Dos emergentes em desenvolvimento
Na época da ditadura militar no Brasil, que aliás no mês de março próximo fará 50 anos que começou justamente em Minas Gerais, prendia-se a torto e a direito. Assim, prenderam um advogado que exigia prisão especial. Tinha direito, pela lei também desrespeitada a torto e a direito. O Coronel do exército onde o cidadão estava preso atendeu às reclamações do advogado. Na mesma cela imunda, cheia de sangue na parede dos torturados, colocou na porta de fora a placa: Prisão especial. E mandou cobrir o preso de porradas para calar a boca.
Era o Brasil em desenvolvimento. Aliás, o Brasil tinha economistas e sociólogos mundialmente famosos, como Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso, com suas teorias sobre o desenvolvimento. Ou nosso sub-desenvolvimento. E aí os banqueiros resolveram trocar, como o coronel, a placa: os emergentes, BRICS. E na última semana durante os dias maravilhosos que a elite econômica mundial passou em Davos, na Suíça, discutindo como melhorar o mundo no qual 85 trilionários, pessoas físicas, para não termos dúvida, possuem a riqueza correspondente a três bilhões de outros cidadãos comuns, mudaram a nossa placa de novo: países frágeis. India, Indonésia, Africa do Sul, Turquia e nós, ex-emergentes. Aí, no meio do solo do discurso brasileiro, tentando convencer esse mundo maravilhoso de investidores estrangeiros de que o Brasil merece crédito porque temos uma administração econômica maravilhosa, a vizinha Argentina desvaloriza a sua moeda e puxa o gatilho de uma crise nos mercados de câmbios dos ex-países em desenvolvimento, agora emergentes. E no meio dessa crise, enquanto o Banco Central turco tomavam decisão de administrar a sua moeda à meia noite e reagia, os países latino americanos, reunidos sob a égide da nova organização CELAC, discutiam em Havana, tudo inclusive como Cuba é linda, com exceção da crise financeira que ainda não acabou.
Os Estados Unidos estão saindo da crise, o banco central norte-americano anunciou menos dinheiro barato para a economia e mais controles sobre bancos, e a China, que está dando sinais claros de crescimento um pouco menor, continua sólida. A crise da Europa passou para os emergentes e o dinheiro vai fluir para os Estados Unidos, Europa e China, em menor escala. Por isso, por mais que se diga que nada temos a que ver com a Argentina e a sua crise, o fato é que vai faltar dólar para cobrir as contas no Brasil. Os investimentos estrangeiros, mesmo com toda a conversa existente, estão secando. Veja quanto o setor automobilístico investiu, quanto de benesses recebeu e quanto remeteu. Só as autopeças são deficitárias em dez bilhões de dólares. E tem mais, a nossa fragilidade são as reformas política e fiscal, e a prioridade agora é a Copa, com estádios. É, trocaram a placa mas o resto continua o mesmo.
Stefan B. Salej
30.1.2014.
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