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Sunday 30 September 2018

DO PAÍS INGOVERNABLE


DO PAÍS INGOVERNABLE

Está passando no Netflix uma série sobre política mexicana chamada Ingovernable. Pura ficção, mas como toda ficção, tem fundo de verdade. O país tomado pelo narcotráfico, forças policiais corruptas, e por bandidos internacionais, está em guerra, sendo que mesmo realizando-se eleições nada muda, mas só piora para a população. Em resumo, as eleições por si só não são fator suficiente para as mudanças de que o país precisa. Esse mantra de aparência democrática, ou quase pseudo democracia, tem um elemento fundamental para que a democracia funcione: quem se elege. Quem é o vencedor das eleições e sua capacidade de governar.

Nas eleições de 7 de outubro tem um turno só  para deputados estaduais, federais e senadores.Com o acirramento da campanha presidencial, a escolha de parlamentares ficou, como raras vezes nas eleições anteriores, totalmente no segundo plano. Mas, o fato é que nenhum presidente ou governador pode, mesmo com a força que apresenta o nosso sistema presidencialista, fazer qualquer reforma ou avançar nas legislações sem o apoio do Congresso. Portanto, o desprezo por essa parte fundamental da eleição, juntamente com o  esfacelamento do sistema partidário, com um número inadministrável de partidos, é um dos grandes problemas do nosso sistema democrático.

A escolha do presidente da república apresenta um outro aspecto que confunde o eleitor e traz consequências graves para a gestão do país. Ideologia e ideias. Os candidatos estão se apresentando ao eleitor, ainda na suas maioria analfabeto e de baixa compreensão dos assuntos políticos, com ideias que assolam a sua cabeça, que são importantes sim, mas para as quais nenhum candidato diz com clareza que soluções pretende trazer.

Vamos ao emprego. Emprego quem cria são as empresas. E as empresas o criam com crescimento dos negócios e investimentos. E sobrevivem as empresas competitivas. Para serem competitivas precisam de ambiente macro econômico e político que as faz competitivas. Por exemplo, as relações de trabalho. Política fiscal. E previsibilidade legal.

Os dois candidatos mais competitivos para a presidência de república têm enviado mensagens tão confusas para o empresariado, que enfrenta um ambiente internacional de alta competitividade com mudanças tecnológicas, entre outras, que ninguém sabe o que esperar após 1º de  janeiro.

O nível de desesperança em que o país volte a crescer, entre os empresários que estão se agarrando como afogado num galho fraco numa correnteza, rezando para que o galho aguente e a água diminua , é de tal proporção que deixam de votar nos candidatos de centro porque os extremos estão cada vez mais próximos.

As perspectivas  pós eleitorais, mesmo com segundo turno, que serão definidas com a escolha do Congresso, são absolutamente desanimadoras. E pelo que estamos vendo, teremos mais quatro anos de velhas políticas, sem gente nova, até que surgem novas lideranças. Uma democracia brasileira, que renova as velhas ideias, práticas e hábitos e permite que seus políticos abusem de forma não impune, mas ungidos pelo sistema, pelo povo brasileiro. 

O país só pode ser feito de esperança e rico para aguentar tudo isso. Mas, e o povo, aguenta?

Monday 24 September 2018

DA ENCRUZILHADA DAS EMPRESAS EM 2019


DA ENCRUZILHADA  DAS EMPRESAS EM 2019


Entre a cruz e a caldeirinha. Simples, esta é a situação eleitoral para as empresas e os empresários. Os projetos econômicos dos dois candidatos que estão na frente das pesquisas e a declarações dos seus principais economistas apontam  para duas certezas: a primeira diz que o tal de mercado (setor financeiro) continuará dando as cartas . Nesse capítulo, é interessante notar que as pesquisas divulgadas  por exemplo pelo Banco BTG, ou as palestras ali feitas pelos candidatos e seus economistas, despertam mais interesse e eventualmente credibilidade do que as feitas pelas instituições empresariais ou a mídia. E nenhum candidato, levando-se em consideração a crise que vivemos, tem força política para ignorar os pleitos, os interesses e o pseudo patriotismo do setor financeiro.

