Até há alguns meses, apenas através do futebol a Catalunha existia para a maioria dos brasileiros: Neymar jogava no Barcelona, Barça, time com o mesmo nome da capital da região mais rica da Espanha. Neymar foi para Paris, mas a Catalunha continua e cada vez mais presente no noticiário internacional. A região, de 32 mil km2 (tamanho de Sergipe), onde 95 % dos 7.5 milhões de habitantes falam catalão, língua muito diferente do espanhol, com renda per capita de 35 mil dólares (a do Brasil não passa de 10 mil), maior do que o da Itália, Coréia do Sul e Israel, com exportações de 65 bilhões de dólares (só manufaturados) e responsável por 20 % da riqueza da Espanha, quer se separar. E assim se tornaria o 34° país mais rico do mundo, e um dos mais competitivos.
O processo de declaração da independência está em curso e é claro que o governo central espanhol está lutando com todas as armas legais, inclusive a policia, para impedi-lo. Quem gostaria de ficar na história como responsável pelo esfacelamento do país? Nem o Rei Felipe e nem o Primeiro-Ministro Rajoy. Mas, o processo está em curso, e cada vez mais complicado. Os catalães não têm como voltar atrás e perder esta oportunidade histórica de sair da Espanha. E os espanhóis, que mantem até hoje colônias no Saara e perderam seu esplendor colonial (mas não a pose), também não sabem resolver a não ser no tapetão. Com experiência de lutar contra o separatismo basco, impregnado com atos terroristas do grupo ETA, estão confundindo o que está acontecendo hoje na Catalunha.
A Europa não quer, no meio das discussões sobre a saída da Grã Bretanha da União Europeia, mais uma confusão como a separação, hoje da Catalunha da Espanha, mas que amanhã pode ser do País Basco, também da Espanha, da Escócia do Reino Unido, do esfacelamento da Bélgica e das autonomias das regiões italianas. Mas, cada um desses processos é diferente, já que a Europa não é um continente unido pelos países mas um conglomerado de nações, com sua história e cultura. A consolidação europeia como união das nações –estados (a Baviera se diz Estado livre na Alemanha) está longe de terminar, se é que algum dia termina.
Na Catalunha, que tem um projeto de independência, tudo pode acontecer. O que não vai acontecer é que nada vai acontecer. A racionalidade do nacionalismo é totalmente irracional. E a Europa já viu esse processo dezenas de vezes, e nunca terminou sem derramamento de sangue.
E o Brasil como fica nessa situação? No caso da reorganização política da antiga União Soviética (neste ano comemorando 100 anos de revolução bolchevique) e da Iugoslávia, o Brasil agiu rápido e reconheceu os novos países. Só até hoje não reconhece o Kosovo, que se separou da Sérvia. E o governo disse que não vai reconhecer a independência da Catalunha. Isso tem lógica porque dizer hoje que vai reconhecer é comprar briga com a Espanha, o que não convém.
Mas a lição mais importante que fica é olhar nesse mapa do mundo do desejo de cada um ficar sozinho, para o mapa do Brasil, um dos poucos países tão unido, uniforme geograficamente e linguisticamente, culturalmente e politicamente. Será que em contraponto a essas dificuldades de se manterem unidos e coesos, o Brasil ganha mais forca e projeção? Se for aliado a um projeto nacional de competitividade e justiça social, sim. Mas só pelo tamanho e falarmos uma língua só, não será suficiente.