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Wednesday 29 August 2012

DOS PEIXES E SEMENTES



Dos peixes e sementes

Bem atrás das montanhas, bem longe dos edifícios pomposos de Cape Town, no meio de campos áridos, tem gente aprendendo como criar sementes. Sementes para a comida do dia e dia e para as comunidades. Criando um banco diferente, banco de sementes de milho, beterraba, abóbora e outros. Ninguém lhes dá peixe, mas estão lhes ensinando a semear na terra hoje deles, terra árida, mas a terra que lhes deve dar o sustento.

E quem esta ensinando? Os camponeses e técnicos brasileiros, falando cada um sua língua, gesticulando, remexendo o esterco e a terra e colocando de uma forma quase religiosa sob sol forte sul-africano, as sementes na terra para criar mais sementes. E com alegria de todos para que o projeto seja bem sucedido.

Em 2010 o mundo desenvolvido forneceu 131 bilhões de dólares de ajuda ao  desenvolvimento aos países em desenvolvimento. Para a África, foram 48 bilhões de dólares e para América do Sul, 3 bilhões. A ajuda é para fins humanitários, cooperação financeira e tudo dentro dos interesses dos países donatários. A preocupação é essencialmente com os interesses estratégicos do país doador e nem sempre  com as necessidades do país receptor. Como não se discute o que vem de graça, muita dessa ajuda se perde em gastos administrativos e cria uma corrupção própria de interesses mútuos de gente dos dois lados. Multidões de consultores que acham os receptadores de ajuda uns pobres coitados idiotas e outros lá recebendo recursos rindo de quem os dá.

O Brasil mudou o paradigma e o caso acima na cidade de Suubraak confirma isso. Não é só a simpatia e o jeito do brasileiro que contam, mas a competência técnica. E   principalmente a idéia do que o Brasil pegou suas melhores competências e as transformou em algo útil para terceiros países. Nisso se inclui a assistência na área social, cuja competência brasileira, como na administração publica, são muito admirados pelo mundo.

Os investimentos brasileiros em ajuda ao desenvolvimento são comparativamente modestos. Em mais de 500 projetos em curso no mundo, a contribuição total brasileira é de aproximadamente 400 milhões de dólares. A menor, mas muito eficiente parte cabe à Agencia Brasileira de  Cooperação (ABC) do Itamaraty. Os principais recursos vêm de outros órgãos do governo e também do setor privado, como o SENAI,  com projetos no Timor Leste e Moçambique.

Tornando a ajuda mais eficaz,  será necessário urgente maior coordenação dessas atividades e reforço do papel da ABC, aliás o que acontece em outros países. Também o
setor privado precisa ser um parceiro mais ativo e ver onde estão os seus interesses. E não no final como a EMATER de Minas, que esta atuando na Bolívia. Os campesinos de Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina na Africa do Sul e Moçambique e muitos outros, devem ver suas oportunidades em colaborar. O aprendizado é via dupla.

O Brasil não dá peixe, ensina a semear. Sob o sol forte africano não há como não ficar orgulhoso de que o País traz algo novo e não repete os modelos desgastados.

Stefan B.Salej
29.8.2012.
















 

Wednesday 22 August 2012

DA BOSNIA E DA SIRIA


Da Bósnia  e da Síria

A vista do alto de Sarajevo é de uma cidade formosa, deitada em um vale, com um rio separando a arquitetura otomana dos prédios austro-húngaros. E montanhas com florestas densas  e  verdes.E de repente,por todo lado,nos morros e vales, pedras brancas, apontadas para o céu, de uma brancura gritante. São cemitérios e mais cemitérios dos muçulmanos mortos pelos sérvios e croatas na guerra há duas décadas. E o quadro se completa com cemitérios católicos e ortodoxos.

Não tão longe está Srebernica, o lugar de um massacre vergonhoso, dos sérvios sobre os muçulmanos. Mais pedras brancas, mais dor, e vidas perdidas.Isso aconteceu sob as vistas de mundo inteiro, a  cores.E mais, sob a proteção e olhar pouco perplexo dos soldados holandeses das Nações Unidas.Vinte anos depois, no local do massacre, o atual  Secretario Geral das Nações Unidas pede desculpas e ainda diz que espera que o sucessor dele não vá repetir o gesto no caso de Síria.Esta atrasado, pode pedir desculpas já.

