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Sunday 19 March 2017

DO POBRE, NOBRE, E PODRE


DO POBRE, NOBRE, E PODRE

A frase de Hamlet, na peça teatral do inglês William Shakespeare de mesmo título, “há algo podre no Reino da Dinamarca”, pode ser mais uma vez repetida para os momentos de hoje no Brasil: há algo de podre neste país. O mais recente escândalo da “carne fraca” ou seja carne podre que pobre come, adiciona mais um capítulo à novela de podridão e corrupções que vivemos no país. A cada momento aparece um escândalo, os políticos de todos os partidos ficam mais enlameados, e as condenações  cada vez mais longe. Ninguém sabe onde isso vai parar e quando vai parar. E a razão é simples: a podridão é de tal tamanho que o país precisa de um renascimento, surgir das cinzas como Fênix para recomeçar. É uma transição dolorosa na qual a parte mais triste é que, mesmo com um processo como a Lava Jato, em curso há três anos, parece que ninguém se assusta e que não mudam os hábitos, sejam nas empresas, na administração pública ou entre políticos. Se para um respeitado deputado que vira ministro, um simples superintendente do Ministério da Agricultura no seu estado é chamado de Grande Chefe, então a escala de valores está de cabeça para baixo e quem manda mesmo e vale alguma coisa na hierarquia do poder é o Grande chefe e não o tal do deputado.

A operação da Carne Fraca traz muitas lições. Que há fiscais em todos os níveis honestos, não ha dúvida alguma. E que há desonestos contra os quais os empresários não tem força para lutar ou preferem não lutar, não há duvida também . Não tem um empresário neste país que não foi uma vez na vida, ou  mais, ameaçado por um fiscal de qualquer natureza. E quantos os puseram aos tapas para fora, denunciaram, e quais entidades de classe denunciaram essas situações? E quantos que fizeram isso não foram ameaçados, inclusive com suas famílias, suas vidas e suas empresas destruídas. Em 2010, o então Presidente do Sindicato de indústria de carnes de Minas, Cassio Braga, denunciou essas situações. E o mesmo fez na Câmara de Indústria de Alimentação da FIEMG,  defendeu posições a favor da indústria e contra esses desmandos que agora apareceram. Mas, as entidades empresariais deveriam se posicionar mais firmemente contra esses e outros casos, como o de desastre de Mariana e o escândalo de carne podre em Minas, que está na justiça  de Juiz de Fora há dois anos, sem solução.

A passividade ou acomodação vai nos custar caro. A BRF tem como seu Presidente do Conselho, Abílio Diniz, e seu membro o ex-ministro Luiz Furlan. Nenhum dos dois veio explicar o que aconteceu. Deixam que as pequenas malandragens prevaleçam ao invés de assumirem perante o público e seus consumidores a responsabilidade. Errar  é humano, reconhecer erros e corrigir é a grandeza do homem. Eles a tem? A balela do ministro da agricultura de que ele vai continuar comendo carne brasileira é ridícula, porque o que ele e seus antecessores, entre os quais há mineiros, não fizeram é organizar esse setor e garantir, em primeiro lugar ao próprio brasileiro, e ao mundo, que tudo está em ordem.

Este episódio da Carne Fraca vai custar milhares de empregos, acabou com o mito de que o agronegócio era maravilha, vai afetar todo o setor agrícola e sua posição no mundo. Vai afetar nossas exportações de forma inimaginável. Perdemos a credibilidade, como há quase 90 anos, quando acharam pedras nas sacas de  café que exportávamos. Culpar os que mostraram o cancro pelo que aconteceu, e está acontecendo ainda em muitos setores, é não resolver o problema maior: entre nós ainda os desonestos, com seus métodos de trabalho obscuros, e de conhecimento muitas vezes de todos, prevalecem. E estão acabando, com a passividade e silenciosa conveniência de cada um, mas em especial do próprio empresariado, que aceita esses métodos como facilitadores de negócios, com o país . Há algo de podre além da carne.

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