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Sunday, 28 January 2018

DO HOLOCAUSTO, SHOA, NUNCA MAIS



As Nações Unidas declararam 27 de janeiro o dia da Memória das vítimas do holocausto. A data escolhida se refere à libertação pelos soviéticos do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Aliás, um dos 40 mil campos de concentração e de trabalhos forçados, campos da morte, que os nazistas alemães mantinham com câmaras de gás e outros métodos para assassinar mais de 6 milhões de judeus  e mais cerca de 13 milhões de outros seres humanos, tais como como padres católicos, ciganos, comunistas, eslavos, homossexuais e pessoas com deficiências físicas ou mentais. Todos os  que o regime nazista liderado por Hitler, pelo fascista Mussolini e, com o apoio de simpatizantes nazistas nos países ocupados, consideravam inimigos de estado.

A perseguição aos judeus não foi novidade na Europa. Na história mais recente, no século 15, os espanhóis e portugueses promoveram durante a Inquisição a matança e expulsão dos judeus da península ibérica. E precisaram de 500 anos para reconhecerem isso, devolvendo agora a cidadania portuguesa ou espanhola aos descendentes dos judeus perseguidos. Os reinos austríacos, em várias ocasiões da história, proibiram os judeus de habitarem suas terras ou exercerem suas profissões. Na Rússia e Polônia, assim como na Romênia, existiam Pogroms que consistiam em agressões físicas e queima de aldeias onde moravam os judeus, e sua expulsão. Ou seja, a  perseguição existia desde os tempos dos gregos, romanos, assírios, mas na história moderna foi a Shoa, palavra em hebraico que significa catástrofe, que provocou mortes de forma sistêmica e a mais cruel vista na história da humanidade.

Após 72 anos do término da Segunda Guerra Mundial, a pergunta que fica é se a humanidade, tão evoluída do ponto de vista tecnológico, pode repetir esses acontecimentos e se de fato o antissemitismo, o ódio racial, foram enterrados com os mortos do holocausto ou não.

A resposta clara e em voz alta é: sim.  Sim, o antissemitismo não está enterrado, está vivo e está se tornando, como o racismo e discriminação racial até política de estado. De novo. Os nazistas que depois da guerra fugiram, inclusive para a Argentina, Chile, Paraguai e Brasil (onde se esconderam nas empresas alemães como a VW e Mannesmann, entre outras) ressurgiram com nova roupagem na Europa. Na Áustria, ganharam as eleições, na Alemanha entraram no parlamento, na França o Front Nacional nega o holocausto, na Polônia, na semana passada, aprovaram leis que negam a participação polonesa no holocausto, na Croácia multidões saúdam nos estádios de futebol com bandeiras de ustashas colaboradores dos nazistas, na Ucrânia as leis proíbem críticas ao regime nazista. E mais, na Hungria no dia da Memória das vitimas do Holocausto, os neonazistas fazem festa em homenagem ao seu líder durante a guerra, que mandou mais de 400 mil judeus para morte.

Nunca mais não quer dizer medo de que voltemos aos tempos do nazismo. Mas diz com clareza que os valores da civilização em que vivemos e que são tão bem representados pelos valores judaicos, entre outros, devem ser  preservados. Lutar pela justiça social, lutar pela igualdade racial e pelo respeito religioso, e lutar contra todas as formas de antissemitismo renascido, é preservar a democracia e respeitar os mortos no shoa.

Nunca mais não são palavras ocas, lembradas uma vez por ano, são um compromisso de todo dia,  para que o mundo seja mais igual, melhor para todos.


Monday, 22 January 2018

DA NOSSA INDUSTRIA



Nesta semana, a Câmara de Comércio Exterior, subordinada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, etc., deve decidir sobre a sobretaxa à importação de aço da Rússia e da China. As importações desses dois países têm prejudicado sobremaneira a indústria brasileira, principalmente a CSN e a Açominas, além da Usiminas. Os produtos daqueles dois países estão entrando no mercado brasileiro com preços aviltados, resultado de seus subsídios e jogos cambiais. Existe uma super produção de aço no mundo e o caminho é a exportação,  inclusive para o Brasil, onde após vários anos de queda do consumo e preço, no ano passado a indústria automobilística cresceu e o consumo melhorou.

