Das Malvinas
O referendum nas Ilhas
Malvinas, ou Falklands, como as chamam os britânicos, com a pergunta se
você quer que as ilhas continuam britânicas, é uma das boas anedotas políticas deste ano. Perguntar
aos 1800 eleitores dos 3 mil habitantes de uma ilha de 12 mil km2 com a maior
renda per capita da América do Sul, três vezes superior à brasileira, sendo que
nenhum deles é argentino, mas todos são súditos britânicos, se preferem receber dinheiro de Londres ou de Buenos Aires,
é redundância política. Todos sabiam que mesmo fazendo frio e tendo que cuidar de
quase um milhão de ovelhas na ilha, ninguém é suficientemente bêbado para votar a favor das ilhas serem Malvinas em vez de
Falklands. E ninguém esqueceu a fracassada
invasão Argentina de 1982, que custou
a vida a muita gente dos dois lados.
Mas, a questão está longe de ser resolvida.
Os argentinos, que aprendem desde criança que "las Malvinas son argentinas", não vão desistir de querer as
ilhas de volta após quase três séculos de dominação de terceiros. Como e
quando será resolvido esse impasse,
ninguém sabe. Num artigo recente
publicado pela Bloomberg, foi demonstrado que os britânicos deixaram suas colônias, como a Índia, por exemplo, quando o trade off não fechava. Ou seja, quanto o custo de manter o território não era mais suportado pelo
tesouro britânico, que gastava mais do
que a colônia contribuía. E a descoberta de petróleo nas proximidades das ilhas pode ser um fator que pese.
As Malvinas não são o único território europeu na América Latina. A maior fronteira da França é com o Brasil, a Guiana
Francesa. Também lá a renda per capita é maior do a que brasileira,
mas muito abaixo da francesa. Dos 60 mil trabalhadores, 70 % trabalham
diretamente para o governo. Certamente você se lembra do filme Le
Papillon, com Dustin Hofmann, sobre as prisões na Guayana Francesa. Ou
o acidente com o foguete espacial Arianne lançado de lá, importante base espacial francesa.
Os holandeses têm, cara a cara com a Venezuela, as Antilhas holandesas com Arruba,
os britânicos ainda têm algumas outras ilhas no Caribe e as lindas e organizadas ilhas
Bermuda. Sem falarmos da Antárctica e da Groenlândia, que pertence com seu urânio à Dinamarca.Portanto, muito mais do que qualquer outro continente, é a America Latina que ainda é colonizada. No momento não há movimentos de libertação nesses territórios, mas há movimentos de insatisfação porque, com muita ajuda, o nível de vida pode ser superior nos padrões latino americanos, mas está longe de estar perto de
padrões europeus. Colônia é colônia, e o retrato das Américas ainda não esta terminado.