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Thursday 19 June 2014

Dos emergentes em desenvolvimento

Na época da ditadura militar no Brasil, que aliás no mês de março próximo fará 50 anos que começou justamente em Minas Gerais, prendia-se a torto e a direito. Assim, prenderam um advogado que exigia prisão especial. Tinha direito, pela lei também desrespeitada a torto e a direito. O Coronel do exército onde o cidadão estava preso atendeu às reclamações do advogado. Na mesma cela imunda,  cheia de sangue na parede dos torturados, colocou na porta de fora a placa: Prisão especial. E mandou cobrir o preso de porradas para calar a boca.

Era o Brasil em desenvolvimento. Aliás, o Brasil tinha economistas e sociólogos  mundialmente famosos, como Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso, com suas teorias sobre o desenvolvimento. Ou nosso sub-desenvolvimento. E aí os banqueiros resolveram trocar, como o coronel, a placa: os emergentes, BRICS. E na última semana durante os dias maravilhosos que a elite econômica mundial passou em Davos, na Suíça, discutindo como melhorar o mundo no qual 85 trilionários, pessoas físicas, para não  termos dúvida,  possuem a riqueza correspondente a três bilhões de outros cidadãos comuns, mudaram a nossa placa de novo: países frágeis. India, Indonésia, Africa do Sul, Turquia  e nós, ex-emergentes. Aí, no meio do solo do discurso brasileiro, tentando convencer esse mundo maravilhoso de investidores estrangeiros de que o Brasil merece crédito porque temos uma administração  econômica maravilhosa, a vizinha Argentina desvaloriza a sua moeda e puxa o gatilho de uma crise nos mercados de câmbios dos ex-países em desenvolvimento, agora emergentes. E no meio dessa crise,  enquanto o  Banco Central turco tomavam  decisão de administrar a sua moeda à meia noite e reagia, os países  latino americanos, reunidos sob a égide da nova organização CELAC,  discutiam em Havana, tudo inclusive como Cuba é linda, com exceção da crise financeira que ainda não acabou.

Os Estados Unidos estão saindo da crise, o banco central norte-americano anunciou menos dinheiro barato para a economia e mais controles  sobre bancos, e a China, que está dando sinais claros de crescimento um pouco menor, continua sólida. A crise da Europa passou para os emergentes e o dinheiro vai fluir para os Estados Unidos, Europa e China, em menor escala. Por isso, por mais que se diga que nada temos a que ver com a  Argentina e a sua crise, o fato é que vai faltar dólar para cobrir as contas no Brasil. Os investimentos estrangeiros, mesmo com toda a conversa existente, estão secando. Veja quanto o setor automobilístico investiu, quanto de benesses recebeu e quanto remeteu. Só as autopeças são deficitárias em dez bilhões de dólares. E tem mais, a nossa fragilidade são as reformas política e fiscal, e a prioridade agora é a Copa, com  estádios. É, trocaram a placa mas o resto continua o mesmo.


Stefan B. Salej
30.1.2014.
 

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