Levantou, apanhou. A guerra
comercial.
O fato de não estarmos envolvidos diretamente em conflitos armados não quer dizer que não estamos em guerra.
Enquanto o país luta para aumentar as
suas exportações, o que não é fácil, os nossos concorrentes reagem. Não há dia em que, em algum lugar
do mundo, não barrem produtos ou
empresas brasileiras. Temos o caso mais recente da carne bovina, barrada em
seis países, o do frango e os mais
antigos de aviões, de suco de laranja, de
soja, de algodão, das barreiras na Argentina
e até os casos de barragem de entrada de brasileiros na Espanha. E
mais, milhares de pequenos casos que as empresas administram sozinhas, longe
dos holofotes da imprensa e da política. Exportar é lutar.
A preparação para essas batalhas começa nas empresas produtoras e
exportadoras. Aliás antes, nas faculdades de
comércio exterior e de direito, onde temos que preparar melhor os nossos profissionais. E a base de tudo é a estratégia empresarial. Começa pela inovação, ou seja ser competitivo
pelo produto e não só pelo preço. Essa competitividade tem
que ser de todos, inclusive do setor público. E claro, tem o seu
ponto de partida na escolha de mercados com menor nível de resistência e de barreiras, sejam
técnicas ou políticas.
O recente caso da carne bovina
mostrou que também outros atores,
governamentais ou não, devem estar preparados
para essas batalhas, começando por evitar que aconteçam problemas. O episódio mostrou enorme falta de
responsabilidade, diria até de atenção, dos envolvidos. As entidades de classe e agências promotoras de exportações devem estimular a estratégia de não-conflito em vez de
empurrar a solução para o jeitinho
brasileiro com a simpatia de malandro. Inclusive porque a maioria das empresas
têm ações na bolsa de valores e têm responsabilidades com os diversos stakeholders.
Quando ocorre a proibição de importação do produto brasileiro
provocada por deslizes de um exportador, todas as exportações brasileiras são afetadas. Estamos bem
amparados através de nossa diplomacia nos fóruns internacionais como a OMC. A rede diplomática reage bem, mas ela e o governo não podem ser usados para cobrir os erros empresariais ou
constranger a presidência da nação porque o dever de casa não foi feito.
A exportação e ampliação da presença econômica brasileira é política de Estado. Portanto,
ele é o primeiro que deve se equipar para dar condições ao setor produtivo para poder exercer o seu papel. O caso da
proibição de carne mais recente
mostrou que o Estado brasileiro esta em
certos setores despreparado para exercer seu papel de controle. A ambição de atingir em dez anos 500 bilhões de dólares de exportações vai exigir posturas
diferentes também no setor público, adequando a gritante falta de infra-estrutura.
Ou seja, a defesa comercial é só uma parte da moeda. Na
verdade temos que atacar os mercados sem perder a capacidade de defesa. E temos
bons exemplos que se sobrepõem aos fracassos e maus
exemplos de alguns. Mas essa tática deve também provocar a mudança de atitude de entidades
empresariais, principalmente de agricultura e indústria. A primeira, não pode resolver tudo através de bancada no congresso e
pressão política. E a segunda não deve se esconder atras da
competência da FIESP, o caso típico foi o contencioso com a Argentina, e participar só das festas com o governo através de suas lideranças. Precisa de esforço competente para
resultados.
Quanto mais exportarmos,
mais problemas vamos enfrentar meu caro Watson. E cada problema que enfrentamos
não é só menos lucro para as empresas, menos dólares, mas também menos empregos e mais
problemas sociais. Estamos em um mundo em guerra comercial permanente. E temos
que estar prontos para isso.
Stefan B. Salej
14.1.2013.