O conflito na Síria é diferente do conflito na Bósnia, mas o saldo de destruição é o mesmo. Famílias destruídas, mortos, mutilados, crianças trucidadas e sem futuro, cidades em ruínas. E mais refugiados.Um ano e meio de guerra sem fim, perante nossos olhos, todo dia na TV, de novo ao vivo e a cores.E as Nações Unidas novamente assistindo, como a Liga das Nações antes da Segunda Guerra Mundial, que assistiu impávida à acensão de Hitler.

Temos um sistema  multilateral  ineficaz.Digo mais: alimenta  a guerra. Não  é um sistema que evita guerras,pode até diminuir tensões, mas os fornecedores de armas e os que têm interesses no conflito não se assustam e nem param.E os grandes atores que têm assento no Conselho de Segurança têm direito a veto.E vetam todo esforço para acabar com o conflito sírio.

A resposta à pergunta se um mundo sem Nações Unidas seria melhor, é óbvia. Com essa instituição está ruim, mas sem ela seria pior.O que não pode continuar é termos um organismo que, com sua organização e seu sistema, legitima as mortes de inocentes e a destruição. As Nações Unidas precisam ser reformadas.Não se trata só de assento do Brasil no Conselho de Segurança,trata-se de mudança de um sistema arcaico, que serve hoje para legitimar os conflitos em vez de resolver.A luta da diplomacia brasileira é uma luta árida, mas tem que continuar, porque sem ela o mundo será dos que fizeram a Bósnia e estão hoje destruindo a Síria e alimentando conflitos, com milhares de refugiados na África, onde em alguns países a situação é igual ou pior, mas menos  vista na televisão do que a Síria.

Parece que insistimos em não apreender com a história. O que eu vou dizer aos meus amigos sírios?Que não me importo com eles porque a briga é das grandes potências, ou vou achar um meio de ser solidário? Uma maneira é dar apoio ao governo brasileiro para que as Nações Unidas ajam e se faça a reforma.Outro é que a sociedade expresse sua indignação sempre.Inclusive aos diplomatas dos países envolvidos e das grandes potências.Hillary Clinton visitou Brasil, foi recebida nas entidades empresariais e ninguém lhe disse nada sobre esses assuntos.Não resolvidos, acabam também com os mercados, já  que com as mortes poucos se preocupam.       

Stefan B. Salej
22.8.2012.

Monday 20 August 2012

A VIOLENCIA E MORTES NAS MINAS DE PLATINA NA AFRICA DO SUL

Polity
Article by: Sapa
Published: 17 Aug 2012
Lonmin violence not 'out of thin air' – Friedman
The violent confrontation that claimed more than 30 lives near Lonmin's Marikana mine, in Rustenburg, did not just happen out of thin air, an analyst said on Friday.

"Should we have seen this coming? Yes and no," said Steven Friedman, director of the Centre for the Study of Democracy at Rhodes University and the University of Johannesburg.

"You have a police force who are not properly equipped... You have people failing to realise that we need to stop treating trade unions as a threat and treat them as an asset.

"This industry [mining] is an important industry, but it also comes with human costs. We need a little bit more sensitivity to how difficult this job is."

Friedman said the situation at the Lonmin mine was also a good indication that unions had lost touch with their members.

"The NUM [National Union of Mineworkers] by its own admission lost the confidence of its members... If the unions are weak, you have tragedy."

Friedman said this showed what could happen in work places if the system of bargaining broke down.

Police moved in on protesters gathered on a hilltop near the mine on Thursday, after days of negotiations.

The police ministry said on Friday that "over 30" people died in the ensuing shooting. The National Union of Mineworkers (NUM) said that 36 people were killed.

Another 10 people – including two police officers, two security guards and three NUM shop stewards – have been killed in separate incidents since the start of an illegal strike last Friday.

The strike was believed to be linked to rivalry between the NUM and the Association of Mineworkers and Construction Union (Amcu) over recognition agreements at the mine. Workers also wanted higher wages.

