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Sunday, 8 July 2018

DAS DERROTAS E VITORIAS


DAS DERROTAS E VITÓRIAS

A semana que passou foi uma desgraça para o brasileiro. A produção industrial caiu significativamente por causa de greve dos caminhoneiros. A inflação, que já estava controlada, subiu. O real continua se desvalorizando, ou seja, no popular, o dólar subiu. E o desemprego não melhorou em nada. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto caiu, de novo, em função da referida greve, e as exportações também.

E a cereja no bolo da desgraça foi a eliminação da seleção canarinha pelos  belgicanos (como os chamava o saudoso Kafunga). Sem comentários,  a não ser que um time bilionário como esse fez jus ao seus salários: jogou mal e não teve responsabilidade alguma com a camisa que vestia. A responsabilidade deles é com seus clubes e patrocinadores. O Brasil que se dane. E ainda confirmam Tite para técnico da Copa do Catar. Aliás, o que você pode esperar de uma CBF cheia de escândalos e cujo único dirigente de que me lembro hoje é dono de um helicóptero que transportava 500 kg de droga e não sabia de nada. Provavelmente também  não de sabe nada agora.

Enquanto o futebol era o tema, e o melhor meme das redes foi aquele que dizia que agora vamos voltar a trabalhar na terça-feira, desenrolava-se uma das maiores derrotas  no cenário industrial brasileiro.  Se alguma coisa positiva  ficou do regime militar, foi a criação da EMBRAER em 1969, um dos maiores exportadores brasileiros. A criação de joint venture com a Boeing, em que a norte-americana tem absoluta maioria, faz a Embraer desaparecer como empresa brasileira. Virou filial obediente da gigante norte-americana.

A questão que fica não é  por que se fez o negócio agora, no final do governo fraco e desmoralizado, e praticamente sem possibilidade de não fazer, mas por que deixaram chegar a essa situação. Há anos atrás tiveram a  oportunidade de fazer aliança com a AIRBUS, que inclusive tem fábrica de helicópteros em Minas, e não fizeram. Esperaram enfraquecer a empresa ao ponto de ser entregue à Boeing pelo valor equivalente à metade do que uma siderúrgica do Rio de Janeiro deve ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica. Portanto, dinheiro não é a questão, a questão é que, ao contrário dos próprios Estados  Unidos, Alemanha, França e outros, nós vendemos a melhor empresa de tecnologia e viramos filial tecnológica.
Como a Bloomberg escreveu: a Boeing não quer a fábrica, quer os 400 engenheiros da EMBRAER e sua tecnologia.

Bem, do lado das vitórias, fica a notícia de que Minas passa a produzir lúpulo, ingrediente fundamental para produzir cerveja. Algo de mineiro , mais importante do que o anúncio da Fiat de que, com pesados incentivos, deve modernizar os novos modelos, prometendo emprego que na verdade só existirão se a fábrica for  efetivamente competitiva em tecnologia. E que o Governo de Minas vai pagar em três vezes o salário dos seus funcionários, enquanto dá incentivo à montadora. Vai entender o que esta por trás de tudo isso. Podem ser ou  não eleições.


Sunday, 1 July 2018

DA COPA E SUAS LIÇÕES


DA COPA E SUAS LIÇÕES 

As dimensões de uma Copa de futebol são tantas que  está difícil de percebê-las no espaço de um mês. Aliás, as suas repercussões duram muito tempo e, em especial, seus escândalos, resultados e as dívidas que deixam. Ninguém esquece a Copa de quatro anos atrás. Foi um marco indelével na história do país, marco de competência na organização e incompetência na essência, que é perder no final para a Alemanha.

E assim foi a nossa alegria maior esta semana, quando a Alemanha foi mandada para casa por uma  inexpressiva força no futebol mundial, a Coréia do Sul. O Brasil explodiu em alegria de vingança, como se um fato tivesse alguma ligação com o outro. Ou seja, o que um jogo quatro anos depois tem a ver com o jogo de quatro anos atrás? As equipes são outras, os tempos são outros, só a bola continua quadrada. Mas, a nossa frustração de perdedores desejando a vingança coletiva contra os alemães continua a mesma. Um fenômeno e tanto, essa alegria com a derrota dos alemães.

