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Friday 9 January 2015

DA GUERRA DO CHARLIE

Da guerra do Charlie Há no nosso mundo ocidental uma unanimidade: o assassinato dos 12 cartunistas em Paris por terroristas islâmicos é um crime abominável que atinge toda a humanidade. Uniu os franceses no meio de uma crise econômica continua, uniu os europeus, e deu razão aos americanos de que tudo mundo estava desprezando o perigo do terrorismo. E uniu a imprensa mundial, que se sentiu ameaçada. O fato é que qualquer um de nós que escreve sobre o assunto, dependendo da avaliação dos radicais islâmicos, pode ser o alvo. Por outro lado, também estamos relembrando inúmeros ataques, não só à imprensa: nove anos atrás foi o caso de jornal dinamarquês que publicou charge considerada profana, há vinte anos foi o livro de escritor britânico Rushdie, teve ataque a sinagoga em Buenos Aires, morte de alunos e professores da escola judaica na França e mais e mais e mais. Sem contar as guerras na Bósnia, onde os sérvios matavam os muçulmanos como moscas, a guerra do Iraque e agora da Síria e mais os conflitos na África, entre eles os sequestros das meninas pelo grupo Boko Haram na Nigéria. E, na Chechenia, os conflitos na China com a minoria muçulmana e os atentados na Índia. A lista não termina e não passa minuto da nossa vida em que não tenhamos um acontecimento no qual não estariam envolvidos os radicais islâmicos, sejam da Al Quaida seja agora de estado islâmico ou outros grupos. O alvo presencial que são os judeus, como foi o ataque ao Museu judaico em Bruxelas, foi ampliado para outros grupos. O que aconteceu na França é a ponta do iceberg de uma guerra de civilizações, como a chamou cientista político Samuel Huntingon, que estamos vivendo. Como conciliar a sociedade democrática com ameaça permanente e brutal aos seus cidadãos pelos radicais fora do controle e mais, não mais estrangeiros, mas cidadãos do próprio país, como acontece na Inglaterra e na França. A ilusão de que o Brasil está fora e que nós somos uma sociedade pacífica é enganosa, terrível e prejudicial. A tentativa de atentado na semana passada à Embaixada de Israel na vizinho Montevidéu é só um lembrete. A verdade é que os países parceiros do Brasil terão que se concentrar não só no seu desenvolvimento, mas também na sua segurança. Serão criadas alianças ainda mais fortes nesta área e será posto à prova em muito o conceito de direitos humanos. E o Brasil não poderá ficar acima de muro, neutro nessa guerra. Aliás, a pergunta é como vamos lidar com o fato de que o mundo tem 1.5 bilhão de muçulmanos com os quais vamos ter que conviver e como vamos junto com a maioria deles eliminar, antes que nos eliminem, os radicais terroristas? Com todas as forças tentamos fugir dessas realidades, mas elas se sobrepõem à nossa resistência. Vivemos em um mundo em guerra, em insegurança e se um de um lado temos que achar respostas políticas para questões como a marginalização das populações jovens muçulmanas dos benefícios da sociedade desenvolvida na Europa, também temos que nos defender dos radicais. Não vai bastar gritar que todos somos Charlie, vamos ter que agir. E eis a parte difícil. Stefan Salej 8.1.2015.