Friedman said union rivalry was common all over the world, but was "more bitter" in South Africa.

"The reason is that for people involved, being in a senior position in a trade union means getting out of poverty. There is an economic motive here, and we wouldn't be here if we [didn't] have an economic situation where people have to fight for leadership in unions to have a better life," he said.

The police have come under heavy criticism for opening fire on the miners.

Friedman said police officers in South Africa were not being properly trained.

"I'm not blaming the police..., [but] our police are not being trained to deal with this violent situation," he said.

Many people felt that South Africa needed a police force that was tougher, but Friedman said this was not the case.

"It is not a question of being tougher. They [police] are not adequately trained. If you put guns and bullets in the hands of these people, who are not trained properly, you have a problem," he said.

Part of the problem was also that two police officers had been killed before Thursday's shooting.

Friedman said this had increased the chance of police on the scene shooting.

"Someone should have been aware of the problem," he said.

Thursday 16 August 2012

Dos alinhados nao alinhados


Dos alinhados não alinhados

Na bucólica ilha de Brioni no mar Adriático, hoje parque nacional croata, encontram-se decadentes  instalações de um zoológico e das antes  vistosas instalações para hospedar dignitários do mundo inteiro.No zoológico, havia tigres de Bengala, elefantes da Índia, crocodilos do Nilo e onças da África. Eram presentes dos dignitários da época, que junto com o Marechal Tito, da Iugoslávia  ( Nehru da India,Nkrumah da Gana, Nasser do Egito e Sukarno da Indonésia ) criaram em 1961 o Movimento dos Países Não-alinhados.

O movimento tinha por objetivo, em um mundo bipolar, Oeste com Estados Unidos e Este com a União Soviética, encontrar uma terceira via, que basicamente reunia países recém saídos do processo de  descolonização, e pobres, ou, oficialmente, em vias de desenvolvimento. Enquanto viveram os cinco líderes e alguns de seus sucessores, cresceu, reuniu 120 países-membros e 21 observadores, entre os quais o Brasil  (não esquecendo a admiração que o Presidente Jânio  Quadros tinha pelo movimento) e teve suas baixas e poucas altas.Em 1979, quando Cuba presidia o movimento, deu-se uma virada anti-imperialista e anti-colonialista que radicalizou posições e afastou o movimento dos objetivos iniciais, que eram organizar a união política para promover o desenvolvimento e comércio entre os países em desenvolvimento (Sul-Sul).

Durante a reunião na África do Sul, sob a presidência do legendário Nelson Mandela, o movimento começou discutir também a luta contra pobreza e o sub-desenvolvimento. Este, aliás, o maior problema da absoluta maioria dos países-membros. Mesmo representando mais da metade de população mundial, a renda media per capita dos seus habitantes está muito abaixo da constatada no chamado mundo desenvolvido.E entre esses países há inúmeros do Oriente Médio e África, estão os movimentos democráticos em curso ou as ditaduras mais notórias do planeta. 

A  próxima reunião será no Irã, agora em agosto,que assim  assume a presidência do movimento. Movimento que resiste ao tempo, como as instalações degradadas da ilha de Brioni. O mundo mudou, e mudou muito. Este é um tempo confuso, sem muito rumo, mas é sem duvida nenhuma um tempo diferente.O movimento dos não-alinhados virou, com Teheran Times propagando que seus líderes terão a oportunidade de mostrar ao  mundo que são bons amigos e líderes legítimos do movimento, simplesmente o movimento alinhado.Alinhado com a produção de artefatos de guerra nucleares, com ameaça aos vizinhos, com ódio religioso e racial, em especial contra os bahais e judeus, com envolvimento em atentados como o contra comunidade judaica na Argentina, e mais e mais. O Irã, ou Pérsia,  país com história, é hoje, com seu governo, um exemplo de tudo o que o  movimento dos não alinhados não  representava. Mas o preocupante é que tem apoio para fazer politicamente das suas, incluindo sua vontade de matar mais gente, e por isso haverá reunião lá. O movimento dos alinhados, agora contra o mundo, ganhou uma força que não pode ser desprezada.

Stefan B. Salej
15.8.2012.