E a volta para casa de argentinos e portugueses? Em qualquer circunstancia torcemos pelos sejam quem for que podem ganhar da Argentina. As imagens de Maradona sofrendo com a derrota nos ajudam a aliviar as nossas dores de incompetência ? Parece que sim. E a derrota de Portugal, país tão querido? Doeu, mas não ganhou o nosso vizinho Uruguai. Mas, não gostamos deles porque em 1950, no Maracanã, ganharam a copa da gente.

A Copa da Rússia, em que não temos mais times africanos jogando na fase de oitavas de final, é até agora um show de bola em termos de organização. A Rússia isolada e com sanções econômicas levantou a cabeça mais uma vez e mostrou que é um país que sabe o que quer e sabe fazer as coisas. O governo do Presidente Putin fez da Copa um momento Rússia para ninguém botar defeito.

Interessante observar que predominam as seleções europeias e latino-americanas. Onde estão os africanos que organizaram a copa há oito anos e tiveram seleções inesquecíveis, como a de Camarões, nas competições anteriores. Por outro lado, as seleções europeias estão tão multirraciais que você se pergunta se realmente existe um problema racial e de imigrantes na Europa. Pelo jeito, no futebol não. 
Além da organização da Copa, para um leigo em futebol como eu, vale a pena observar as táticas de jogo. Definitivamente os dois times com maiores estrelas do futebol mundial, a Argentina com Messi e Portugal com CR7, se deram mal. E quem não teve estrela, por exemplo a França ou o Uruguay, e jogou como equipe unida com o objetivo de ganhar o jogo, levou. Ou seja a lição que fica para o empresário é que quem vence é o time, jogando junto, respeitando a bola, o gol, o público e o adversário. É a empresa como um todo que vence, os indivíduos fazem parte do time. E mais, achar que a vingança nos faz fortes e melhores é mero engano. A derrota da Alemanha não faz nosso time melhor. Ou ele é melhor, ou não é. A bola é redonda e gol é quadrado. Pura geometria na alegria de jogar.

Tuesday, 12 June 2018

DO DÓLAR UP AND DOWN (sobe e desce)


DO DÓLAR UP AND DOWN (sobe e desce)

Há semanas que ouvimos falar que dólar, a moeda dos Estados Unidos, tem influenciado a alta de preços, não só dos combustíveis mas também dos comestíveis. Aí, o tal do dólar sobe, na verdade é o real que fica desvalorizado, e o país econômico entra em pânico. O Banco Central começa a queimar reserva, só 20 bilhões de dólares. O pior são as  explicações que dão os representantes do governo: calma, está tudo sob controle, temos reservas cambiais que cobrem a saída de dólares, e mais um monte de coisas que não saem da repetição dos eventos do passado.

Mas, qual é a realidade da turbulência cambial. A primeira é que a economia brasileira não é uma economia dissociada do mundo. Nós fazemos parte da economia mundial, e somos altamente dependentes dela. E não temos nenhuma influência nos movimentos que regem a economia mundial mas, só repetindo, afetados por ela e muito. A valorização do dólar e o aumentos dos juros nos Estados Unidos ou Europa, as barreiras comerciais e a política monetária dos bancos centrais de países desenvolvidos, têm influência forte na economia brasileira.

Em segundo lugar, a nossa matriz econômica não é baseada na produção, mas nos ganhos de especulação. Somos um país por excelência de terra fértil para a especulação, seja para os nativos, e, muito mais para o capital estrangeiro. E repetindo, ele vem, mas sai ainda mais rápido do que entra. Então cria-se uma ilusão de que estamos bem com a entrada de investimentos estrangeiros, quando ou ele vêm para especular, ou vem rastreado nos empréstimos e benefícios fiscais que só aumentam as nossas vulnerabilidades de contas públicas ou contas externas. Claro que há exceções, mas que só confirmam a regra.

E a questão básica passa em seguida pela nossas exportações. Sempre e cada vez mais e mais dependentes não só de matérias primas e produtos primários mas de traders externos. Exceção talvez sejam a Vale, com mineiro de ferro, e alguns exportadores de carnes vermelhas e brancas. Mas, estes já têm passivo de qualidade que nos leva a tremer quando vem alguma inspeção sanitária. No caso do café, só exportamos grãos e cafés especiais que, apesar de um esforço  formidável de alguns, ainda não representam um valor significativo.

