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Sunday, 29 July 2018

DO ENSINO E EMPREGO DOS ENGENHEIROS


DO ENSINO E EMPREGO DOS ENGENHEIROS

No Brasil há mais de um milhão de estudantes de engenharia. Isso não é muito para um país de 210 milhões, desde que a qualidade do ensino leve ao aumento da empregabilidade. O fato é que as necessidades da indústria, dos serviços e da agricultura, de profissionais altamente qualificados, em função das mudanças tecnológicas, andam mais depressa do que a oferta desses profissionais. Em resumo: o nosso ensino anda anos luz atrás das necessidades do mercado, que precisa inovar, aumentar a capacidade competitiva e adotar as tecnologias chamadas 4.0.

A indústria, seja de manufatura, de serviços ou agricultura, que não se atualizar tecnologicamente, não tem futuro. O modelo de baixa produtividade e mão de obra pouco qualificada, de baixo custo, com altos incentivos governamentais, morreu. E para essas mudança precisa-se de mão de obra qualificada. Não só deve mudar o sistema na área do ensino profissionalizante, em que hoje há menos estudantes do que há 20 anos, mas também o ensino técnico e, em especial, o de engenharia. O de engenharia em especial porque, se você não tem lideranças tecnológicas bem formadas, você não pode esperar que o resto do sistema funcione bem.

Constituindo raras exceções, há algumas escolas de engenharia que podem ser consideradas do nível de que a indústria precisa. A absoluta maioria, nesse milhão de futuros formandos, não passa de pague-passe e cria mais um contingente de desempregados do que de formandos com possibilidades de emprego. Alguns cursos ficam enganando os alunos com falsas especializações - daqui a pouco vamos ter curso de engenharia em pão de queijo - ao invés de melhorarem tanto a exigência de entrada de alunos como todo o processo educacional. A situação é deveras crítica nos sistemas privados de engenharia, onde outra invenção é o tal do empreendedorismo. Empreendedorismo não substitui conhecimento de engenharia e nem é o gerador de soluções de engenharia de que as empresas precisam. É outra coisa.

Não há chance alguma de desenvolvermos o país sem profissionais, na área técnica, de melhor qualidade. Se a indústria deve ser 4.0, altamente integrada à internet das coisas, blockchain, big data, analítica e realidade virtual, então você não pode ter um ensino que forma profissionais 2.0, ou seja para uma economia do século passado. Essa distância entre o ensino e o mercado de trabalho precisa ser reduzida para que o país volte a crescer através de empresas tecnologicamente competitivas.

E nesse capítulo é fundamental que as instituições de ensino privadas liderem a mudança, porque senão estarão de fato formando desempregados ao invés de aumentar a empregabilidade dos formandos. Sem boa engenharia não tem saída nem da crise e nem do desenvolvimento. Simples assim.

Sunday, 22 July 2018

DAS LIÇÕES ARGENTINAS


DAS LIÇÕES ARGENTINAS

Definitivamente, o que hoje está acontecendo na Argentina deveria servir  de  lição para Brasil. Depois de longos anos de domínio populista do clã Kirchner, que ameaça voltar ao poder nas próximas eleições, o governo Macri veio com toda força, ganhando inclusive as eleições intermediárias, que lhe deram um poder de fogo maior no Congresso. Mas, mesmo anunciando após a posse a gravidade da situação, fazendo alguns remendos em seguida, não esperava que a situação seja social, econômica, monetária, educacional, moral, ética ou judicial fossem de tanta gravidade. 

E aí a bomba de efeito retardado explodiu e hoje a Argentina está sob domínio, jugo e administração efetiva do temível FMI- Fundo Monetário Internacional. Quem dita as regras são os burocratas de Washington que cuidam da área fiscal, das despesas públicas, do orçamento, tanto no nível federal como dos estado e tudo o mais. Tem outra solução? Neste caso não, inclusive porque as forças políticas argentinas não fariam os ajustes e reformas necessárias para colocar o país em ordem, sem intervenção externa.

