Powered By Blogger

Monday 25 February 2019

DO CARNAVAL E POLÍTICA OU CARNAVAL POLÍTICO


DO CARNAVAL E POLÍTICA OU CARNAVAL POLÍTICO

A nítida impressão é que o feriado de que os políticos latino-americanos mais gostam é o carnaval. Nos feriados religiosos, tem que ajoelhar e rezar. Nos feriados republicanos, tem que cantar hino nacional, mostrar seriedade e dedicação à pátria. No carnaval, mesmo às vezes sendo chacota, eles se misturam ao povo, que perdoa tudo, esquece tudo e dança até quarta-feira de cinzas, quando nada mudou, mas ficou ainda a alegria retida do carnaval.

E mais: nesta semana de carnaval, tudo pode acontecer, como nada pode acontecer. Comparando, em Minas ainda não enterraram as vítimas de Brumadinho, somados os mortos e desaparecidos o número ultrapassa 300 pessoas, e o carnaval em Belo Horizonte vai de vento em popa, como se a 40 quilômetros de distância tivesse acontecido o evento mais alegre do mundo, e o que temos do outro lado da Amazônia, a Venezuela. Lá, segundo o presidente com chave da cadeia e do cofre Maduro, o carnaval começa na quinta-feira e vamos ver o que acontece.

Aliás, as duas situações tão diferentes têm uma característica comum: ninguém sabe como vão terminar. Em Minas, as barragens estão pipocando, investidores são  cautelosos e a Vale vai se salvando em nome de ser a joia da coroa da economia brasileira. Imagina, se não fosse, como não estaríamos. Provavelmente, ao  invés de 300 mortos e desaparecidos, com número muito diferente. Então, obrigado à joia da coroa.

Na Venezuela está se criado um impasse de governabilidade e com começo de primeiros conflitos a bala, que não está indicando nenhuma solução. A complexidade da confusão é de tal tamanho que o governo Maduro, que não tem dólares para comprar papel higiênico, autorizou a exploração de minas a céu aberto de ouro no melhor estilo de Serra Pelada. Mais de 300 mil garimpeiros procuram ouro, vendem pepitas aos atravessadores do governo, que os manda para a Turquia, onde o ouro é refinado e vendido. Então, além da Rússia, China, Estados Unidos e países vizinhos, ainda tem como enxeridos a Turquia e o grupo terrorista Hezbollah, dominado pelos iranianos.

O Brasil, que foi fiador nos governos Lula e Dilma da Revolução Bolivariana e forneceu créditos de mais de 50 bilhões de dólares a Chavez e Maduro, sabe atualmente o perigo que representa uma solução sangrenta de mudança do governo em Caracas. E também que, se houver uma eleição, por mais bem supervisionada que seja, Maduro pode ganhar, porque os eleitores que votariam contra saíram do país e não podem votar. E tem mais: armaram o povo, milícias populares ou “colectivos”, que fogem ao controle das forças regulares, mas não dos consultores cubanos que dominam as forças de segurança venezuelanas. O Vaticano, que poderia mediar, está cuidando de pedofilia. A ONU está sem voz. E Guaidó, Presidente apoiado por europeus e Trump, sem chave de cadeia nem comando do território.

E aí, todos torcendo para que o carnaval, seja cá ou lá, traga, através da alegria, a luz que mudará Minas e Venezuela.

Stefan ŠALEJ 
Ex Presidente do SEBRAE Minas e da FIEMG
Vice-Presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP
Coordenador adjunto do GACINT da USP












Sunday 17 February 2019

Do sinal amarelo para os investimentos em Minas



DO SINAL AMARELO PARA INVESTIMENTOS 

O que em Minas, e em especial suas elites econômicas, menos querem ouvir é que os desastres do setor de mineração têm uma repercussão maior do que elas acham. A ausência do atual presidente da maior entidade industrial do estado, não voltando do exterior para liderar a resposta do setor industrial ao acidente em Brumadinho, mostra como as pessoas que são responsáveis pelo desenvolvimento do estado reagem: veja se passa e esqueçamos o assunto. Memória curta, é o que todos estão querendo. Vamos olhar para o futuro, esqueça o passado ou, como um gênio da liderança industrial disse: temos que ser racionais neste momento.

Uma coisa é como as elites mineiras e a direção da Vale querem que isso seja visto. Outra coisa é a dor das famílias. E o terceiro item nessa percepção é como o mundo nos vê.

