão se trata mais só de imigrantes, agora são franceses de classes diferentes. Oriundos de ex-colônias, na África são 33 países francófonos, do Magreb, fazem parte de uma França à margem da França que nos vemos e imaginamos. 

 

Os verdadeiros guetos criados ao redor das grandes cidades, dominados por tráfico e gangues,  cujo papel aliás nestes últimos distúrbios foi pouco discutido, são incontroláveis. Os pais acusados pelo Presidente Macron de que não controlam seus filhos, respondem como: trabalho dia e noite, 50 % do meu ganho vai para aluguel, não há creches e as escolas não abrigam as crianças. E quando crescem não têm emprego.

 

Escrever sobre os problemas franceses é uma maravilha. Todo mundo é analista de outros. Mas, é impressionante a reação das pessoas que, na crise francesa, não conseguem enxergar as similaridades com a situação brasileira. Quando fui candidato a deputado federal, uma mãe me disse que único emprego que seu filho conseguia era no tráfico. Para ir aocolégio tinha que pagar dois ônibus, não tinha nenhuma possibilidade de trabalhar como aprendiz porque não existiam empresas no bairro, e não havia quadras de esporte. Outra mãe me pediu dinheiro para compraruma corrente para prender seu filho que se drogava. Isso mudou?

 

Estamos vendo o caso de militares do exército que entregaram no Rio 3 jovens para os traficantes que os mataram e depois de 12 anos nada aconteceu a não ser produzir  um processo de 5 mil páginas. As mortes por policiais em São Paulo neste semestre cresceram assustadoramente e em nossos presídios  uma população carcerária sem  julgamento maior do que a de julgados. 

 

Algum fato desconhecido das nossas diferenças sociais, raciais e econômicas? Nenhum. A frase de que temos vários Brasis tem hoje uma conotação diferente: cada um de nós pertence a um Brasil diferente,marcado por diferenças principalmente sociais e econômicas. As diferenças no Brasil são disfarçadas de forma diferente do que na França. Um multiculturalismo que esconde profundas diferenças que nos levam viver cada um no seu canto. A distância que nos separa é muito maior do que a percebida ou pior, percebida e ignorada propositalmente.

 

Faça um teste simples: com quantas pessoas racialmente, culturalmente, de credo diferente você interage? O que você sabe da vida na favela, de andar de ônibus ou metrô, de escola pública ou nãono final de contas, da vida do seu bairro?

 

Na França as tensões sociais abruptamente mostram suas fissuras. Aqui as fissuras ficam ignoradas, debaixo do tapete, mostram-se em diferenças de grupos radicais políticos, mas na defesa de seus privilégios, e nos deixam viver numa paz duradoura de ilusão de que tudo está uma maravilha. Até quando?

 

9.6.2023.

 

 

Monday, 3 July 2023

 FRANCE ON FIRE

 

 It is absolutely calm and absolutely terrible. We are in St. Germain des Près, next to the church where Brazilian exiles in the 1970s protested against the military dictatorship in our country. Some stores open, others like Hugo Boss, completely closed with heavy plywood to prevent looting that has spread across France in the last five days. A policeman killed in cold blood a 17-year-old, Nahel M. Roadside approach in Nanterre, a suburb of Paris. Little is known about what and how it happened, because the police, unlike in São Paulo, do not use cameras. The policeman was arrested and France went up in flames. All over France, including the island of Reunion, overnight, young people, whose average age is 17 years old, set fire to shops, buses, cars, public buildings and everything they cherish in front of them. From 38 arrested on the first night, the number rose to 1311 on the fourth night, with 1350 vehicles burned, 2560 fires on public roads, 234 buildings degraded and 79 police officers injured. By luck and divine grace, with no more dead. Forty-five thousand policemen on the streets, with the most sophisticated defensive weapons, brucutus (armored vehicles that seem to come out of movies) and scenes that look like we are in Ukraine and not in France. The rebels use Molotov cocktails, fireworks turned into weapons, hunting rifles, and mercilessly attack and plunder not only Apple and Nike, but small merchants whose origins are their own. From a fair protest over a criminal death, it turned into an appalling war, where fear spread across the entire country and no one knows who the enemy is. The government acts rigorously and carefully. How do you face an army of 12, 13 year olds, 17 year olds? There is no manual for this. The French justice system, which has not been able to judge the deaths caused by the police in recent years, acted quickly. The first young people have already been sentenced to community work. And the government established a fine of 200,000 reais per family whose child is involved in looting and fires. The economic damage will be enormous. Insurance companies are trembling, the government has already said it will help and tourists are fleeing. France has become, with this conflict, preceded by the recent yellow vest protests and protests against the new pension law, an absolutely unpredictable country from the point of view of social stability. But earlier revolts were promoted by other generations, by visible organizations. This is a different conflict. Perplexity, the intense use of Tik Tok, uncontrollable, and a part of the French population that today is made up of children, but tomorrow will be adults, voters and will dominate French politics. Social and religious differences, allied to the racial issue, have disintegrated the social fabric and put democratic governance itself at risk. It's terrifying to find yourself in a country that explodes due to a tragic accident like this one. The physical revolt of children and young people leaves the country perplexed. Political leaders lack the credibility to stop the uprising. Religious leaders, especially Islamic, ask for calm. Jews are afraid that the uprising will also increase an already growing anti-Semitism. The fear of going out into the street is not visible, but when the crowd starts to confront the police, even on TV, it is terrifying. And why is it happening? Millions of explanations point to a marginalization of racial and religious minorities in terms of opportunities for social ascension, the increase of gangs dominating social structures and the absence of the state as an agent of security, economic development or promoter of social services. In other words, a failed state model, including with regard to technological changes, many of which the French led. There is no lack of thinkers in France to explain the state of affairs. And there is no shortage of those who do not accept that the status quo only has a future of revolts. France in its history was a country of ruptures, of social changes that changed the world. And now, how is it? 2.7.2023.  

