DA POLÍTICA E POLITICAGEM EMPRESARIAL
Num recente episódio em reunião do mais alto órgão de decisão de uma entidade empresarial das maiores (e mais polpudas) de Minas, quando um dos seus mais conceituados diretores e presidente de várias entidades filiadas, após a fragorosa derrota de uma sua proposição para filiar mais um sindicato, do qual seria presidente (ele e os sócios controlam não só vários sindicatos, a própria entidade e mais a entidade nacional), perdeu o bom senso pelo qual era conhecido, e chamou seus colegas (pelo que contam nos bastidores) de não possuírem vergonha e serem desonestos, entro outros predicados, cabe a pergunta porque tanta animosidade para dirigir uma entidade empresarial se o serviço é voluntário.
Há algum tempo atrás, um diretor de um serviço de apoio às empresas, experiente político, obrigado a defenestrar, por ordem do presidente-empresário um outro empresário, que prestava serviços profissionais, por ele ter dado declarações na imprensa que desagradaram, disse que a política em geral tinha métodos sujos e que está surpreso com os que os empresários usam nas suas entidades.
O fato é que o que acontece na política partidária, no Congresso, nos governos de varias naturezas, essa decadência generalizada de valores, chegou também às entidades empresariais. Claro que nem a todas, já que há honrosas exceções, mas também há, como no caso descrito, ocorrências de extrema gravidade. Em entidades que são dominadas por clãs ou grupos empresariais, familiares, onde a compra de votos e os conchavos para colocar nem abaixo de tapete, mas abaixo de terra, os desmandos, não são raridade. E as eleições são shows para se fazer, no final, uma acordo de esquecer os desmandos do passado, para garantir os do futuro.
Numa hora de crise em um sentido tão amplo que o país nem viveu ainda, episódios de desentendimento, chegando quase às via de fato, de desrespeito às pessoas, à sua liberdade de expor ideias, no meio empresarial, beiram absurdos inaceitáveis. Que exemplo podem seguir os jovens empresários com esse comportamento? E o que a sociedade pode esperar de uma classe cujo poder econômico está sendo usado para seu próprio bem, muitas vezes se apresentado de forma falsa, com publicidade excessiva e programas pseudo sociais?
Minas vive uma crise de governabilidade e sem coesão em torno de projetos dos empresários, em especial de segmentos como a indústria, que mais sofrem nesta crise, na qual só há aumento de desemprego, redução de atividades e ampliação das incertezas.
Mas, onde estão as ideias, os projetos que convençam a sociedade de que os empresários podem não só se beneficiar pessoalmente de sua atuação politico-empresarial, mas realmente liderar, com outros atores, primeiro a saída da crise e em seguida o desenvolvimento?
Se persistir o espírito de briga pelo poder e o abuso dele nas entidades empresariais, como demonstra o episódio recente, que é a ponta do iceberg da privatização das entidades, e não mudar a visão, o discurso e ação, Minas continuará sendo cada vez mais exportadora de mineiros, de seus talentos e do seu capital. E Minas é mais do que isso, como também seus industriais e empresários são.