As nossas importações são baixas porque economia não deslancha. E as saídas na conta de turismo é maior do que a entrada com turistas estrangeiros.

Em resumo, tem cada vez menos dólares para gastar e cada vez mais gente querendo dólar, nem que seja para reserva contra essas incertezas e vulnerabilidades de todo dia. O pior é a ilusão de  que tudo está bem. O câmbio não deve refletir insegurança jurídica e política, mas é uma componente de política econômica e cambial. Mas, lamentavelmente, no nosso caso reflete sim e ainda vai balançar muito mais, porque a situação é precária e com perspectivas pouco claras. Mas, o pior não é a percepção, o pior é que não teremos dólar para a farra cambial dos especuladores.

Sunday, 3 June 2018

DA CERTEZA DA INCERTEZA


DA CERTEZA DA INCERTEZA

Cachorro mordido por cobra tem medo do barbante (dito popular).

Agora, você imagina a nação toda mordida pela greve de caminhoneiros . Está todo mundo com medo do que vai acontecer. E o boato corre solto, cada facção, seja política ou criminosa, tentando tirar ao máximo proveito da desgraça generalizada que caiu sobre todos nós nas últimas semanas. Mas, estamos aqui e nem todos podemos emigrar para os Estados Unidos, onde já há valadarenses demais. E por aqui temos que administrar o medo, o receio, a incerteza eleitoral, a fraqueza do governo e mais todos os ingredientes externos, como as políticas de fortalecimento do dólar e de sanções comerciais que Trump inventa e geram mais incertezas.

Neste momento, quem aceitar que a volatilidade será uma constante e administrar  a incerteza  será o vencedor na travessia que pode durar além do período eleitoral. Uma constatação que ficou nesta crise é que as forças do tal mercado financeiro especulativo prevalecem sobre as forças produtivas neste país. A política de preços dos combustíveis, que deveria fazer parte da política energética nacional, ficou por conta de  um grupo de gestores de uma empresa monopolista que defendia o valor das ações da empresa, de seu lucro e esquecia totalmente  que existe um país miserável, sem capacidade de pagar o que eles querem cobrar. Salve o investidor, salve a gerência, salve o mercado e dane-se o povo. Quem sabe os defensores dessas teorias ganham o prêmio Nobel de economia.

Aliás, uma boa coisa neste momento é fechar os ouvidos e olhos aos analistas e economistas, que defendem todos uma economia a favor dos especuladores financeiros. Por incrível que pareça, nem Roberto Campos conhecido na época como Bob Fields por ser favorável aos Estados Unidos,  e nem Mario Simonsen, sem falar no Horácio Lafer, eram tão  a favor de uma minoria especuladora como os atuais economistas de plantão que estão aí. Nenhuma economia que destrói a capacidade produtiva do país, assim como a de poupança e consumo, e privilegia a especulação do mercado financeiro, gera um país mais justo e equitativo na distribuição de renda e fomento do desenvolvimento.

As certezas que temos são que devemos manter o cliente satisfeito, o funcionário motivado, o caixa independente de bancos e empréstimos, e olhar bem para onde vai a demanda nesta estrada de mudanças tecnológicas rápidas. O resto são fatores que você não determina e não influi como empresário. Esqueça a  política, esqueça os economistas e analistas, volte a visitar os clientes e o chão da fábrica. Pegue o leme do seu barco e não deixe que a tempestade domine o seu destino. Muito menos uns usurpadores do bem comum que hoje dominam o país. E tem mais: nem sempre após a tempestade vem a bonança. Pode vir outra tempestade. 

Sunday, 27 May 2018

DO CAOS DE HOJE E DE AMANHÃ


O CAOS DE HOJE E DE AMANHĀ
O outro lado da moeda, ou seja do caos provocado pela alta dos combustíveis, que gerara  a revolta dos caminhoneiros, é que descobrimos o erro de todos  os governos até agora na área de transporte: deram a preferência aos transportes por caminhões ao invés de hidrovias e estradas de ferro. Deram preferência ao diesel poluidor, ao invés do etanol  e carros elétricos. E ficamos reféns da poluição e de um modelo nefasto de transporte.