Friday 2 January 2015

DA ECONOMIA ESTUPIDA

Da economia estúpida Oh espelho meu, me diz: tem Estado mais bonito do que eu? A pergunta para avaliar os investimentos no Estado brasileiro pelo investidor, seja nacional ou estrangeiro, é mais do que válida! Mesmo com a economia brasileira em crise, com baixo crescimento e um aperto fiscal à vista, a Europa em recuperação e os Estados Unidos se recuperando, existem oportunidades de investimento no Brasil. O fato é que quem souber, no ditado clássico, fazer da crise oportunidade, ou do limão limonada, vai ganhar espaço, vai ganhar mercado e vai ganhar dinheiro. Não há dúvida alguma de que o saneamento fiscal e financeiro do Estado é bem visto pelo investidor. Estado falido como o nosso é um desastre para o trabalhador e péssimo para o empresário. Não é só por causa dos investimentos que o governo estadual lidera ainda, mas entre outras coisas, pela má prestação de serviços públicos, inclusive de saúde, educação e segurança, que prejudicam toda a população. Manter as finanças públicas em ordem não é opção, é obrigação dos governantes. Mas, aí entra a estupidez da economia. Aliás, algo que um governo composto por próceres econômicos facilmente entende. As finanças públicas só vão ser acertadas se a economia produtiva ou aquela que produz pagamento de impostos for bem sucedida. No popular, as empresas quebradas não pagam impostos. E haja no estado empresas quebradas. Ou mais, haja nas Gerais empresas em vias de quebrar por causa do mercado externo e seus preços aviltados, por causa de fuga de capital que transformou Miami em sede do capitalismo mineiro, ou por diminuição dos negócios e a sua qualidade no país inteiro. E ninguém, fora algumas frases de efeito, viu uma meta de crescimento do PIB mineiro nos próximos anos e muito menos um consistente plano que inclua um acordo entre o governo, trabalhadores e empresários para, após 12 anos de marketing de ilusão de crescimento, chegar à hora de um crescimento sustentável. Muitas das iniciativas, como o pioneirismo mineiro no projeto Cresce Minas, introduzindo a metodologia de clusters no país, foram bem sucedidas. Tem que continuar com o que foi bem feito, melhorar as condições de desenvolvimento de empresas existentes e não privilegiar só a vinda de novos investimentos que recebem tudo enquanto os empresários que estão lutando para sobreviver perdem tudo. É mais barato para o estado apoiar os que estão aí do que dar incentivos a que vem. Mas, os novos investimentos não devem ser desprezados. E nem os novos mercados. Minas tem uma relação especial com China, que deixará de importar as mesmas quantidades de minérios para investir em siderúrgicas e produtos sofisticados fora. E aí a nossa visão não pode ser só de valorização de zebu, enquanto uma Xiaomi, a empresa de maior sucesso na era de telecomunicações do mundo, que tem em um mineiro, Hugo Barra, seu principal executivo, está se instalando no Brasil e em Minas nem sabem que o nosso conterrâneo está aí! Haja visão e haja ação para voltar crescer. É a economia, estúpido! Stefan Salej 2.1.2015.

Thursday 25 December 2014

DO MUNDO QUE NOS ESPERA EM 2015

A percepção do que aconteceu de mais importante no ano 2014 varia de país para país, de pessoa para pessoa. Podemos concordar porém que alguns eventos atingiram o mundo inteiro. Mas, antes disso não há dúvida alguma, em termos internacionais, a realização da Copa no Brasil e a nossa vexaminosa derrota para Alemanha é para cada um dos brasileiros um fato inesquecível e marcante. Por outro lado, o aumento de desastres naturais, mudança de clima e de temperaturas afetaram o mundo como um todo. E o Ebola, que provocou a morte de mais de dez mil pessoas e está longe de ser dominado. Os terroristas islâmicos, a guerra interminável na Síria, com milhões de refugiados e os ataques de grupos palestinos a Israel também marcaram a presença no cenário mundial. A guerra no Afeganistão que não acaba, e o conflito na Ucrânia que começou, teve lances trágicos de derrubada de avião civil e continua. A isso tudo e muito mais pode-se adicionar o descongelamento de relações entre Estados Unidos e Cuba, a perversa situação política na Venezuela, onde a situação econômica está se deteriorando e as dificuldades sempre presentes na vizinha Argentina. E mais, a queda vertiginosa do preço das matérias primas, onde só o café se salvou. A China diminuindo o seu ritmo, a Europa engatinhando e Estados Unidos dominando novamente o desenvolvimento mundial. O que passou, alguns dizem que é um ano para esquecer, passou e nos deixou algumas lições para 2015. O novo ano traz mais incertezas do que tranqüilidade. Está porém claro que as políticas de baixar os preços de petróleo e aproveitar o conflito entre Rússia e Ucrânia para castigar o urso russo estão desenhando um mundo novo, diferente daquele que vimos 25 anos após a queda do muro. As potências mundiais estão redesenhando o mapa, mas com a presença da China, que se tornou número dois no cenário econômico. Os conflitos regionais, como do Oriente Médio, e o crescimento do poderio nuclear do Irã ainda dominado pelos clérigos muçulmanos radicais, provavelmente vão continuar. O da Ucrânia, também e nada mostra o fim do conflito da Síria ou a derrota dos radicais islâmicos. O terrorismo islâmico radical continuará sendo um dos nossos inimigos globais mais perigosos e que vai afetar a vida de cada um de nós. Mudanças climáticas, mesmo com alguns acordos pífios conseguidos nós últimos tempos, são desprezados em função de interesses individuais de grandes jogadores no tabuleiro mundial.O mesmo vale para os acordos comerciais patrocinados pela Organização Mundial do Comércio.Prevalecem os interesse de grandes países em total detrimento da maioria do mundo. Na base simples: manda que pode e obedece quem tem juízo. Onde fica o Brasil, com o cambaleante Mercosul e outras alianças na América Latina, cabe a cada um de nós avaliar e ao governo determinar o rumo do país no mundo. Stefan Salej 25.12.2014.