E todos, com o Presidente Macri liderando, prometem o céu após esse sacrifício, que tem que ser feito já. Os sacrifícios sociais em um  país que tem 30 % de miseráveis (não se iluda com a beleza de Buenos Aires), alta taxa de  desemprego e inflação beirando os 40 % ao ano, trarão à rua os afetados diretamente pelas reformas que, se não forem feitas, deixarão a situação ainda pior. E tudo isso a dois anos de novas eleições, quando o kirchnerismo dirá “veja como foi bom quando nos governamos”.

O Brasil e a Argentina estão economicamente ligados e o fracasso de um afeta muito a economia do outro. Para ser ter uma ideia dessa ligação é só ver nossas exportações para o nosso sócio do Mercosul, que geraram um superávit de mais de 10 bilhões de dólares nas vendas de manufaturados. Isso  acabou. Ou a vinda de turistas argentinos que, com a alta do dólar em mais de 40 % neste ano, não poderão mais viajar para o exterior.

Mas, a lição maior é que a nossa situação econômica estará em janeiro bem pior do que imaginamos. De um lado, ninguém ganha as eleições com promessas de ajustes duros que terão que acontecer. E ninguém governa sem fazer esses ajustes. Macri demorou a fazer e está sitiado e sob judice do FMI. Conosco pode acontecer a mesma coisa, se não entendermos que o próximo governo pode ganhar a eleição com um discurso, mas, se não ajustar e puser ordem na casa, inclusive nos parlamentos a serem eleitos, o caminho será um só. FMI.

Sunday, 8 July 2018

DAS DERROTAS E VITORIAS


DAS DERROTAS E VITÓRIAS

A semana que passou foi uma desgraça para o brasileiro. A produção industrial caiu significativamente por causa de greve dos caminhoneiros. A inflação, que já estava controlada, subiu. O real continua se desvalorizando, ou seja, no popular, o dólar subiu. E o desemprego não melhorou em nada. A expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto caiu, de novo, em função da referida greve, e as exportações também.

E a cereja no bolo da desgraça foi a eliminação da seleção canarinha pelos  belgicanos (como os chamava o saudoso Kafunga). Sem comentários,  a não ser que um time bilionário como esse fez jus ao seus salários: jogou mal e não teve responsabilidade alguma com a camisa que vestia. A responsabilidade deles é com seus clubes e patrocinadores. O Brasil que se dane. E ainda confirmam Tite para técnico da Copa do Catar. Aliás, o que você pode esperar de uma CBF cheia de escândalos e cujo único dirigente de que me lembro hoje é dono de um helicóptero que transportava 500 kg de droga e não sabia de nada. Provavelmente também  não de sabe nada agora.

Enquanto o futebol era o tema, e o melhor meme das redes foi aquele que dizia que agora vamos voltar a trabalhar na terça-feira, desenrolava-se uma das maiores derrotas  no cenário industrial brasileiro.  Se alguma coisa positiva  ficou do regime militar, foi a criação da EMBRAER em 1969, um dos maiores exportadores brasileiros. A criação de joint venture com a Boeing, em que a norte-americana tem absoluta maioria, faz a Embraer desaparecer como empresa brasileira. Virou filial obediente da gigante norte-americana.

A questão que fica não é  por que se fez o negócio agora, no final do governo fraco e desmoralizado, e praticamente sem possibilidade de não fazer, mas por que deixaram chegar a essa situação. Há anos atrás tiveram a  oportunidade de fazer aliança com a AIRBUS, que inclusive tem fábrica de helicópteros em Minas, e não fizeram. Esperaram enfraquecer a empresa ao ponto de ser entregue à Boeing pelo valor equivalente à metade do que uma siderúrgica do Rio de Janeiro deve ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica. Portanto, dinheiro não é a questão, a questão é que, ao contrário dos próprios Estados  Unidos, Alemanha, França e outros, nós vendemos a melhor empresa de tecnologia e viramos filial tecnológica.
Como a Bloomberg escreveu: a Boeing não quer a fábrica, quer os 400 engenheiros da EMBRAER e sua tecnologia.

