Na semana passada foi concluída em Brasilia mais uma etapa de negociações entre os representantes da União Europeia, EU, e Mercosul sobre o tratado de comércio entre os dois blocos econômicos. Como toda negociação em curso, as conclusões são parciais mas indicam ao mesmo tempo uma forte tendência de que a conclusão do acordo interessa às duas partes. O acordo comercial entre esses dois blocos econômicos em que residem mais de 650 milhões de pessoas será, uma vez concluído, o maior acordo comercial entre duas regiões. Ao mesmo tempo, será para o Mercosul o fechamento de uma parceria estratégica com seu maior parceiro comercial após a China e seu maior investidor. Além da clássica declaração de que a maior parte da população da nossa região é de origem europeia e fala línguas, espanhol e português, europeias.
O acordo prevê uma gradual abertura de mercados nos dois sentidos, mas protegendo alguns setores, e sendo menos generosa para alguns produtos agrícolas como o etanol e a carne bovina. Aliás, foi nestes dois itens que a negociação em Brasília empacou. Os europeus estão oferecendo cotas ridículas, a de carne significa que os 4 países de Mercosul poderão exportar anualmente a quantidade correspondente a um bife por habitante europeu e a de etanol não passa de nossa produção de uma semana. O medo dos agricultores europeus fortemente subsidiados, ao contrário da nossa agricultura, é que vamos invadir a Europa com nossos produtos e acabar com eles. Por outro lado se esquecem de que, no caso de França, o comércio de alimentos no Brasil é dominado por empresas francesas. O mesmo acontece com máquinas e automóveis, indústrias dominadas por europeus no Brasil.
As negociações foram acompanhadas por forte contigente empresarial liderado pela chamada Coalizão Empresarial Brasileira, aliada à CNI, que mais reclamava da proteção de setores do que de um aproveitamento das oportunidades que o acordo vai oferecer. As entidades empresariais CNI, CNA, CNC e setoriais, estão na absoluta maioria olhando o futuro pelo retrovisor e sem nenhum projeto de desenvolvimento do seu setor dentro de uma nova realidade que será trazida pela conclusão do acordo. Está claro que o acordo, que ainda tem chance de ser concluído até o final do ano em suas linhas gerais, traz muitas vantagens para quem está mais bem preparado, como os europeus, mas ele abre inúmeras oportunidades para nossas exportações.Se os franceses vão vender mais queijo para nos, nos podemos vender mais pão de queijo e outros produtos lácteos para a Europa.
Mas, para isso precisa estar se preparando já. Sem choro, preparar para uma nova fase de comércio mais competitivo. Porque se não fizer isso, efetivamente o acordo por si só não vai ajudar, mas atrapalhar. Ou teremos coragem e meios para sermos competitivos, ou aí sim vamos desaparecer. O consumidor brasileiro não quer nem viver no mundo subdesenvolvido, nem ter produto de segunda e nem ser cidadão da segunda classe.
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