Friday 19 December 2014

DA CUBA VIVA ou VIVA CUBA

De Cuba viva ou viva Cuba Foi o adorado Presidente Kennedy que, em 1962, rompeu as relações diplomáticas dos Estados Unidos com Cuba. De um lado enfrentou Fidel Castro, com mísseis russos virados para os Estados Unidos, e de outro lado tentou invadir Cuba através da Baia dos Porcos, em um dos maiores fracassos militares norte-americanos. E agora, 52 anos depois, outro democrata na presidência norte-americana declara que todo esse bloqueio foi em vão, os cubanos não mudaram, continuam comunistas e os Estados Unidos só perderam. Realmente um jogo perde-perde no lugar de ganha -ganha. Um ano e meio de negociações, com a ajuda do Canadá e da Santa Sé, resultaram em uma abertura entre os dois países, que veio seis anos após a eliminação das sanções européias contra Cuba, processo que aconteceu durante a Presidência da Eslovênia do Conselho Europeu. Troca de espiões, estabelecimento de embaixadas nos dois países, novas medidas para a remessa de dinheiro e mais uma série de outras são importantes, mas ainda há um caminho longo a ser percorrido. E as razões do lado dos norte-americanos são claras: Cuba estava estreitando cada vez mais suas relações com a China, estavam perdendo mercado e os latino-americanos estavam se afastando deles por causa dessa situação perversa. E mais: dois milhões de cubanos na Florida, um dos colégios eleitorais que pode decidir as próximas eleições, almejavam uma mudança dessa política que só prejudicava a todos e não mudava nada. Agora o processo de mudança começou e as negociações para resolver tudo vão ser difíceis e demoradas. Mas, a principal mudança, que é que os Estados Unidos aceitam o modelo chinês em Cuba, ou seja o regime comunista com liberdade de mercado, começou. E com isso as empresas norte-americanas terão um novo lugar de investimentos, verdadeiro maná a 150 km de Miami, não só para grandes corporações mas também para as pequenas e médias empresas. E em especial as dos descendentes de imigrantes cubanos, hoje já cidadãos americanos, que têm conhecimento da cultura e da língua e têm capital. Cuba será invadida pelo capital cubano-americano. Na ilha tem espaço para a expansão, mão de obra qualificada e de baixo custo e não tem nem CUT para promover greve. Muda também toda a relação dos Estados Unidos com os países da América Latina. Como vai ficar agora Organização dos Estados Americanos, da qual Cuba não participava? E os outros novos organismos regionais como UNASUL e CELAC? E como fica o Brasil nessa história? Talvez com a nova prosperidade ficaremos mais tranqüilos de que os cubanos vão ter dinheiro para pagar os empréstimos do BNDES. Mas, vamos enfrentar uma concorrência das empresas do Tio Sam para as quais não temos cacife. Nem capital, nem agilidade empresarial e agora os cubanos tem novos amigos velhos. Ainda temos um pouco de tempo para ganharmos espaço, mas não muito. Senão, perdemos tudo o que já investimos e não aproveitamos bem a oportunidade. Tempos novos.Viva Cuba.Viva os Estados Unidos. Stefan Salej 18.12.2014.

Saturday 13 December 2014

DOS HUMANOS E SERVIÇOS

Dos humanos e serviços

Quem é o mais importante num negócio: o cliente ou o empresário? O ovo ou a galinha? Esta discussão nunca terminou e nunca vai terminar. Sem empresário não há oferta de serviços ou produtos e sem cliente não há quem compre. Mas, vamos ver primeiro como é ser cliente no Brasil, claro que sempre com exceções que confirmam a regra. Ser cliente no Brasil é ter enorme paciência com os serviços que lhe são oferecidos. Seja de grande empresas, seja de serviços mais simples como reparos domésticos. Você ser rejeitado na recepção de um banco porque estamos com clientes demais e não podemos, atendê-lo, é brincadeira. Os serviços de telefonia, a não ser de telemarketing, onde lhe despejam aos ouvidos centenas de palavras com rapidez de serra elétrica para lhe vender algo mais caro, são piores do que no pior país do continente africano. E qualquer comunicação que você faz com os fornecedores é o tal de apertar um, depois cinco, depois três e depois esperar para que alguém na Bahia atender alguém do Rio Grande do Sul, de uma coisa chamada call center, sem saber de que se trata e lhe ameaçar que está gravando tudo para lhe processar se você perder paciência e reclamar mais.

Reclamar na loja ou diretamente, este pão de queijo está frio e salgado demais, é uma ofensa pessoal.Imagina, reclamar de mim que trabalho dez horas por dias, viajo duas horas para chegar e voltar do serviço e ganho salário mínimo e tenho chefe me enervando o tempo todo e agora vem você o cliente chato? Qual é! Eu também sou humano, ora bolas!