Existem todas as razões e lógicas para o Brasil, um país produtor de jabuticabas nas políticas e regulamentos de comércio exterior e similares, proteger sua indústria. Assim fazem todos os países do mundo. Inclusive  a China, Rússia e Estados Unidos, especificamente no caso do aço. Mas, por outro lado, poderosos lobbies da indústria automotiva e de eletrodomésticos se reuniram para pressionar governo para que ajude a quebrar a indústria de aço no país e, em especial, em Minas. Esse segmento industrial  não tem compromisso a longo prazo e não consegue um diálogo na linha da corrente de suprimentos, supply chain, com os produtores de aço. E aí entra um pequeno detalhe esquecido na história: enquanto a cadeia produtiva de automóveis e linha branca é totalmente de capital estrangeiro, a indústria siderúrgica ainda pertence ao capital brasileiro. Ou seja, de um lado um que precisa mostrar  lucros rápidos, e outro que fica no país em um investimento de longo prazo. E, no meio, há falta de diálogo para construir um modelo de negócios que atenda aos dois.

Para aumentar a complexidade, temos que adicionar o setor de minério, que alimenta pelo menos a indústria siderúrgica chinesa, porque os russos têm uma cadeia siderúrgica parecida com a nossa, ou seja, do minério ao produto final.

Mas, ainda há exportadores de frango para China e de carne bovina para Rússia que estão dizendo que, se sobretaxar o aço deles, eles vão deixar de comprar nossos produtos. E  para a confusão ser total, a China quer ser economia de mercado na OMC e o Brasil não apoia.
Em resumo, por falta de uma diretriz sobre a indústria que queremos, tem gente que está dizendo que a época da indústria acabou, que esse tipo de situações só vai aumentar. Não há nenhuma possibilidade de o Brasil ser um país desenvolvido sem sua indústria ser mundialmente competitiva. E isso inclui os custos tributários, que oneram nossa a nossa escala de produção, e provocam essas situações inusitadas. O produto importado entra no Brasil porque é desonerado e, como no caso dos dois países mencionados, o câmbio faz parte das suas estratégias comerciais. E, no nosso caso, juros, custos tributários com sua complexidade, e um câmbio que privilegia a importação e castiga a exportação, fazem nosso produto ser mais caro. E aí, se não houver mudanças, tem sim que haver proteção temporária, para que a indústria possa sobreviver  e voltar investir. E o papel de mediador nesse caso é do governo, o mesmo que não faz reforma tributária. 

Lamentavelmente, nessas situações quem ganha é quem tem lobby mais forte e não quem mais está precisando de ter condições para se desenvolver.


DE DAVOS 2018



Mesmo com um inverno rigoroso este ano, repleto de enchentes, avalanches de neve que deixaram 13 mil pessoas praticamente no gelo na cidade suíça de Zermat, os aeroportos de Frankfurt e Amsterdam parados e mais e mais desastres abaixo de zero graus, nada assusta a elite politica e  econômica para que não se reúna na cidadezinha suíça de Davos. Até o Presidente Temer vai, levando alguns ministros. Por cinco minutos de gloria, que serão ampliados para algumas horas pela imprensa brasileira, só para dizer que valeu a pena vir.

A estrela deste ano será o Presidente Trump dos Estados Unidos. Com um ano de governo nas costas, bem descrito no livro Fogo e Fúria, e com a firme convicção de  que seu slogan da campanha, America First (Estados Unidos no primeiro lugar e dane-se o resto), Donald Trump, mesmo multibilionário, nunca frequentou as reuniões de Davos, símbolo do multilateralismo e da  cooperação mundial. No fundo, estar presente ou não, ao lado de uns 3000 participantes, não é tão importante como saber ler o que se diz e como interpretar o que dizem. Por isso, a presença de Trump é importante, porque teoricamente ele terá a oportunidade de expor seus pontos de vista, e quiçá de ouvir os pontos de vista de outros. Estarão lá todos os dirigentes europeus, além de muitos representantes de países da África e da Ásia, entre eles o primeiro ministro da Índia.

A pergunta que colocam em Davos numa era de crescimento da economia mundial, sendo o Brasil a exceção que confirma a regra, é quanto tempo vai durar a  paz econômica e o que puxa esse motor. O consumo dos ricos está aumentando, o número de ricos está aumentando, o fosso entre ricos e pobres em todos os sentidos está aumentando, a China está só crescendo e a  África,  cheia de oportunidades, está estagnando. Por isso, os discursos de  Trump e dos líderes europeus contam muito para nos dar alguma luz sobre se devemos esperar um ano de paz econômica ou não.

Por outro lado, não é só economia e política que vão dominar as discussões. Os debates sobre inteligência artificial, novos patamares tecnológicos e seus efeitos na humanidade, serão, junto com os temas sobre meio ambiente e igualdade de gênero, sem dúvida, dos mais interessantes.