Por outro lado, tem empresariado que não pertence  ao tal mercado, aí incluídas também empresas cujo principal lucro é oriundo de engenharia financeira, e representa a absoluta maioria das empresas no Brasil. Estas empresas não têm nesta eleição nenhuma influência a não ser o voto individual dos empresários.

Os dois principais candidatos, na visão de hoje, Bolsonaro e Haddad, estão crescendo nas pesquisas devido a suas propostas populistas e não por causa de propostas que vão resolver a crise e fazer o país crescer. É o famoso paradigma exposto muitos anos atrás pelo cientista politico Fábio Reis, 8 ou 80: oito milhões de contribuintes de imposto de renda versus 80 milhões de não contribuintes, mas também eleitores. Os dois candidatos hoje representam uma clara tendência de que os eleitores contribuintes em escala maior podem eleger o presidente da república sem os votos dos contribuintes de maior poder aquisitivo.

E como os dois não precisam, devido à nova legislação, de financiamento empresarial, e têm os votos do povo, não precisam desse segmento da população que só aborrece os políticos, mas não tem, na avaliação deles,  potencial para eleger ninguém. Por outro lado, a flexibilidade política de interesses pessoais nas entidades representativas nacionais, como a CNT, que tem um ex-político mineiro como seu eterno presidente, ou a CNI, que apoia seu ex-presidente para governador em Pernambuco, que por sua vez apoia o PT, reduzem a base de interesse eleitoral para os candidatos. Bastam conchavos, não se precisa de programas e nem de  comprometimentos.

A grande preocupação é o que vai acontecer após  1° de janeiro. Se for o governo Haddad-Lula, incapaz de repetir A Carta aos Brasileiros e a aliança que foi representada por José Alencar, é uma situação. E se for Bolsonaro,  com Paulo Guedes metendo medo em todo mundo, sem ter projetos que, fora do mercado financeiro, inspirem confiança, é outra situação. E, em vista da situação  fiscal e cambial, nenhuma das propostas dos candidatos na ponta convence que o Brasil, através de fase de transição, rigor fiscal e gestão pública mais eficaz e transparente, vai chegar ao desenvolvimento. Serão medidas populares, confusas, sem respaldo do congresso, no qual não estamos prestando a atenção, que não levarão nem à estabilidade e nem ao desenvolvimento. Teremos a troca de meia dúzia por seis.

Ainda há tempo para que os candidatos percebam que sim, o empresariado não financeiro é eleitor importante, e, mais ainda, será ou não parceiro na governabilidade. Desprezar esse segmento do eleitorado vai custar muito ao governante e ao país.


Sunday 16 September 2018

DO BRASIL E DOS CANDIDATOS QUE EU (NĀO) QUERO


DO BRASIL E DOS CANDIDATOS QUE EU (NĀO) QUERO

Para definir os candidatos que quero ou não, que vão me representar na liderança do meu Brasil, preciso definir que Brasil eu quero para mim, para meus co-cidadãos e, como se diz no popular, para meus filhos e netos . Que sonho tenho ou temos para este país, gigante adormecido?

Um Brasil democrático e uma economia de mercado, que oferece oportunidades para todos, com justiça social, é quase um consenso da sociedade. Desenvolvido para todos, com direitos para todos.

E como chegar lá, após um buraco profundo que temos na economia e na sociedade? Se não conseguir consertar essas mazelas centenárias, seja nas relações raciais, seja nas diferenças sociais e econômicas ou na absoluta quebra financeira do estado e nas relações federativas e mais e mais, nunca se vai chegar ao progresso, ou crescimento do país como um todo e, com isso, de cada cidadão.