As empresas hoje têm acionistas estrangeiros, ou diretos ou através  de fundos de investimentos. Isso vale para a MRV, Kroton, Localiza, CEMIG, Anglo American, Nestlé, Copasa, FCA, e assim adiante. E a maioria desses fundos têm regras de governança rígidas, em especial quanto ao meio ambiente. Essas empresas inclusive cumprem as regras. Mas, o acidente em Brumadinho espalhou a dúvida sobre como o estado de Minas administra essas questões. 

E os acionistas e as gestoras desses fundos já começaram a questionar se a lama e os assassinatos lá atingiram empresas e áreas onde atuam. Ninguém quer estar associado a empresas e sistemas que provocam esse tipo de desastres. É pura ilusão achar que Brumadinho como Mariana, não vão afetar novos investimentos no estado. Ao invés de virem investidores responsáveis, o Estado vai abrir o caixa, piorando a situação, aos mais depredadores e usurpadores dos cofres públicos.

Uns primeiros sinais de como a imagem de Minas destruída tem afetado já aconteceram. Já começam a ser cancelados novos investimentos na área de agronegócios. E não se iludam porque que na decisão sobre a nova fábrica de motores da FCA em Betim isso vai pesar. 
O sinal amarelo acendeu.

A solução não passa por melhor comunicação, veja o desastre que é a comunicação da Vale, mas por demonstração clara e inequívoca do chefe do governo mineiro. Aliás, como o novo presidente da CEMIG chamou o governador, de que o passado não vai se repetir e que o futuro é qual mesmo? Só a autoridade moral e a liderança do governador podem garantir que haverá mudança e que em Minas o meio ambiente terá um novo tempo. Fazer isso, com o secretário da área do governo anterior perambulando pelos corredores do mal feito do novo governo e apoiado pelos ilustres industriais, será difícil.

O governo tem poucas opções e se, não mudar de fato o paradigma de desenvolvimento e mostrar isso aos investidores, nem o novo presidente do BDMG trazido da China vai resolver. Não se trata de imagem, mas de mudança de fatos que engalanaram e ensanguentaram o retrato de Minas.

Com a palavra Governador.

Stefan Salej
Ex Presidente do SEBRAE Minas e da FIEMG
Vice Presidente do Conselho do Comércio Exterior da FIESP
Coordenador adjunto do GACINT Grupo de acompanhamento da conjuntura internacional da USP 

Sunday 10 February 2019

A



DA BÚSSOLA MORAL E ÉTICA 

Mortes e mortos. Famílias que perderam filhos, maridos, esposas, destruídas para sempre. A dor que não desaparece. A dor que fica mesmo recompondo a vida.

Brumadinho. Ceará. Chuvas no Rio. Tragédia da Raça Rubro-Negra no Rio de Janeiro. O campeão mundial de assassinatos e de acidentes de trânsito. E de acidentes de trabalho. E a  segunda maior população carcerária do mundo, sem falar em condições sub-humanas em que estão nossas prisões.

Para alguns, eventualmente mais religiosos, é castigo de Deus. Pode ser.

Mas, em tudo isso tem a mão do homem, da pessoa humana. Aqui cabe bem a pergunta, que país é esse, que gente somos.

Os desastres de Mariana e Brumadinho já foram muito debatidos e suas consequências ainda não terminaram . Onde prevaleceu a ganância sobre a segurança das pessoas, continua prevalecendo o interesse financeiro sobre a solução para as famílias e a sociedade. Responda  você mesmo, sem se deixar influenciar pelas ações de comunicação liderados pelo genial mago da comunicação brasileira Nizan Guanaes, que assessora a Vale e tenta nos convencer de que tudo isso não tem importância porque vamos continuar exportando minério e tendo dividendos e valorização das ações da empresa.

No caso dos garotos do Flamengo, é impressionante a como maior parte dos comentários, até do porteiro do meu prédio, é sobre quanto perderam o clube e os jogadores, além dos intermediários, já que todos eles eram talentos que podiam ter contratos no exterior. Escravos esportivos, ilusões e sonhos interrompidos dos dirigentes e famílias. Será que as famílias não sabiam em que condições eles vivia?  “Aguente, início da vida é assim. Veja hoje como está o Neymar. Você vai chegar lá.” Dos dirigentes do clube e até dos torcedores. E quem será culpado pelo assassinato desses jovens? Quem tem coragem de dizer na cara dos dirigentes do clube, ou dos dirigentes das empresas envolvidas em Brumadinho e Mariana, que ajudaram a assassinar pessoas?

