A cada momento estamos ouvindo do déficit fiscal. Bilhões de reais. Déficit de contas públicas e quebradeira das contas dos estados e municípios. E déficit da previdência que requer uma reforma urgente do sistema previdenciário. E mais: a queda de produto bruto, que é a soma de todas atividades econômicas, foi brutal nos últimos três anos, com um acréscimo do desemprego que aumenta a crise social. Em resumo, não faltam indicadores econômicos e sociais para medir o que está acontecendo no país e no mundo.
Em um ambiente globalizado competitivo, ainda há indicadores de felicidade, onde o Brasil, com sua população sempre paciente e esperançosa, parece bem. Tem também indicadores de competitividade, onde claro estamos, por razões que todos conhecemos, mal. E de inovação, também. Na de transparência, estamos na lanterna mundial. Na lista da FIFA, escorregamos após a fragorosa derrota para a Alemanha no final da Copa no Brasil, mas estamos bem. E ainda há alguns cantores nossos que ganham o Grammy, para a consolar a nossa brasilidade.
Neste incrível mundo de avaliação de desempenho da sociedade, não vamos falar nem na infra-estrutura, educação e saúde, e neste incrível momento de transição que estamos passando, neste momento da Lavas Jato e todos os processos em curso e os que ainda vem, faltam algumas considerações que não são macro, mas que afetam a vida do cidadão comum.
Que a nossa sociedade, que se apresenta como quem está aplicando a justiça neste momento nos casos de corrupção, está profundamente manchada com esses acontecimentos e com lideres que não conseguem apresentar soluções um tanto quanto razoáveis e aceitas pela maioria da população, ninguém tem mais dúvida. De um lado há escândalos de corrupção, de outro lado soluções dadas pelos mesmos que causaram o problema ou participaram omissos ou ativos dele. Insustentável para qualquer pessoa normal.
Por outro lado, nos conflitos de segurança pública, o caso do Rio é o mais visível, inclusive por causa de força da mídia, mas não e único. Muito pelo contrário: o país no item de segurança pública se tornou absolutamente vulnerável. Ninguém quer dizer quem manda e quanto nos tornamos um Medellín ou Cali, cidades dominados por cartéis. Ou uma Colômbia.
Nesse item ainda cabem a contabilidade de mortes violentas, crimes registrados e não registrados e mortes no trânsito, tanto nas cidades como nas estradas. Somos um país dos mais violentos do mundo, dos mais corruptos, e com o melhor sorriso. Nada nos derruba, nada nos destrói (felizmente não temos terremotos e nem furacões).
No fundo parece que o problema maior nosso é moral e ético. Perdemos valores de respeito às pessoas, à sociedade em que vivemos e ao estado que construímos. As instituições que estão caindo na nossa frente (mesmo que isso não pareça às vezes claro), são resultado de uma brutal queda de produto bruto moral e ético do país. E essa queda tem na sua base a perda ética dos valores do cidadão, de cada um de nós.
Nós aceitamos o jeitinho e a lei de Gerson com a maior naturalidade, e não nos revoltamos através eleições e outros instrumentos democráticos contra isso. O nosso problema reside em que as instituições que são responsáveis por guiar e liderar esse fundamento ético do país, sejam religiosas, políticas ou lideranças civis e empresariais, se acovardaram e passaram a construir para o seu bem próprio e o dos seus dirigentes esse déficit ético e moral. E aí, chegamos ao ponto em que tudo vale para me salvar. Se eles podem, eu também posso.
Déficit moral, realinhamento ético da cidadania em um processo democrático, é o nosso único problema. E aí depende de cada um, e de todos. Outros indicadores são consequência da mudança que deve ser feita por instrumentos políticos democráticos.
Difícil, mas não impossível, porque mesmo com essa desordem que existe, há exemplos e mais exemplos no país que nos lembram de não desistir e lutar. É seguir esses exemplos e não os da Lava Jato e similares.