A CEMIG foi fundada na década de 50, no governo de JK, para acelerar o desenvolvimento mineiro, cujo calcanhar de Aquiles era a energia, na época em mãos de uma empresa norte-americana. Desde o início, o fundamento da empresa era o alto padrão técnico e ético. A CEMIG foi o alicerce do desenvolvimento de Minas Gerais, tanto em termos de seu desempenho empresarial, como no de assistir a economia mineira para crescer na sua base industrial e pecuária. Alcançou as fazendas, as indústrias e as residências. O padrão CEMIG de qualidade era reconhecido no Brasil inteiro. E assistiu crescimento de uma indústria elétrica competente, que foi globalizada desde o seu inicio. Seus quadros, como João Camilo Penna, Mario Bhering, Paulo Mafra, entre outros, alcançaram altos cargos da República e fizeram tanto da ELETROBRAS como de Furnas símbolos de eficácia energética.
A corajosa entrevista do Presidente da CEMIG à Radio Itatiaia, Bernardo Alvarenga, que expõe as dificuldades da empresa em honrar seus compromissos financeiros, pesados e quase impagáveis, uma empresa composta por 200 alianças empresariais e subsidiarias, além de ter um sócio privado que acabou de fazer acordo de leniência, e com acionistas em 45 países e cotada na bolsa de Nova Iorque, requer uma análise e reflexão profundas. Não só dos acionistas da empresa, mas de toda sociedade e em especial do principal acionista, que é o povo de Minas Gerais representado pelo seu governo. Dificuldades da CEMIG são dificuldades de Minas, tal a importância da empresa no Estado.
Sem entrar em detalhes históricos que levaram a essa situação, como quando um diretor da empresa declarou, quando a construção de uma usina teve um aumento estupido de custos e os jornalistas perguntaram por que, respondeu, porque havia uma inflação em dólar e ai os custos aumentaram 400 %. Um das razões dessa situação é que os políticos substituíram os técnicos, com diretores de materiais elegendo-se deputados, ou os de distribuição, sendo estes os que angariavam votos no interior. Outra, que se fez uma aliança entre interesses privados de grupos industriais e de engenharia, troca-troca de cargos (presidente da empresa ou diretor ajudava ao fornecedor, em seguida aposentava, virava sócio da empresa e assim por diante) além de que quando se fez a tal de privatização, inicialmente com um grupo norte-americano (onde teve gente que ganhou um muito dinheiro com especulação com as ações) e em seguida com um grupo de engenharia mineiro, fez-se um acordo para ganhar dinheiro e não para desenvolver a empresa, que entrou em novas alianças, entre elas a Light do Rio (da qual fugiram todos os demais investidores, como os franceses) e inúmeras outras, que contribuíram para que todos ganhassem e a CEMIG perdesse.
Não se pode desprezar nesse processo o papel do INDI, financiado entre outros pela CEMIG, e nem a questão da concessão de usinas, que está se tornando numa disputa crucial com o governo federal.
O Presidente da CEMIG está certo quando convoca todos os mineiros a ajudarem a CEMIG a voltar a ser empresa de excelência para o desenvolvimento mineiro. Mas, precisa de mais do que de um apelo e de desinvestimento, como a venda da Light: precisa de um plano consensual de re-estruturação e compliance. Com os mesmos atores dominando a estrutura da empresa, seja societária e gerencial, seja beneficiários externos, não haverá mudança que garanta resultados. A atual diretoria tem condições de fazer isso, mas os políticos e o governo do estado também têm que fazer sua parte. E mais: o setor privado também tem que entender o papel da CEMIG, como agencia de desenvolvimento e empresa de excelência, além dos ganhos individuais e da salvação de seus próprios negócios. Aí sim poderemos voltar às origens da empresa e ganharão todos.
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