DOS INVESTIMENTOS EM TEMPOS DE CRISE
Na semana passada, foi realizado em São Paulo, capital econômica do Brasil, um Fórum de Investimentos, com enorme presença de investidores do mundo inteiro. E mais, abençoado por políticos comandados pelo próprio Presidente da República e seus ministros, além dos Presidentes da Câmara e do Senado e, claro, o Governador de São Paulo e o mais novo candidato à presidência do país, o Prefeito de São Paulo. Se isso se chama show, então foi um show de primeira que, em dois dias, deu razoável impressão sobre o interesse em investir no Brasil. Ou seja, a visão para além do dia de hoje, dias e semanas de tensão política, de um país cujas realidades geográficas e econômicas podem ser vistas além do mar de lama no qual estamos nadando.
Os investidores, pelo menos os maiores, tiveram uma conversa particular com o Presidente Temer. A pergunta que ficou após o Fórum foi se os políticos e governantes convenceram os investidores de que a crise política na qual estamos mergulhados vai atrapalhar as reformas e quanto tempo vai durar. Aliás, quanto tempo vai durar o governo que se expôs no Fórum e repetiu a ladainha mais antiga, de que o Brasil é maior do que a crise. A impressão que ficou é que cada um dos participantes se fechou em copas com seu pensamento, esperando os fatos confirmarem ou desmentirem os entusiásticos discursos dos ministros e políticos presentes.
O investidor, independentemente da sua origem nacional ou tamanho, espera que a ordem jurídica seja reconhecida, que haja estabilidade de regras para os investimentos e que haja a remuneração para o seu capital. Na semana anterior ao fórum, o BNDES mudou regras de financiamento e mudou o seu presidente. Na semana do Fórum, Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro votou uma lei que obriga os bares e restaurantes fluminenses a oferecerem obrigatoriamente cachaça produzida no estado. Exemplo do trumpismo carioca, obrigando o consumidor a beber cachaça de pior qualidade. E na semana posterior ao Fórum, a Assembleia Legislativa de Minas vota, ao mesmo tempo que um Refis, um aumento de impostos para a gasolina e o álcool e a compra de produtos via internet e a isenção de impostos na compra de aeronaves e equipamentos que beneficiem alguns industriais que apoiaram o aumento dos impostos dos outros e mantêm posições institucionais.
Em resumo, o clima de incerteza não é só no nível federal; também nos estados as regras mudam para os investidores. Oferece-se muito no início e tira-se mais depois. E sempre se dá mais para quem vem de fora, desprezando-se quem já está instalado. O Brasil está barato e hora de investir é na crise, mas quanto tempo esta crise vai demorar? Também fica cada vez mais patente que o Brasil não aceita mais investimentos tecnologicamente atrasados. Os investimentos têm que representar a ponta de tecnologia e não trazer atraso ao consumidor.
A batida frase, que crise é oportunidade, pode valer para este momento, mas os esforços devem ser menos para promover um Brasil barato, e mais para fazer as mudanças em todos os níveis do governo, para que as empresas possam ser competitivas em escala mundial. Este esforço, e não vamos nos iludir com algumas reformas, deve ir muito além, para trazer investidores que criem mais empregos e empresas mais eficazes.
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