Ainda nesse capítulo, o caos instalado mostrou uma incrível fragilidade da nossa economia. Ruiu o castelo de cartas. Os dados de realidade econômica, com previsões modestas de crescimento, mas firmes nas previsões de  inflação baixa, juros baixos, excelente desempenho externo com superávit da balança comercial, caíram em uma semana de país parado. Desgovernado pelos governos central e estaduais, que foram surpreendidos. Como surpreendidos, se os próprios caminhoneiros avisaram que a situação era insustentável e demonstraram isso com manifestações esporádicas varias vezes? Surpreendidos depois que o real desvalorizou em 60 dias 14 %, o petróleo subiu 19 % no mercado internacional e o preço dos combustíveis na refinaria da Petrobras subiu 48 %?

Qual é o gênio do governo que acha que essa conta fecha para o cidadão? Com o aumento de preços dos combustíveis salvaram os especuladores com ações da PETROBRAS, entre eles o próprio governo. A PETROBRAS atingiu o seu maior valor histórico, com lucros mirabolantes. E a conta foi paga, incluindo as indenizações bilionárias aos acionistas americanos, por  210 milhões de brasileiros. Aliás, nesse capítulo ainda há aumento de energia elétrica, de água, de gás, de previdência privada, e tudo mais, e o governo dizendo que a inflação está em 4 %. E tudo isso aprovado pelo governo. Há um bando de analistas e economistas que estão enganado todos nós, os trouxas de plantão, permanentemente, e ganhando dinheiro grosso com a especulação. Vide o caso da Petrobras e Eletrobrás, entre outros. E aliás, alguém previu esse caos?

E isso é só o inicio. Lamentavelmente, este episódio dos caminhoneiros está acordado o país para uma realidade do colapso do modelo político e econômico que nos foi imposto pelo curso da história. Acabou. E estamos em tempos de ruptura porque os candidatos para a presidência nada têm a  dizer de novo. E os que estão no poder estão perplexos, cuidando de si em vez de cuidar da nação. Tempos de transição que não serão fáceis e são imprevisíveis no seu curso e suas consequências.

Sunday, 20 May 2018

DO CASAMENTO REAL E BREXIT


DO CASAMENTO REAL E BREXIT

Fascinante o casamento do sexto pretende ao trono britânico, atualmente Duque de Sussex, Harry, com a agora duquesa, ex-divorciada, americana, afrodescendente, feminista, independente e famosa Meghan Merkel. No show, todo casamento real é um show, que foi assistido por mais de um bilhão de pessoas (cinco vezes ou mais do que a população total do Brasil) apareceu de tudo e todos. Mas, não havia políticos (não são convidados) e nem os colegas do elenco da ex-atriz da série Suits. Mas havia um coral Gospel de melhor qualidade, e um Pregador anglicano- americano falando de Martin Luther King. Realmente, para confundir qualquer um da Corte real britânica e tentar convencer o mundo de que a realeza britânica está se atualizando com relação ao que está acontecendo no mundo. O Reino Unido apareceu bem em cores e ao vivo, dizendo ao mundo aí estamos, vivos, ativos, lindos de morrer e continuamos atores importantes. Show de primeira.

Algo incrível é a fascinação, só faltou tocar esta música no casamento, que as pessoas têm com a monarquia e, em especial, a britânica. Do ponto de vista dos regimes democráticos, é uma forma que renega o princípio básico da democracia, que é a possibilidade de alternância no poder. Na Europa, além do Reino Unido, há monarcas chefiando o estado na Noruega, Holanda, Dinamarca, Espanha, e  Suécia. Alias, todos países bem administrados. No Brasil, há alguns anos tivemos referendum onde pessoas votaram a favor de um regime presidencialista, contra o parlamentarismo e a monarquia.

Mas, o casamento real desta semana, que trouxe para a Londres uma injeção enorme de dinheiro (casamento é business, além do amor, como disse o pregador americano) coloca também em questão como está o Reino Unido. A questão das mudanças na corte, com a presença de uma americana (por sinal para os britânicos  uma péssima referencias em função do rei que na década da 30 renunciou   Para casar com uma divorciada americana), não vai ser suficiente para reavaliar o papel do Reino Unido, ainda membro do Conselho de Segurança da ONU e força militar mais for forte da Europa, no mundo.

