DA MINAS DIGITAL
A moda agora é ser digital. Eventos e mais eventos estão acontecendo, com ilustres gringos despejando o seu conhecimento sobre o nosso subdesenvolvimento e repetindo o que você acha com facilidade no Google, desde que você seja alfabetizado o suficiente para encontrar alguma coisa . Mas o que é ser digital?
As definições variam, mas o que os organizadores do próximo fórum sobre digitalização que o governo do estado está organizando quer dizer vamos entrar no século 21 com melhor utilização das tecnologias disponíveis. E essas tecnologias não são só digitais, mas um conjunto de tecnologias, entre elas blockchain, internet das coisas, uso intensivo de logaritmos, big data, analítica etc.etc. Um evento com gastos milionários, os eventos servem para que o dinheiro público se expanda para a área de interesses privados, pode chamar atenção pelo estado em que vivemos, diga-se de passagem, miserável na área do uso de tecnologias, mas como não há um consenso da sociedade para avançar em uso de tecnologias, de pouco adianta. E muito menos na véspera da mudança de comando na área de tecnologia do Estado, devido à proximidade de eleições.
Minas tem o maior centro de pesquisa da Google no continente latino-americano. De fazer inveja. Tem inúmeras iniciativas com movimento de start ups, entre elas a São Pedro Valley, em Belo Horizonte, algumas bem sucedidas e outras bem fracassadas, como as de uma entidade industrial. Está na moda o movimento de start ups, makers e não sei mais o quê. Mas, esquecemos que, há 20 anos, a Escola Técnica Gerencial do SEBRAE Minas forma empreendedores que ganham com sua empresa simulada prêmios internacionais e que 85 % desses alunos se tornam empresários bem sucedidos. Então, o problema não é fazer um evento mas saber o que fazer em um longo período, de forma consistente e que ultrapasse uma primavera eleitoral.
Minas, como todos, anda bem atrasada e falar em digitalização só tem sentido se houver um projeto consensual da sociedade mineira para que o uso das tecnologias disponíveis e as a serem criadas no futuro, melhore a qualidade de vida dos seus cidadãos e a competitividade de sua economia.
E, para começar, enquanto a FAPESP (a irmã da FAPEMIG) treinou 200 start ups em dois anos e as transformou em criadores de emprego e tecnologia, Minas faz um oba-oba, gasta dinheiro e as start ups criaram quantos empregos mesmo? A CEMIG e a COPASA são campeãs e líderes de uso de tecnologia de big data , smart grid etc.? Quantas empresas mineiras ( um belo exemplo por incrível que pareça é nosso avanço na área médica) estão em nível mundial de uso de tecnologia, por exemplo em big data?
Mas, tudo começa com melhor ensino de matemática (ai vai minha homenagem aos professores Mario de Oliveira, Judice e Clemencau Saliba) nas escolas públicas. Sem esquecermos da informática e engenharia. Há um movimento de melhoria desse ensino, mas ainda tímido.
Não por último, a pergunta é, se temos talentos mas não temos planos, porque não trazer esses talentos para colocar Minas em primeiro lugar. Como se pode fazer um evento desses e esquecer que o talento mais respeitado no Silicon Valley é um mineiro (foi VP da Google na área de Android e hoje preside a Oculus) e nunca foi consultado para ajudar Minas a crescer. Como tantos outros. É a nossa chance de avançar, mas com consistência e não com shows e gastos, sem saber o que se vai fazer no dia seguinte.