Essa relação tem que mudar e é a grande chance de pequenos empresários e novos empreendedores a mudarem. E com isso ganharem um espaço econômico-financeiro. O contato do proprietário da empresa, que cuida diretamente do cliente, pode ser um adicional importante nos ganhos da empresa. Mas, para atingir esse objetivo, o empresário precisa de treinamento específico. Deve  entender que essa percepção da qualidade lhe trará dados importantes sobre os produtos e serviços que oferece. Alguém que se aventura a ser empresário e acha que o cliente é a coisa mais chata do negócio tem mais é que procurar outra coisa a fazer. O cliente pode não ter sempre razão, mas com certeza é ele que paga pelos produtos e serviços.

E mais, essa mentalidade deve ser transmitida através de orientação, treinamento e boas condições de trabalho a todos os funcionários. Mas,  fato é que se o dono não pensa assim, você não pode esperar que os funcionários ajam diferentemente.

Nas grandes empresas, onde os executivos e mesmo os donos se afastam cada vez mais dos clientes, deixando tudo por conta do marketing, vendas e outras engenhocas, o problema ainda é mais sério. Duvido que o Presidente da uma telefônica brasileira tentou alguma vez reclamar dos serviços da própria empresa. Ou que os executivos dos grandes mercados enfrentem filas. Ou os diretores de bancos entrem sequer nas agências mal enjambradas e conversem com clientes e funcionários.

Então, vamos mudar isso. Para simpatia com sorriso e jeitinho, para simpatia da eficiência e respeito. Os dois ganham, o cliente e fornecedor, seja quem for.



Stefan SALEJ
12.12.2014.

Thursday 11 December 2014

DAS TORTURAS LÁ E CÁ

Das torturas lá e cá

Três  eventos históricos marcaram a semana: a divulgação do relatório da Comissão de Inteligência do Senado dos Estados Unidos sobre o uso de tortura pela CIA, principal agência de espionagem norte-americana, a divulgação do relatório final da Comissão da Verdade no Brasil, sobre os crimes cometidos pelos governos militares, e a chegada ao Uruguai de quatro prisioneiros terroristas islâmicos da prisão de segurança máxima Guantanamo, em Cuba.

Onde os três eventos se cruzam e que eles têm de comum? Primeiro, os quatro terroristas que foram ao Uruguay fazem parte integrante do que está descrito nas 6000 páginas do relatório norte-americano. A equipe sob presidência da senadora democrata da Califórnia, Dianne Feinstein, descreve com base em milhares de documentos  os detalhes  sórdidos do que acontecia  com os presos deslocados para 54 países que colaboraram com as prisões secretas. E os quatro passaram por isso tudo e mais alguma coisa não descrita. Acontece que quem os acolhe é o antigo prisioneiro político hoje Presidente do Uruguay José Mujica, que vai entregar o governo ao igual antigo opositor ao regime militarTabaré Vasquez, cujo Vice-Presidente é Raul Sendic, nada mais e nada menos que líder dos Tupamaros, guerrilheiros uruguaios que seqüestravam, roubavam bancos e eram exemplo para os Montoneros argentinos e grupos armados de oposição no Brasil.

E aí, o relatório da Comissão da Verdade, presidida pelo professor Pedro Dallari, divulga também os detalhes de como funcionava a ditadura militar no Brasil, identificando 377 torturadores e 434 mortos. O relatório brasileiro também descreve os métodos de tortura usados na repressão brasileira. Mas, onde está linha que liga os torturados no Uruguai, terroristas islâmicos da Al Qaida e similares, e os brasileiros mencionados no relatório da Comissão da Verdade? Simples: em Belo Horizonte existia uma rua com nome de Dan Mitrione, que, na década de 60, assessorava os policiais mineiros em como obter as confissões dos presos políticos através de tortura. E ele era funcionário de quem? Da CIA que, junto com os militares brasileiros e uruguaios, sem falar nos chilenos e argentinos, promovia, com uso intenso de tortura e outros métodos, o combate ao chamado terrorismo de esquerda. A bem da verdade, não foi só Mitrione, foi todo um processo com escola no Panamá e mais vinda de policiais ingleses, que trouxeram as tecnologias experimentadas na Irlanda de Norte.

A questão básica dos relatórios em questão, não é só a discussão do uso de tortura, se é ou não permitido e em que grau, é como funcionam as comunidades de informações ou espionagem nos regimes democráticos. O relatório da Senadora Feinsten, disponível na internet, mostra que a CIA fazia o que bem entendia em nome da segurança dos cidadãos americanos. O mesmo diziam os militares brasileiros. Os sistemas de repressão ou de tortura funcionam à margem do governos, se internacionalizam e são poder acima de poder. E a democracia se torna assim mesmo com seus defeitos o único sistema que ainda controla um pouco isso. Na ditaduras, nem isso.

Stefan Salej
11.12.2014.