 

Sunday, 2 July 2023

  



A FRANÇA EM CHAMAS

 

É absolutamente calmo e absolutamente terrível. Estamos em St. Germain des Près, ao lado da igreja onde exilados brasileiros na década de 70 protestavam contra a ditadura militar em nosso país. Umas lojas abertas, outras como a Hugo Boss, completamente fechadas com pesados compensados de madeira para evitar saques que se espelharam pela França nos últimos cinco dias.

 

Um policial matou a sangue frio um jovem de 17 anos, Nahel M. Abordagem na estrada em Nanterre, subúrbio de Paris. O que e como aconteceu, sabe-se pouco, porque os policiais, ao contrário de São Paulo, não usam câmaras. O policial foi preso e a França pegou fogo.

 

Pela França inteira, incluindo a ilha de Reunion, durante a noite, os jovens, cuja idade média é de 17 anos, colocaram fogo em lojas, ônibus, carros, prédios públicos e tudo o que aprecia à sua frente. De 38 presos na primeira noite, o número subiu para 1311 na quarta noite, com 1350 viaturas queimadas, 2560 incêndios nas vias públicas, 234 prédios degradados e 79 polícias feridos. Por sorte e graça divina, sem nenhum morto a mais. Quarenta e cinco mil polícias na ruas, com armas defensivas das mais sofisticadas, brucutus ( veículos blindados parecendo sair de filmes) e cenas parecendo que estamos na Ucrânia e não na França.

 

Os revoltosos usam cocktails Molotov, fogos de artifício transformadas em armas, fuzis de caça, e sem dó atacam e saqueiam não só Apple e Nike, mas pequenos comerciantes cujas origens são as deles mesmo. De protesto justo por uma morte criminosa passou-se a uma espantosa guerra, onde pelo jeito se espalhou o medo pelo país inteiro e  não se sabe quem é o inimigo.

 

O governo age com rigor e com cuidado. Como se enfrenta um exército de crianças de 12, 13 anos, jovens de 17 anos ? Não existe manual para isso. A justiça francesa, que não conseguiu julgar as mortes provocadas pelos policiais nos últimos anos, agiu rápido. Os primeiros jovens já foram condenados a trabalhos comunitários. E o governo estabeleceu a multa de 200 mil reais por família cujo filho estiver envolvido na pilhagem e incêndios.

 

O prejuízo econômico será enorme. As seguradoras tremem, o governo já disse que vai ajudar e os turistas estão fugindo. A França se tornou, com esse conflito, precedido pelos protestos recentes dos coletes amarelos e protestos contra a nova lei da previdência, um país absolutamente imprevisível do ponto de vista da estabilidade social. Mas as revoltas anteriores eram promovidas por outras gerações, por organizações visíveis. Este é um conflito diferente. De perplexidade, de uso intenso de Tik Tok, incontrolável, e de uma parte da população francesa que hoje é de crianças, mas amanhã serão  adultos, eleitores e dominarão a política francesa. 

 

As diferenças sociais e religiosas aliadas à questão racial, desintegraram o tecido social e colocam a própria governabilidade democrática em risco. É apavorante encontrar-se em país que explode por um acidente trágico como este. A revolta física de crianças e jovens deixa o país perplexo. Os líderes políticos não têm credibilidade para parar a revolta. As lideranças religiosas, em especial islâmicas pedem calma. Os judeus têm medo que a revolta também aumente o já crescente antsemitismo. O medo de sair na rua não é visível, mas na hora que a multidão começa a enfrentar a polícia, mesmo na TV, é apavorante.

 

E por que está acontecendo? Milhões de explicações apontam para uma marginalização de minorias raciais e religiosas em termos de oportunidade de ascensão social, aumento de gangues dominando as estruturas sociais e ausência de estado como agente seja de segurança, seja de desenvolvimentos economico ou promotor de serviços sociais. Ou seja, um modelo de estado falido, inclusive com relação a mudanças tecnológicas, muitas das quais os franceses lideraram.

 

Não faltam pensadores na França para explicar o estado das coisas. E não faltam os que não aceitam que o status quo só tem um futuro de revoltas. A França na sua história foi um país de rupturas, de mudanças sociais que mudaram o mundo. E agora, como fica?

 

2.7.2023.