Da Bósnia e da Síria
A vista do alto de Sarajevo
é de uma cidade formosa, deitada em um vale, com um rio separando a
arquitetura otomana dos prédios austro-húngaros. E montanhas com florestas densas e
verdes.E de repente,por todo lado,nos morros e vales, pedras brancas,
apontadas para o céu, de uma brancura
gritante. São cemitérios e mais cemitérios dos muçulmanos mortos pelos sérvios e croatas na guerra há duas décadas. E o quadro se
completa com cemitérios católicos e ortodoxos.
Não tão longe está Srebernica, o lugar de um massacre vergonhoso, dos sérvios sobre os muçulmanos. Mais pedras
brancas, mais dor, e vidas perdidas.Isso aconteceu sob as vistas de mundo
inteiro, a cores.E mais, sob a proteção e olhar pouco perplexo dos soldados holandeses das Nações Unidas.Vinte anos depois, no local do massacre, o atual Secretario Geral das Nações Unidas pede desculpas e ainda diz que espera que o sucessor
dele não vá repetir o gesto no caso de Síria.Esta atrasado, pode
pedir desculpas já.
O conflito na Síria é diferente do conflito na Bósnia, mas o saldo de destruição é o mesmo. Famílias destruídas, mortos, mutilados, crianças trucidadas e sem futuro,
cidades em ruínas. E mais refugiados.Um
ano e meio de guerra sem fim, perante nossos olhos, todo dia na TV, de novo ao
vivo e a cores.E as Nações Unidas novamente
assistindo, como a Liga das Nações antes da Segunda Guerra
Mundial, que assistiu impávida à acensão de Hitler.
Temos um sistema multilateral
ineficaz.Digo mais: alimenta a
guerra. Não é um sistema que evita
guerras,pode até diminuir tensões, mas os fornecedores de armas e os que têm interesses no conflito não se assustam e nem param.E
os grandes atores que têm assento no Conselho de
Segurança têm direito a veto.E vetam todo esforço para acabar com o
conflito sírio.
A resposta à pergunta se um mundo sem Nações Unidas seria melhor, é óbvia. Com essa instituição está ruim, mas sem ela seria
pior.O que não pode continuar é termos um organismo que, com sua organização e seu sistema, legitima as mortes de inocentes e a destruição. As Nações Unidas precisam ser
reformadas.Não se trata só de assento do Brasil no Conselho de Segurança,trata-se de mudança de um sistema arcaico,
que serve hoje para legitimar os conflitos em vez de resolver.A luta da
diplomacia brasileira é uma luta árida, mas tem que continuar, porque sem ela o mundo será dos que fizeram a Bósnia e estão hoje destruindo a Síria e alimentando
conflitos, com milhares de refugiados na África, onde em alguns países a situação é igual ou pior, mas menos
vista na televisão do que a Síria.
Parece que insistimos em não apreender com a história. O que eu vou dizer aos
meus amigos sírios?Que não me importo com eles porque a briga é das grandes potências, ou vou achar um meio
de ser solidário? Uma maneira é dar apoio ao governo brasileiro para que as Nações Unidas ajam e se faça a reforma.Outro é que a sociedade expresse sua indignação sempre.Inclusive aos diplomatas dos países envolvidos e das grandes potências.Hillary Clinton
visitou Brasil, foi recebida nas entidades empresariais e ninguém lhe disse nada sobre esses assuntos.Não resolvidos, acabam também com os mercados, já que com as mortes poucos
se preocupam.
Stefan B. Salej
22.8.2012.