Do abismo fiscal
As negociações tensas no Senado norte americano nos cinco minutos antes de
meia noite do dia 31 de dezembro sobre o chamado abismo fiscal e o posterior
acordo entre senadores e o governo são mais significativas do
que a só aparente disputa entre políticos norte-americanos. A Constituição dos Estados Unidos prevê uma maior divisão de poder entre o
executivo e o legislativo do que a nossa. Por isso, uma disputa sobre a eliminação dos benefícios fiscais que o governo
Bush concedeu há anos aos mais ricos, e com
isso ganhou, entre outras coisas, apoio
para se reeleger e ainda a maioria republicana no Congresso, é uma disputa democrática entre os poderes e,
claro, bons políticos negociam até o minuto final para demonstrarem que trabalhem bem.
Mas, no final das contas,
de que se trata, para tanto tremor e medo na área econômica? Simples: reduzir os
incentivos fiscais para os mais ricos quer dizer aumento de impostos para
diminuir o déficit fiscal. Os
republicanos que dominam o Congresso, mas não o Senado, queriam que o
governo também cortasse despesas. O
compromisso final que já foi aprovado pelas duas
casas legislativas salvou Estados Unidos de eventual crise econômica, mas não de reduzir o déficit de forma
significativa e nem de uma eventual reorganização competitiva do aparato
governamental. E nem tocou no maior item das despesas do governo
norte-americano, as despesas militares. Enquanto os EUA forem por vontade própria e por incompetência de outros o gendarme
do mundo, o gasto militar será o grande vilão do orçamento norte americano.
Os EUA têm um enorme déficit nas contas públicas e no balanço comercial, que devido à posição de liderança mundial, é coberto pelo mundo
inteiro. Eles imprimem os dólares e o mundo cobre os
buracos. É um sistema que tem
funcionado até agora e ninguém conseguiu mudar, o que não quer dizer que vai ser eterno.
A lição de negociação dura entre o executivo do
democrata Obama e o legislativo republicano é uma boa lição de exercício de democracia e política. As grandes discussões nos parlamentos no mundo
inteiro servem para atingirmos a estabilidade econômica e em seguida o crescimento, uma constante. Sem a
responsabilidade fiscal não há desenvolvimento. Mas não quer dizer que a
responsabilidade fiscal deva ser feita com fome do povo e riqueza dos políticos e empresários. Agora esta discussão vai chegar mais perto da gente e será sem dúvida a chave para futuro.
Stefan B. Salej
2.1.2013.
No comments:
Post a Comment