Do
Brasil irresponsável
As
mortes trágicas dos jovens em Santa Maria repercutiram no mundo
inteiro. Não houve um único veículo
de comunicação que não acompanhasse a tragédia.
Até os acontecimentos na Síria, Afeganistão e
Iraque perderam nestes dias destaque. Os desastres naturais que têm
castigado o mundo ficaram em segundo plano. A tragédia de Santa Maria vai
marcar a história do Brasil para sempre. É uma tarja preta
colocada na linha de tempo do país.
Por
que tamanha repercussão? Não foram só as mortes que
assustaram, o que já bastaria por si só. O que assustou e
chocou o mundo foi que o país que vai sediar
a Copa das Confederações, Copa do Mundo e as Olimpíadas,
tem um sistema frágil de proteção à
vida. A vida é que não vale nada no Brasil. Não precisa haver conflito
armado para que se percam vidas no Brasil. Vão-se no trânsito,
nas estradas, na violência do dia a dia, nos acidentes de trabalho,
principalmente na construção civil, e também em desastres naturais.
São bueiros, bocas de lobo cobertas pelo lixo não
recolhido que transbordam os riachos e derrubam as casas. Belo Horizonte tem
mais assassinatos num mês
do que há mortos no Iraque.
Agora
começa a caça aos culpados. As leis é que são
frouxas, a legislação é que permite abusos, a
fiscalização é que não é
exercida de acordo com a lei, são os fiscais e os bombeiros que não têm
meios de fiscalizar, é a corrupção e a irresponsabilidade
dos empresários e outros envolvidos. Em resumo, a lista é
longa, o jogo de empurra enorme, mas as vidas não voltam e o Brasil está
perdendo seus jovens. Criou-se o medo de ser jovem e exercer a juventude.
Criou-se o medo de se divertir no Brasil.
A
tragédia há dez anos em espaço de shows em Belo
Horizonte não gerou correções. Nada apreendemos com
as tragédias. Os políticos colocam filhos
inexperientes para dirigir programas de responsabilidade como a organização
da Copa, os controles continuam frouxos, a corrupção solta e ninguém
fez nada para, com rigor e responsabilidade, garantir que não
haverá novas Santas Marias ou Belo Horizontes.
Os
empresários precisam fazer uma auto-avaliação
de tudo o que se refere a
responsabilidade nesses casos. Essa tragédia mostrou que somos um
país de irresponsáveis, relapsos e despreparados para oferecermos segurança à
população e
quiças aos visitantes. Quem garante que o poder público,
empresários e outros envolvidos na organização
de eventos e na vida quotidiana em Minas diferem dos que provocaram a tragédia
no Sul? Pelo comportamento de hoje, o que os está salvando é a
sorte, mas não um esforço racional de dar valor à
vida. Ainda há tempo de agir antes de perdermos toda a credibilidade
e mais vidas.
Stefan B. Salej
30.1.2013.