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Friday 15 February 2013

MINERIO DE DUAS SAFRAS



Minério de duas safras

Como fazer que uma tonelada de minério de ferro que custa aproximadamente 150 dólares se transforme em uma tonelada que vale 15 mil dólares? Para os quase oito mil representantes de mineradoras e de 100 países reunidos na Cidade do Cabo, África do Sul, este é um problema dos governos. Mineradora minera e manda minério. E os países africanos que, com raras exceções, como a África do Sul, eram colônias dos consumidores de produtos minerais, são hoje países independentes com enormes problemas quanto a marcos regulatórios na mineração, estabilidade politica e relações de trabalho adequadas ao século 21. As minas nos demais países consumidores foram secando e os países mineradores da África são hoje grandes fornecedores, principalmente da China e da Europa. Mas o capital ainda vem de Londres ou de Nova Iorque. E a tecnologia também.

A África vai sustentar o desenvolvimento do mundo com sua riqueza mineral, foi o recado da Mining Indaba (reunião em zulu). Mesmo com instabilidade laboral e política, é de lá que vem o sustento da indústria de transformação, principalmente chinesa. A indústria de mineração mundial, que viveu uma fase de excelentes lucros nos últimos anos, está hoje refazendo seus investimentos, suas prioridades e se ajustando a um novo patamar de demanda, que exige menores preços enquanto os custos estão crescendo. A demanda, e não só a chinesa, vai crescer em médio prazo, mas muitos dos investimentos terão que ser ajustados aos novos tempos. E muitos executivos ainda vão ser trocados pelos desacertos nos investimentos.

O comovente discurso da CEO da Anglo American, Cynthia Caroll, demitida entre outras coisas pelo desacerto do projeto Minas Rio, cujo custo não para de crescer, e o discurso do seu sucessor, defendendo o projeto e a demissão de 14 mil operários na mina da platina na África do Sul, onde o desemprego chega a 25 %, mostram quão dramática está a situação e quanto cuidado devem tomar as empresas nos seus investimentos no futuro.

A Indaba de mineração africana também evidenciou a questão do retorno dos investimentos. Hoje, a maior parte dos ganhos vai para os governos e diretorias das empresas. Os acionistas e trabalhadores estão no final da lista. E os governos querem cada vez mais, os trabalhadores pressionam e os chineses pagam cada vez menos. Aliás, a reunião mostrou que os chineses são importantes compradores, mas não são importantes mineradores. Mas pertencem a um dos raros países que tem uma visão estratégica do uso dos minerais.

Mesmo se a Odebrecht e algumas outras empresas também têm exploração mineral na - África, é a Vale, com investimentos em seis países e 7000 funcionários em mina de carvão em Moçambique, o mais importante player. A exploração dos minerais na África é de fundamental importância estratégica para Brasil. Quando a Vale vai, leva serviços, técnicos e equipamentos brasileiros junto. E com isso reforça a posição brasileira no mundo. Agora é só cuidar para que ela não passe pela crise da PETROBRAS, porque definitivamente Brasil não se pode dar o luxo de errar duas vezes.

Stefan B. Salej


 

Monday 11 February 2013

MINAS E MINERACOES NA AFRICA



Da Vale de Minas e da Africa

Aquela mina de minério de ferro de Itabira que foi até cantada em verso pelo Carlos Drumond  de Andrade, cresceu e se tornou, com 136 mil funcionários, a segunda maior empresa de mineração do mundo. Vale. A marca de excelência brasileira em gestão e engenharia. E solidez financeira que nem alguns financistas de muito antes e de muito recentemente não conseguiram abalar.

Na Congresso de  mineração da  África  na Cidade do Cabo, mais de 7500 especialistas discutiram o futuro da mineração. Não só na Africa, mas no mundo. Do Brasil, só a Vale.
Presente em seis países africanos, com ênfase na mineração de carvão em Moçambique, e investimentos que ultrapassam 7 bilhões de dólares no continente, é um ator que não pode ser desprezado. E como a Vale é uma empresa brasileira, dela se espera também um comportamento social diferente da dos antigos colonizadores da África. Assim, os 800   fornecedores locais em Moçambique e dispêndios de 1 bilhão e 600 milhões de dólares  no mercado local, fazem a diferença na economia.

A África, apesar de muita indefinição política, corrupção, conflitos sangrentos e intervenção estrangeira, como a dos franceses agora no Mali, é ainda a província mineral do mundo com maior potencial de desenvolvimento, próxima ao mercado chinês. A China simplesmente não tem reservas minerais suficientes e nem a experiência de gerir grandes minas, para sustentar seu desenvolvimento. Portanto a aposta da Vale na África, o lugar de seus maiores investimentos, está certa. As dificuldades, como no projeto de Guiné, são significativas e não serão transpostas facilmente, mas terão que ser resolvidas.

Se a Vale investe tanto na África, isso pode ser bom para Minas e para Brasil? Ou só é bom para alguns acionistas e diretores da Vale? Na apresentação da Vale e na sua presença na Indaba Mining, não deu para ver isso. Não é provavelmente o caso da Mendes Jr. no Iraque e Mauritânia, que puxou a economia mineira e as empresas brasileiras junto. Os projetos da Vale ou outras empresas como os da Odebrecht em Angola, principalmente quando financiados com recursos do BNDES, têm que ser não só projetos de presença política, mas de ampliação de nossas exportações em todos os sentidos. A Vale não é uma empresa qualquer, comparável por exemplo à Anglo American, cujo objetivo é só lucro, mesmo disfarçado em ação social.

O sucesso da Vale, principalmente agora com as dificuldades da Petrobras, é fundamental para todos no Brasil. Por isso que é ainda mais estonteante que a Vale estivesse sozinha e que as autoridades brasileiras da área, inclusive as entidades de classe de mineração, não entendam que a África é a oportunidade e a ameaça à mineração brasileira.

Stefan B. Salej
7.2.2013.