No seu íntimo, na sua família e seus amigos , você tem que definir o que quer para este Brasil. Informações e análises não faltam, falta discernimento individual para as definições . Parte dessa decisão é emocional, mas as consequências não são emocionais, são racionalmente boas ou más para cada cidadão.

algumas características de candidatos que são comuns para todos. Uma é a vida pregressa, seja pessoal seja pública. Não existe essa de nada fez no passado, mas agora vai fazer. Todos nos temos uma história, e quando votamos temos que examinar bem os atos, opiniões e fatos dos candidatos. Provavelmente você já enfrentou situação simples de pequeno roubo no seu ambiente de negócios ou da família e pensou assim: se fez desta vez, vai fazer na próxima. Ou se não trabalha bem agora, não vai trabalhar no futuro. E mais: como vou saber se trabalha bem. Tem acesso a ele, há transparência?

Com os políticos toleramos tudo o que não toleramos na nossa vida privada ou profissional. Você contrataria alguém para o cargo de direção de sua empresa se ele tivesse um grave problema de caráter ou se tivesse feito coisas ilegais? Ou no emprego anterior, nada tivesse feito a não ser enrolar todo mundo? Jamais, porque você sabe que isso é um problema com certeza .

Mas, nas suas escolhas políticas você age de forma totalmente diferente. A onda de emoção leva-o a uma análise superficial, que lhe traz em seguida um resultado por alguns anos desastrado e acaba com tudo o que você fez a vida inteira.

Democracia é mais do que votar, é, principalmente para quem teve o privilegio de poder estudar e ser empresário, obrigação de votar de forma racional e acompanhar os políticos e suas políticas durante o mandato. O voto é um ato instantâneo, mas suas consequências duram a vida inteira.


Sunday 9 September 2018

DA REFORMA DAS REFORMAS


DA REFORMA DAS REFORMAS


Provavelmente a maioria dos nossos leitores não anda de ônibus ou metro, seus filhos estão na escola privada, não usam SUS e nem vão ao INSS, ou usam qualquer serviço público à disposição do cidadão. Talvez o famigerado DETRAN, mas mesmo assim mais através de despachante. Aliás, o que seria dos ricos no Brasil sem despachante. Ou sem o “sabe com que esta falando?” Sempre temos um colega ou parente no serviço público que ajuda a resolver e quebrar galho. Bem, tem serviço público na área de fiscalizações, impostos e similares que o empresário, e aí no lugar do despachante entra o advogado, sente na pele e sabe onde fica.

Em resumo, serviço ao público ou serviço público na sua maior dimensão é mais perceptível  para certas classes sociais do que para outras. Sendo que temos ainda outra dimensão do nosso serviço público que é a multidão de terceirizados . Quem inventou isso deveria ser canonizado. Deve ser para não aumentar o número de funcionários públicos. Aí se contratam empresas privadas que vendem mão de obra por preço mais baixo, mas sem  treinamento e a supervisão necessária. E justamente na maioria dos casos este é o pessoal que representa a autarquia no seu relacionamento com o cidadão. Aliás, serviço público é serviço ao cidadão.

Não nos esqueçamos dos concursos, porque somos um país democrático e a oportunidade para entrar no serviço público é igual para todos. Aí, depois de dez concursos em áreas mais difíceis, o cidadão conseguiu passar num, mas quando entra, depois de muita espera, não há recursos para treinamento. Ou entra numa função que nada tem a ver com seu perfil psicológico ou a sua vontade de trabalhar. Queria ser delegado de polícia mas virou recepcionista do INSS porque foi lá que passou no concurso.

Não vamos falar dos equipamentos usados nas área públicas. Carros sem gasolina, hidrantes sem água, computadores do século passado.

Os candidatos falam e falam o que vão fazer, discutem os salários do funcionalismo, mas ninguém mesmo disse qual é o projeto de reforma de gestão do estado. Alias, o mesmo vale para os candidatos a governadores e prefeitos, que estão no cargo e não fazem nada. Sem essa reforma, que deve incluir o poder legislativo e judiciário, o cidadão brasileiro continuará em condição de miséria no seu  atendimento pelo estado. E tem mais: mesmo com alguns avanços no uso de tecnologia, estamos longe de aproveitar todo o potencial. A reforma deve ser essencialmente reforma de gestão administrativa e dar oportunidade de atualização aos funcionários.