O antigo império britânico se esfacelou, mesmo sendo defendido com sangue (como a invenção dos campos de concentração na guerra dos Boers na África do Sul, onde foram assassinadas mais de cem mil pessoas. Ou o enforcamento dos combatentes judeus durante a luta pela  independência da Palestina. Ou na guerra em Chipre.Etc.etc.), mas ficou a Grã Bretanha procurando seu espaço perdido. Com a saída da União Europeia, não há canto de gospel que vá ajudar a redefinir o papel do país no mundo. Não vai bastar show, nem arrogância dos diplomatas, nem nossa fascinação, mas mais tecnologia, mais alianças, mais criatividade. O Reino Unido terá que, inclusive com sua diversidade cultural (no casamento estava o cantor Elton John, homossexual, enquanto lembramos que o gênio da computação Alain Turing se suicidava há 75 anos atrás por o homossexualismo ser proibido na Inglaterra) mostrar a sua diversidade econômica para continuar a propensa liderança no mundo.

Wednesday, 16 May 2018

DA ARGENTINA TURBULENTA


Da Argentina turbulenta

A semana de mau tempo em Buenos Aires não foi só de chuvas e trovoadas propriamente ditas, mas de uma turbulência econômica assustadora. Surpreendente, de certa forma, porque os incautos observadores da república portenha achavam que os piores momentos na economia passaram e que o governo Macri era só alegria. A sua aceitação internacional, a vitória nas eleições  parlamentares intermediárias, a determinação em fechar acordos internacionais através do Mercosul e algumas reformas sistêmicas, davam a impressão de um futuro brilhante e de uma re-eleição garantida no próximo ano.

Mas, o descontrole do câmbio, a repentina elevação dos juros pelo Banco Central (taxa básica de 40 % ao ano), a elevação da inflação ( prevista para este ano em  20 %) , levaram a Argentina, com a desculpa de que o dólar norte-americano se sobrevalorizou e prejudicou o peso argentino, a um turbilhão inesperado para os incautos e bem-vindo para todos aqueles que sempre ganham com a crise argentina. O capital, que vinha alegre, e em quantidade, de repente, saiu do país, com a mesma alegria, como escreveu o influente New York Times. Aliás, algo para lembrar no caso brasileiro, em que teimamos que capital só vem, e que não vai embora em velocidade ainda maior quando realizou seus lucros ou sentiu o perigo. O Banco Central argentino queimou, para manter a moeda em pé, mais de cinco bilhões de dólares.E aí vêm as declarações tantas vezes já ouvidas pelos investidores estrangeiros das autoridades argentinas, só mudam os nomes, mas não as frases, de como tudo está calmo e resolvido.

No Brasil temos mais especialistas em Europa, agora em China e Estados Unidos, do que entendedores de Argentina. A crise cambial argentina bate de frente com a recuperação da economia e, em especial, da indústria brasileira. Nosso superavit comercial, basicamente de manufaturados, de 10 bilhões de dólares, com Argentina, é resultado da recuperação da economia portenha. E a nossa exportação de automóveis é principalmente destinada ao país vizinho. Como 70 % de automóveis produzidos na Argentina usam peças importadas e a maior parte dos automóveis é importada, a desvalorização de 30 % da moeda local terá efeitos imediatos no custo e no preço de venda. Em resumo, acabou a alegria. Ficou mais uma vez a saudade da boa relação comercial.

A nossa aliança com a Argentina deveria ter sido mais solidamente revista há mais tempo. Mas, como somos também mais de vento do que de formação de uma política externa e comercial a longo prazo, acabamos aceitando esse tipo de eventos como normais. Aliás, estamos nos iludindo com superávits comerciais, inclusive com a China, sem nenhum fundamento sólido para uma relação consistente a longo prazo. Estamos confundindo balança comercial com balanço de pagamentos. Também no Brasil vai faltar dólar em breve, com a gestão e com a política de comércio exterior que temos. E mais, devido à base exportadora, que se restringe a poucos empresas, poucos produtos e poucos mercados. O efeito vodka, eu serei você amanhã, poderá se repetir, sem sabermos quando e como.