Bem, do lado das vitórias, fica a notícia de que Minas passa a produzir lúpulo, ingrediente fundamental para produzir cerveja. Algo de mineiro , mais importante do que o anúncio da Fiat de que, com pesados incentivos, deve modernizar os novos modelos, prometendo emprego que na verdade só existirão se a fábrica for  efetivamente competitiva em tecnologia. E que o Governo de Minas vai pagar em três vezes o salário dos seus funcionários, enquanto dá incentivo à montadora. Vai entender o que esta por trás de tudo isso. Podem ser ou  não eleições.


Sunday, 1 July 2018

DA COPA E SUAS LIÇÕES


DA COPA E SUAS LIÇÕES 

As dimensões de uma Copa de futebol são tantas que  está difícil de percebê-las no espaço de um mês. Aliás, as suas repercussões duram muito tempo e, em especial, seus escândalos, resultados e as dívidas que deixam. Ninguém esquece a Copa de quatro anos atrás. Foi um marco indelével na história do país, marco de competência na organização e incompetência na essência, que é perder no final para a Alemanha.

E assim foi a nossa alegria maior esta semana, quando a Alemanha foi mandada para casa por uma  inexpressiva força no futebol mundial, a Coréia do Sul. O Brasil explodiu em alegria de vingança, como se um fato tivesse alguma ligação com o outro. Ou seja, o que um jogo quatro anos depois tem a ver com o jogo de quatro anos atrás? As equipes são outras, os tempos são outros, só a bola continua quadrada. Mas, a nossa frustração de perdedores desejando a vingança coletiva contra os alemães continua a mesma. Um fenômeno e tanto, essa alegria com a derrota dos alemães.

E a volta para casa de argentinos e portugueses? Em qualquer circunstancia torcemos pelos sejam quem for que podem ganhar da Argentina. As imagens de Maradona sofrendo com a derrota nos ajudam a aliviar as nossas dores de incompetência ? Parece que sim. E a derrota de Portugal, país tão querido? Doeu, mas não ganhou o nosso vizinho Uruguai. Mas, não gostamos deles porque em 1950, no Maracanã, ganharam a copa da gente.

A Copa da Rússia, em que não temos mais times africanos jogando na fase de oitavas de final, é até agora um show de bola em termos de organização. A Rússia isolada e com sanções econômicas levantou a cabeça mais uma vez e mostrou que é um país que sabe o que quer e sabe fazer as coisas. O governo do Presidente Putin fez da Copa um momento Rússia para ninguém botar defeito.

Interessante observar que predominam as seleções europeias e latino-americanas. Onde estão os africanos que organizaram a copa há oito anos e tiveram seleções inesquecíveis, como a de Camarões, nas competições anteriores. Por outro lado, as seleções europeias estão tão multirraciais que você se pergunta se realmente existe um problema racial e de imigrantes na Europa. Pelo jeito, no futebol não. 
Além da organização da Copa, para um leigo em futebol como eu, vale a pena observar as táticas de jogo. Definitivamente os dois times com maiores estrelas do futebol mundial, a Argentina com Messi e Portugal com CR7, se deram mal. E quem não teve estrela, por exemplo a França ou o Uruguay, e jogou como equipe unida com o objetivo de ganhar o jogo, levou. Ou seja a lição que fica para o empresário é que quem vence é o time, jogando junto, respeitando a bola, o gol, o público e o adversário. É a empresa como um todo que vence, os indivíduos fazem parte do time. E mais, achar que a vingança nos faz fortes e melhores é mero engano. A derrota da Alemanha não faz nosso time melhor. Ou ele é melhor, ou não é. A bola é redonda e gol é quadrado. Pura geometria na alegria de jogar.