Dos peixes e sementes
Bem atrás das montanhas, bem longe dos edifícios pomposos de Cape Town,
no meio de campos áridos, tem gente aprendendo como criar sementes. Sementes
para a comida do dia e dia e para as comunidades. Criando um banco diferente,
banco de sementes de milho, beterraba, abóbora e outros. Ninguém lhes dá
peixe, mas estão lhes ensinando a semear na terra hoje deles, terra árida,
mas a terra que lhes deve dar o sustento.
E quem esta ensinando? Os camponeses e técnicos
brasileiros, falando cada um sua língua, gesticulando, remexendo o esterco e a terra e
colocando de uma forma quase religiosa sob sol forte sul-africano, as sementes
na terra para criar mais sementes. E com alegria de todos para que o projeto
seja bem sucedido.
Em 2010 o mundo desenvolvido forneceu 131 bilhões de
dólares de ajuda ao
desenvolvimento aos países em desenvolvimento. Para a África, foram 48 bilhões de
dólares e para América do Sul, 3 bilhões. A ajuda é para
fins humanitários, cooperação financeira e tudo dentro dos interesses dos
países donatários. A preocupação é essencialmente com os interesses estratégicos
do país doador e nem sempre
com as necessidades do país receptor. Como não se discute o que vem de graça,
muita dessa ajuda se perde em gastos administrativos e cria uma corrupção própria
de interesses mútuos de gente dos dois lados. Multidões de consultores que acham
os receptadores de ajuda uns pobres coitados idiotas e outros lá
recebendo recursos rindo de quem os dá.
O Brasil mudou o paradigma e o caso acima na cidade de
Suubraak confirma isso. Não é só a simpatia e o jeito do brasileiro que contam, mas a
competência técnica. E
principalmente a idéia do que o Brasil pegou suas melhores competências
e as transformou em algo útil para terceiros países. Nisso se inclui a
assistência na área social, cuja competência brasileira, como na
administração publica, são muito admirados pelo mundo.
Os investimentos brasileiros em ajuda ao desenvolvimento
são comparativamente modestos. Em mais de 500 projetos em
curso no mundo, a contribuição total brasileira é de aproximadamente 400 milhões de
dólares. A menor, mas muito eficiente parte cabe à
Agencia Brasileira de Cooperação
(ABC) do Itamaraty. Os principais recursos vêm de outros órgãos do
governo e também do setor privado, como o SENAI, com projetos no Timor Leste e Moçambique.
Tornando a ajuda mais eficaz, será necessário urgente maior coordenação
dessas atividades e reforço do papel da ABC, aliás o que acontece em outros
países. Também o
setor privado precisa ser um parceiro mais ativo e ver
onde estão os seus interesses. E não no final como a EMATER de
Minas, que esta atuando na Bolívia. Os campesinos de Goiás, Rio Grande do Sul e
Santa Catarina na Africa do Sul e Moçambique e muitos outros, devem ver suas oportunidades
em colaborar. O aprendizado é via dupla.
O Brasil não dá peixe, ensina a semear. Sob o sol forte africano não há como
não ficar orgulhoso de que o País traz algo novo e não
repete os modelos desgastados.
Stefan B.Salej
29.8.2012.
Realmente um belo lugar para uma atividade de primeira. Há muita semelhança com a região em que estou atuando no norte de Minas. Porém não vi nada ainda que se assemelhasse ao ensino da produção de sementes. Bela ideia para ser aproveitada. (Atilio)
ReplyDeleteLembro-me de uma palestra com Ignacy Sachs e Ladislau Dawbor este ano aqui em São Paulo, onde ambos sugerem um intercâmbio de universitários e pesquisadores entre Brasil, África, India e outros, onde os biomas semelhantes sejam o foco para que estudos e pesquisas sejam realizadas. Eles acreditam que assim novos conhecimentos serão gerados na direção dos caminhos de sustentabilidade almejados.
ReplyDeleteLer (e ver) o que técnicos e agricultores do Brasil e África já estão fazendo juntos, só reforça essa visão da força que pode emergir do entrelaçamento de nossas culturas e conhecimento.
Obrigada, querido amigo, pelo relato inspirador.