Porque foi a negligência deles que provocou os acidentes.
E isso acontece com as enchentes pelo país afora, onde os administradores públicos e os políticos põem a culpa em São Pedro, há sim excepcionalidades, mas não são capazes de fazer  obras decentes e duradouras. Aliás, por outro lado, quando fazem também o eleitorado na maioria das vezes não reconhece e não os elege. É um círculo vicioso da política brasileira que beneficia a enganação, o desleixo e a irresponsabilidade.

Com milhares de exemplos que sempre levam ao desdém da nossa sociedade com a vida humana, a pergunta que se coloca  é quando as  elites brasileiras, sejam políticas, religiosas, econômicas ou sociais,  vão liderar as mudanças para que isso não aconteça mais. Será que novas gerações estão prontas dentro de regime democrático para liderar essas mudanças? Ou vamos continuar sem nenhuma bússola moral e ética marchando para um abismo de onde a volta para uma sociedade pelo menos decente e respeitosa com a vida será quase que impossível.

Insistir que essa mudança pode começar pelas lideranças empresárias faz parte do meu credo pessoal, que é possível e deve ser feito. Mas, a esperança é a última que morre.

Stefan Salej
Ex Presidente do SEBRAE Minas e da FIEMG
Vice-Presidente do Conselho do Comércio Exterior da FIESP
Coordenador adjunto do GACINT Grupo de acompanhamento de conjuntura internacional da USP

Sunday 3 February 2019

Da responsabilidade empresarial


Da responsabilidade empresarial 

O episódio trágico de Brumadinho abriu  mais uma vez a discussão sobre a responsabilidade social, ambiental, e econômica das empresas e dos empresários. A versão, no caso específico da Vale, é que a empresa é um exemplo de responsabilidade social e ambiental. O fato é que nos últimos três  anos morreram em acidentes mais de 120 pessoas nas instalações da empresa. E o fato prevalece sobre a versão.

A questão é qual o grau de confiabilidade tem a tal “responsabilidade social corporativa (RSC)” após os fatos que mostram que os programas são falhos e funcionam só enquanto não acontecem desastres. O assunto não é novo no mundo empresarial e um dos primeiros acidentes ocorreu na Índia, quando vazou líquido tóxico e matou muita gente. E a esse acidente se seguiram vários e empresas foram sempre punidas e suas imagens bem arranhadas. Há empresas alemães que hoje são grandes campeões de ética,  que colaboraram com o governo nazista no genocídio dos seis milhões de judeus.

Aqui no Brasil, inclusive nos casos mais recentes, não temos quem verifique, além da imprensa e de instituições contaminadas, a veracidade da RSC. E então se acredita em quem tem mais poder na mídia, que é melhor. Os últimos acontecimentos terão que mudar os critérios, inclusive com maior adoção de normas internacionais nessa área, com a devida cerificação. Mas, aí também tem problema, já que um dos maiores certificadores é exatamente a empresa alemã TUV, que atestou que a barragem de Brumadinho estava perfeita.

Uma outra questão é o papel das entidades empresariais. Em Minas, e em especial na atual gestão da FIEMG, discute-se muito a defesa da indústria. De fato, há muito a se fazer na defesa das parcerias da indústria com a sociedade, onde inclusive faltam iniciativas e projetos. Mas, como defender os próprios mineradores que no caso específico quebraram Minas Gerais e provocaram tantas mortes? Não há como negar que a opção de desenvolvimento a favor do empresariado mineral, em conjunto com os políticos, foi o que prevaleceu em Minas desde a descoberta do Brasil. Essa ilusão de riqueza e sua exploração, muito mais a favor dos exploradores do que da nação como um todo, foi poucas vezes discutida. Minas com sua elite empresarial e política preferiu leniência do que uma transformação de sua economia.

Acabaram com a melhor escola de engenharia de Minas do Brasil. A FIEMG protegeu, com entidades como o IBRAM e os respectivos sindicatos do setor, o gangsterismo em detrimento do bem comum, inclusive empresarial. E junto com políticos que não são capazes de encontrar outras fórmulas para o desenvolvimento, criou-se uma ciranda que levou, com um sistema judicial omisso e parceiro da ciranda, às consequências de quebra de Minas e a mortes que todos vão ter nas suas consciências. A impunidade do passado gerou os acontecimentos atuais. 

Acordar para mudar o paradigma de desenvolvimento com os cadáveres que o sistema produziu é muito triste. Mas, absolutamente necessário. E neste momento as entidades empresariais têm que ter proposta de mudança  porque o que aconteceu está na conta de todos e cada um.