Muita coisa boa existe. Inclusive pela Escola Nacional  de Administração Pública. Muitos serviços funcionam bem, mas longe do que o país precisa para melhorar a vida do cidadão e a sua competitvidade como um todo.


Sunday 2 September 2018

DO BRASIL, JABUTICABAL NO MUNDO


DO BRASIL, JABUTICABAL NO MUNDO 

Sem dúvida alguma, as nossas preocupações com a campanha eleitoral são legítimas. Dizem os especialistas que campanha é campanha, e governar é  governar. E que na campanha o que importa é ganhar voto. E assim a nossa campanha nos leva ver a oitava economia do mundo, com previsão de vir a ser a quarta em vinte anos, limitada aos nossos enormes problemas, mas totalmente distante do que esta acontecendo no resto do planeta. Somos um país jabuticaba, fora do contexto mundial, para os candidatos à presidência. Será que nada do que acontece no mundo nos afeta e nada disso precisa ser discutido porque somos um povo de eleitores ignorantes, que não se interessam pelo que acontece lá fora? Não, mentira. 

Somos um país integrado ao mundo, considerado importante, e o mundo no qual vivemos é importante para nós. E mais, o que acontece no mundo nos afeta muito mais do que se pensa ou quer aceitar.

A bonança do primeiro governo Lula deu-se em função de altos preços globais de matérias primas, que encheram os cofres do governo, que então podia se dar ao luxo de distribuir parte desses recursos. E o fracasso do segundo governo Lula e, consequentemente, dos governos Dilma, deu-se em parte devido à crise financeira internacional em 2008, que Lula chamou de “marolinha” e disse que o Brasil estava imune. Tão imune estava que a má administração do fenômeno tem consequências até hoje.

Comércio exterior, aumento de nossa competitividade e mudanças tecnológicas mal são mencionados nos discursos dos candidatos. A guerra comercial provocada pelo atual governo dos Estados Unidos, que nos afeta em grande escala, não existe. A abstração dos conflitos no Oriente Médio, deixando de lado as irresponsáveis declarações populistas de alguns candidatos evangélicos, só confirma o nosso papel de anão diplomático. A saída do Reino Unido da União Europeia e falta de um acordo do MERCOSUL com a União Europeia, que aumentaria os nossos negócios, não são considerados assuntos que poderiam afetar a nossa economia.

O único item na área externa é a Venezuela, que nos deve 50 bilhões de dólares, e que tratamos mais como um resíduo da política lulo-petista do que como uma questão de política externa do maior país da América Latina, que é o  Brasil. E se não fosse a invasão dos imigrantes em Roraima, que para a população do Sul também não existe, nem essa questão seria debatida.

O câmbio só interessa discutir porque vai encarecer as viagens internacionais, a gasolina e as remessas de lucros, além do pagamento de nossas dívidas no exterior. Ninguém discute a política de comércio exterior, o fluxo do capital estrangeiro e nem a eventual crise financeira no mundo. 

Bem, se os candidatos não discutem por alegar que o eleitorado não está interessado, ainda pode ser compreendido, apesar de não ser verdadeiro. Mas que os economistas dos candidatos prefiram evitar essa discussão, é preocupante.

Se vier uma nova crise financeira, se o conflito comercial entre os Estados Unidos e China se prolongar, se o terrorismo ganhar mais  espaço e aumentar a insegurança no mundo, e se e se que não acaba mais, vamos dizer que Brasil é imune mais uma vez e que tudo não passa de “marolinha”?

A ilusão de que temos reservas cambiais para estarmos imunes às crises é inversamente proporcional à que está acontecendo no nosso vizinho  Argentina, da qual também ninguém fala. Efeito vodca: amanhã eu serei você.

Oh! jabuticaba gostosa e enganosa.