Em resumo, se as discussões de Davos, que tinham até recentemente como contraposição o Fórum Social de Porto Alegre, mesmo se não revolucionam mundo, não há duvida de que são um indicador importante do que os “donos” do mundo, expostos em debate, pensam.

O Brasil não é hoje um problema mundial. Paga as dívidas em dia, permite muita especulação financeira, e organiza, com a Lava Jato e outros processos, a corrupção transparente  com igualdade de oportunidades. E além do mais, todos esperam as eleições e, mais do que os desdobramentos das reuniões de Davos, o que vai acontecer com Lula em Porto Alegre.

Por outro lado haverá, no início de março, um mini Davos regional, latino-americano, em São Paulo, do qual o show será no Brasil. E os temas serão, além de economia e política, também tecnologia.


Monday, 8 January 2018

DA VENDA DA EMBRAER E DA PERDA DA SOBERANIA TECNOLÓGICA



Se pioramos na última Copa do Mundo de futebol tão drasticamente que o sentimento nacional de incapacidade nos atingiu de forma quase insuperável (poxa, até no futebol este país esta mal), isso não aconteceu com o nosso campeão tecnológico fundado nos idos dos anos 70 pelos militares da aeronáutica, a EMBRAER. Originária de uma das melhores escolas de engenharia do país,  o ITA-Instituto Tecnológico da Aeronáutica, a empresa, cujo pai oficial é o Coronel Ozires Silva, grande amigo da nossa Fundação Dom Cabral, foi eficaz durante o período em que estava sob comando estatal e se tornou um campeão mundial após a privatização.

Viajar nos seus aviões pelas maiores empresas  aéreas do mundo enche o peito de orgulho. Este avião é brasileiro. Feito no Brasil, ou Portugal ou Estados Unidos. Ele é o resultado de um conjunto de tecnologias desenvolvidas no Brasil e com os componentes como motores  do mundo inteiro. E é claro, a parte eletrônica. Ou seja, uma perfeita integração à escala mundial de produção.

Nas exportações brasileiras, que são dominadas pelas commodities, a EMBRAER é o nosso exportador número um na lista dos manufaturados. Em um  mercado internacional quase que oligopolizado pelas grandes empresas, a europeia Airbus e a americana Boeing, a EMBRAER não só enfrentou bem a concorrência da Bombardier canadense, com apoio escancarado do seu governo, mas também a de outros concorrentes. Venceu com competência.

Agora,  a empresa precisa olhar para a frente e ver o que fazer. Nosso país, por si só,  não oferece muitas oportunidades de desenvolvimento  de empresas com alta tecnologia. Nossa indústria hoje, com raras exceções, como a WEG na área elétrica, Maxion nos transportes, Suzano e Fibria na celulose e papel, e mais algumas, é dominada pelo capital estrangeiro que não desenvolve tecnologia de ponta no país.

Portanto, encontrar alianças para  desenvolver tecnologias e mercados é um caminho lógico para qualquer empresa. A oferta da Boeing para comprar a EMBRAER é  totalmente lógica para a empresa americana. Mas será que ela tem  razão de ser  para a empresa brasileira, na qual o governo mantem poder de veto, Golden share,  no caso da venda?

Recentemente, três países europeus, Reino Unido, Alemanha e França, e o mesmo vale para os Estados Unidos, restringiram a venda de empresas  consideradas  tecnológicas e estratégicas. Assim, se a EMBRAER quiser comprar, como  os cervejeiros brasileiros fizeram com empresas  de cerveja no mundo inteiro, a Boeing ou a Airbus, não pode.

Vender a EMBRAER , que é uma empresa privada, para a Boeing, não é vender uma empresa a mais para estrangeiros, é dar uma mensagem clara para quem desenvolver empresa no Brasil. A de que o negócio é vender a empresa e não insistir em enfrentar os desafios de tecnologia do mercado internacional. 

Encontrar alianças  é fundamental e provavelmente esse é o caminho da EMBRAER. Mas vender o controle da empresa, é vender a alma  da esperança de que no Brasil somos capazes de fazer uma empresa global. Algo que ninguém em sã consciência faria, inclusive porque a EMBRAER  é uma empresa sólida do ponto de vista  financeiro. E não há duvida alguma de que a curto prazo haverá muita gente embolsando muito dinheiro na transação, e que a médio prazo, mesmo com todas as promessas e dizendo que a Boeing já tem centro de pesquisa no Brasil, a EMBRAER vai virar mera filial, executando ordens. Yes, sir, yes.